Enquanto o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indica não prorrogar o pagamento do auxílio emergencial, criado para ajudar famílias de baixa renda durante a crise econômica da pandemia do novo coronavírus, brasileiros planejam reduzir gastos e consumos ao longo do próximo ano.
Isso é o que revela levantamento publicado nesta terça-feira (15/12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os dados da pesquisa, intitulada “Retratos da Sociedade Brasileira”, mostram que cerca de 35% dos entrevistados pretendem consumir menos do que consumiam antes da pandemia.
Dessa parcela da população, 21% explicaram que vão reduzir o consumo porque a remuneração mensal caiu, ou deverá cair, e 24% relataram que estudam mudar certos hábitos depois da pandemia. No total, foram ouvidas 2.000 pessoas de 127 municípios entre os dias 17 e 20 de setembro deste ano.
A redução da intensão do consumo confronta com o fim do crédito do auxílio emergencial. No total, o governo pagou, desde abril, até cinco parcelas de R$ 600 e outras quatro de R$ 300. Não há previsão, contudo, para prorrogação do benefício – Bolsonaro disse que os pagamentos “quebram a economia”.
Diretora de relações institucionais da Rede Brasileira de Renda Básica, a assistente social Paola Carvalho assinala, no entanto, que a recusa do governo federal em não ampliar o pagamento do benefício é, na realidade, colocar o povo brasileiro em uma “situação de abandono”.
Ela ressalta que o número de casos de Covid-19 voltou a aumentar nas últimas semanas, o que exige novas medidas de contenção do vírus que podem abalar o país economicamente. Junta-se a isso o alto nível de desemprego no país: mais de 14,1 milhões de brasileiros estão desocupados.
“Nós não tivemos uma retomada econômica. Então, o governo interrompe o auxílio emergencial sem nenhuma outra ação ponto de vista propositivo. Isso é colocar as pessoas em uma situação de fome, de miséria e, talvez, de maior abandono já visto na história do Brasil”, afirma Paola Carvalho.
De acordo com a pesquisa da CNI, o uso mais frequente do dinheiro recebido através do auxílio emergencial do governo foi comprar alimentos, roupas, produtos de higiene, limpeza ou algum outro tipo de bem de consumo, assinalado por praticamente metade dos entrevistados (49%).
Outros 30% afirmaram que o principal uso do benefício foi o de pagar contas, como de água, energia elétrica ou gás. Já 18% afirmaram que usaram o dinheiro para pagar dívidas. Apenas 2% guardaram o dinheiro do auxílio e 1% disseram ter usado de “outra forma”.
A desempregada Beatriz Pereira, de 37 anos, tem sentido na pele a falta do auxílio emergencial – antes mesmo que o restante da população. Ela recebeu apenas uma parcela do benefício e foi cortada do pagamento em maio pelo governo federal. Hoje, tenta recuperar o dinheiro na Justiça.
“Estou desde maio brigando com o governo. Acionei a Justiça em 6 de setembro e tive a sentença em 29 de setembro. Quando foi 15 de outubro, a União recorreu. Aí teve outra sentença que ganhei em 19 de outubro. No dia 3 de novembro, a União recorreu de novo e, no dia 10, o juiz julgou novamente a meu favor, mas desde então ainda não vi o cumprimento dessa decisão”, detalha.
Ela está desempregada há quatro anos, após deixar o trabalho ao sofrer um princípio de infarto. Para piorar, os gastos aumentaram durante a pandemia. Beatriz precisou se mudar de Santos (SP) para a zona sul de São Paulo (SP), onde realiza tratamentos na hérnia umbilical e no coração.
“A minha garantia era esse auxílio emergencial. O governo parece dar prioridade para as pessoas que não precisam do auxílio. Eu preciso desse dinheiro para me manter”, conta. “Além disso governo me negou também, por três vezes, o auxílio-doença do INSS”, complementa Beatriz.
Análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que, em outubro, cerca de 4,75% dos domicílios (aproximadamente 3,25 milhões) sobreviveram apenas com os rendimentos do auxílio emergencial.
Apesar de não prorrogar o auxílio, contudo, o governo estuda aumentar o valor pago pelo programa Bolsa Família. Representantes de organizações sociais responsáveis pela Campanha Renda Básica que Queremos se reuniram no último dia 23 de novembro para apresentar proposta de Projeto de Lei Permanente.
“A gente tem um Congresso que, hoje, está muito focado na eleição dos seus presidentes. O projeto do Renda Cidadão tem por concepção ampliar muito pouco o que é hoje o Bolsa Família. Então, temos aí uma situação muito grave”, critica a assistente social Paola Carvalho.
Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba