No momento de contratar, o pequeno empreendedor geralmente se encontra sozinho, sem um departamento de recursos humanos que o ajude. Mas, seguindo algumas etapas, é possível conduzir esse processo com eficiência.
Antes de anunciar a vaga, segundo Eliana Germano, consultora do Sebrae, é bom ter uma visão clara sobre qual profissional é necessário, para evitar contratações com perfis inadequados para a função.
Parece óbvio, mas é um erro comum até mesmo nas grandes empresas, de acordo com Marcus Salusse, coordenador de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV.
A empresária Joice de Brito Teixeira, 24, que administra seis lojas de calçados da sua família, no interior de São Paulo, já enfrentou esse problema. “Nós não descrevíamos cargo a cargo, então, o que a gente cobrava de uma pessoa era função de outra”, afirma. A situação mudou depois que ela fez uma capacitação no Sebrae.
Na descrição da vaga devem constar as atividades que serão executadas e as habilidades necessárias para o cargo.
Para divulgar as vagas, as redes sociais são caminhos eficientes e baratos, mas as indicações ainda são muito valorizadas pelos empresários.
Germano alerta para o fato de que mesmo um candidato indicado por alguém de confiança ou próximo ao empreendedor deve passar por todas as etapas do processo seletivo.
A empresária Vanessa Ezar, 44, contou com a indicação de uma assistente social para contratar dois refugiados haitianos para a sua marcenaria, na zona leste de São Paulo, e afirma ter ficado muito satisfeita com o resultado. “Eles são comprometidos com o trabalho e aprendem rápido”, diz.
Germano recomenda que a busca por candidatos seja feita nos ambientes frequentados por pessoas com o perfil que a empresa deseja alcançar. Se a procura é por professores de educação física, vale colocar o anúncio em academias, clubes e parques.
A PDVend, empresa que desenvolve softwares de venda para o comércio, faz isso, anunciando oportunidades no Cubo, espaço do Itaú que reúne os interessados em empreendedorismo tecnológico.
“É um lugar interessante para nós, porque você encontra gente que quer trabalhar em startups”, diz Sávio Arruda, 32, diretor-executivo da empresa.
Depois de anunciar a vaga, as etapas seguintes são a análise de currículos e a entrevista. Para Germano, essa conversa funciona melhor se o entrevistador criar um ambiente agradável para o candidato, sem reprimi-lo.
Se o candidato sentir que está sob pressão, nervoso, suas respostas não serão naturais.
Na entrevista, Germano recomenda que o empregador pergunte como foi o dia do candidato até aquele momento, para descontrair e conhecer um pouco da sua rotina.
Também vale perguntar como ele tratou no passado situações que podem se repetir em sua nova função e pedir cartas de recomendação de antigos empregadores, aconselha Salusse.
Para cargos que exigem conhecimento técnico, uma etapa de testes após a entrevista ajuda a saber se o candidato sabe cumprir o que promete.
Sávio conhece a importância da fase prática. Os funcionários mais importantes —e caros— para a sua empresa são desenvolvedores de softwares, profissionais concorridos no mercado.
“Muitos desenvolvedores ruins ganham bem porque sempre trocam de empresa e valorizam seus passes. Então, se não fizermos testes, corremos o risco de contratar uma pessoa cara e que não atende as nossas expectativas”, diz.
Deixar claro o tipo de contrato que será firmado evita desentendimentos. Cabe ao empresário decidir se contrata um funcionário terceirizado, por CNPJ, ou se opta pela carteira assinada.
Dentro do que a lei permite, a terceirização pode reduzir os custos de uma empresa que está começando, diz Salusse. “Quanto mais flexível e enxuta você conseguir manter a empresa na fase de teste do modelo de negócio, melhor”.
A exceção, segundo ele, é para cargos de confiança ou que sejam responsáveis por parte importante do faturamento.
O empreendedor deve estar atento à legislação para não cometer irregularidades e ter de enfrentar um processo trabalhista mais adiante. Conversar com um contador ou consultor jurídico ajuda a dar segurança.
Conforme crescem, as empresas precisam de profissionais mais capacitados e experientes. Por falta de recursos, é comum que os pequenos não consigam contratar alguém com essas qualificações.
Uma saída é oferecer participação na empresa em troca de um salário mais baixo.
Segundo Raphael Falcão, diretor da recrutadora Hays, esse tipo de acordo entre funcionário e empregador era mais comum em empresas de tecnologia, mas agora já é visto em negócios de pequeno porte de outros segmentos.
Seguir todas as etapas da contratação diminui a chance de ter que demitir alguém logo depois do processo, um problema para o empresário e para o funcionário.
“Nós colocamos uma expectativa na pessoa e voltamos para a estaca zero. Temos que procurar alguém de novo e tudo isso leva tempo e atrapalha a empresa”, afirma Vanessa.
Caso a demissão seja necessária, o empreendedor deve ser rápido para evitar prejuízos maiores. Ser paternalista, dando muitas chances para quem não está indo bem no trabalho, não funciona, segundo Salusse.
Sávio diz que aprendeu a evitar esse erro em sua primeira empresa, que chegou a ter 16 colaboradores.
“Já contratei uma pessoa só por solidariedade, porque ela disse que precisava muito, mas depois ela me deu problemas, brigava com os outros”, afirma. “Temos que deixar o coração de lado e ser mais analíticos”.
PASSO A PASSO DA CONTRATAÇÃO
–Conheça a vaga e defina pré-requisitos Saiba todas as atribuições da função que demanda um novo funcionário e descreva as habilidades e conhecimentos que o colaborador deve ter
–Anuncie nos lugares certos Divulgue a vaga em redes sociais e também em locais com fluxo de candidatos em potencial, como faculdades, cursos e eventos profissionais
–Faça entrevistas Chame os melhores candidatos para uma conversa e pergunte sobre empregos anteriores e como lidariam com situações comuns no dia a dia da empresa
–Aplique testes práticos Principalmente para funções técnicas, eles são importantes para provar que o candidato atende às necessidades do negócio
–Avalie o desempenho Depois da contratação, acompanhe o novo funcionário, tente corrigir problemas e aja rápido caso ele não se encaixe na função
Fonte: UOL
Créditos: UOL