Oscilando entre R$ 3,70 e R$ 3,80 desde o primeiro pregão do ano, o dólar finalmente rompeu este piso nesta quinta-feira (31) com um mercado eufórico após a decisão do Fomc ficar ainda mais “dovish” que o esperado e também com a sinalização de que os militares entrarão na reforma da Previdência, o que pode facilitar sua aprovação.
Às 14h59 (horário de Brasília), o dólar comercial registrava perdas de 1,96%, cotado a R$ 3,6516 na venda. Se mantiver este movimento, será a maior queda diária da moeda desde 8 de outubro, quando desabou 2,35%, e seu menor patamar desde 24 de maio de 2018 (R$ 3,6483).
Mas a principal questão agora é: será que o dólar irá sustentar essas perdas? Para se ter uma ideia, desde que Jair Bolsonaro foi eleito, o dólar comercial fechou abaixo dos R$ 3,70 apenas quatro vezes.
Além disso, nas últimas semanas, muito se falou sobre a dificuldade da moeda cair e seguir a euforia dos recordes do Ibovespa por conta da ausência do investidor estrangeiro, que aguarda fatos mais concretos sobre as reformas. Mas isso pode estar começando a mudar.
Segundo o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, o dólar está próximo de romper o gatilho de reversão, em R$ 3,65, de sua tendência de longo prazo, que ainda é de alta. “Nas outras tentativas [de romper o gatilho], houve repique, mas é possível que agora, com fluxo maior, aposta na aprovação da reforma da Previdência e Fed dovish, o dólar finalmente caia em direção a R$ 3,50, nosso call desde a vitória de Bolsonaro”, diz em relatório.
Na última quarta, o Fed surpreendeu e foi além do tom dovish já esperado pelo mercado, removendo de seu comunicado a referência a altas graduais de juros, mostrando-se mais dependente de dados, falando ainda na intenção de ser paciente. Isso não só reforçou a manutenção dos juros este ano, como já começa a dar força para quem acredita que podemos ter um corte das taxas.
Em uma coletiva após o anúncio, o chairman do Fed, Jerome Powell, ainda afirmou que o Fomc seguirá “paciente” porque “a situação para subir o juro se enfraqueceu”. Ele também destacou a dificuldade de alguns países com a situação econômica, destacando a China, e comentou que pode encerrar antecipadamente a atual política de redução do balanço para mitigar riscos, como no caso de um Brexit sem acordo.
Outro fator que impulsiona o dólar e pode sustentar um movimento mais longo de queda é o aceno do governo à inclusão dos militares nas mudanças das regras para a aposentadoria. Se confirmado na proposta final, a inclusão dos militares deve facilitar a negociação da reforma da Previdência com o Congresso.
Paulo Guedes, ministro da Economia, recebeu ontem um grupo de prefeitos para falar sobre o assunto e disse que todos os servidores serão incluídos na proposta que será apresentada ao Congresso, inclusive os militares e os funcionários públicos estaduais e municipais.
Além das boas notícias, Faria destaca também fatores técnicos que podem explicar uma queda do dólar contra o real. Segundo ele, a moeda da Austrália tem forte correlação com a divisa brasileira e desde maio de 2017, com o “Joesley Day”, o real se depreciou de forma consistente contra o dólar australiano.
“Agora, para igualar a cotação, o dólar aqui deveria cair para abaixo de R$ 3,50, algo em torno de R$ 3,40”, afirma. Além disto, Faria diz que o CDS de 5 anos brasileiro está em torno de 170 pontos-base, indicando que a cotação atual do dólar também parece elevada.
“Assim, há motivos para acreditar que após o rompimento do nosso gatilho de reversão de longo prazo (R$ 3,65), o dólar entre em trajetória de queda de forma mais consistente”, conclui o analista.
Fonte: Infomoney
Créditos: Rodrigo Tolotti Umpieres