A pandemia fez disparar o número de vagas temporárias no ano passado. Empresas optaram por esse tipo de contratação como forma de se proteger em um cenário de insegurança econômica e dificuldade de planejamento, mesmo a curto prazo, com a disseminação do coronavírus e as medidas de isolamento social.
Foram pouco mais de 2 milhões de contratações temporárias no ano passado, um aumento de 34,8% em relação a 2019, quando foram geradas quase 1,5 milhão de vagas, de acordo com dados da Asserttem (Associação Brasileira do Trabalho Temporário).
O trabalhador temporário tem praticamente os mesmos direitos do efetivo, mas não tem aviso prévio, nem recebe a multa de 40% sobre o valor do FGTS, se for demitido sem justa causa. O contrato pode durar por até seis meses, prorrogáveis por mais três meses.
Ele é contratado por meio de uma agência para atender necessidades pontuais, para substituir um trabalhador fixo ou quando há aumento da demanda, por exemplo.
A MMP, empresa de material pedagógico com 25 funcionários, contratou quatro trabalhadores temporários em dezembro. A diretora Talita Mazzi afirma que não costumam contratar nessa modalidade, mas optaram por esse tipo de vínculo diante da insegurança, já que naquele momento não havia previsão ou confirmação de quando ocorreria a volta das aulas presenciais em diversas cidades.
“Preferi ser um pouco cautelosa, até para não contratar [sem ser temporário], e ter que dispensar depois”, conta.
A aposta, porém, deu certo, e a empresa vai efetivar os quatro temporários, além de abrir outras quatro novas vagas efetivas.
De acordo com os dados da Asserttem, 15% dos temporários, em média, são efetivados. Durante a pandemia, porém, esse número subiu para 22%, no segundo semestre.
Indústria teve mais casos
Marcos de Abreu, presidente da Asserttem, afirma que 2020 começou com um bom número de vagas, com o aquecimento econômico gerado pelo verão e também os bons resultados da safra agrícola. Entre março e abril, porém, com a chegada da pandemia, todos os temporários foram cortados, segundo ele. A situação começou a melhorar a partir de maio, mas teve uma alta significativa a partir do segundo semestre.
Esse aumento, de acordo com o presidente da Asserttem, foi muito puxado pela indústria, que teve uma demanda inesperada, principalmente em alguns setores, como de eletrodomésticos e alimentos, já que as pessoas passaram a ficar mais em casa, além da área de saúde, obviamente.
“O boom do ano passado foi a partir do segundo semestre, quando a indústria foi pega de surpresa, não tinha produtos para entregar, porque teve um desequilíbrio no consumo, e não tinha quadro de pessoal porque de abril para frente eles demitiram ou reduziram a carga horária, e ainda houve o pessoal infectado que foi afastado”, conta.
Farmacêuticas buscaram mais temporários
O crescimento do número de vagas temporárias não foi puxado apenas por empresas que optaram por esse tipo de vínculo em vez do tradicional. Alguns setores tiveram crescimento da demanda por causa da pandemia, precisando reforçar o quadro por alguns meses.
O mais evidente deles é o de saúde, já que a procura por remédios e outros produtos relacionados disparou na pandemia. Segundo Evelyse Gonçalves, gerente nacional de staffing (pessoal) da consultoria de recursos humanos Adecco, o setor foi o que mais demandou temporários.
A farmacêutica Blau, por exemplo, que tem cerca de 1.390 funcionários, contratou 79 temporários no ano passado, tendo efetivado 29 deles.
“O aumento na quantidade de contratações temporárias deu-se pelo crescimento significativo da produção por conta da pandemia e também por afastamentos decorrentes da situação”, afirma a empresa.
Outros setores que abriram vagas foram e-commerce, entregas, alimentos, produtos de higiene e tecnologia, com o crescimento do home office, segundo Evelyse Gonçalves.
Atendimento precisou ser reforçado
Na companhia de energia elétrica CPFL, a contratação de temporários começou no meio de 2020. Foram 400 trabalhadores, principalmente em funções de atendimento, como telemarketing. Em anos anteriores, os temporários acabavam sendo contratados de forma pontual, para cobrir licenças, como maternidade e saúde, por exemplo.
“A contratação de colaboradores temporários teve como foco suprir o aumento temporário da demanda de atendimento ao público que surgiu por causa da pandemia, com o crescimento do isolamento social, fechamento das agências e aumento de solicitações digitais por parte dos clientes”, conta Rodrigo Ronzella, diretor de Recursos Humanos da CPFL Energia.
Ele afirma que parte desses profissionais foi efetivada, e há planos de outras efetivações.
Tempo das contratações também aumentou
O prazo médio de contratação temporária na indústria, em anos normais, é de três meses, com o maior volume entre agosto e outubro, parando entre novembro e dezembro, meses em que a maior contratação de temporários ocorre no comércio, para atender a demanda de final de ano. Em 2020, isso mudou.
“A indústria passou lotada, inclusive nas festas. Não houve redução de contratação de temporários na indústria. A indústria, sem ter certeza se aquela demanda iria continuar, prorrogou os contratos. Vamos terminar no final de janeiro, quando a indústria terá que efetivar esse pessoal, ou demiti-los”, afirma Marcos de Abreu.
Ele afirma, porém, que 2021 deve, novamente, ser um ano com grande número de contratações temporárias.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba