"Não sou economista"

Bolsonaro admite intervenção nos preços da Petrobras


“Não sou economista, já falei”, diz presidente, que reconhece ter pressionado estatal a não reajustar diesel em 5,7% por temor de uma nova greve de caminhoneiros. Ações da Petrobras operam em queda após interferência.O presidente Jair Bolsonaro admitiu nesta sexta-feira (12/04) que pressionou a Petrobras a cancelar um reajuste de 5,7% sobre o preço do diesel. Na quinta-feira, a estatal havia anunciando que aumentaria o preço do combustível, mas recuou horas depois.

No ano passado, quando ainda era pré-candidato à Presidência, Bolsonaro parabenizou caminhoneiros durante greve da categoria

Mesmo admitindo a intervenção, Bolsonaro disse que não se considera “intervencionista” e que não deseja repetir “as políticas que fizeram no passado”.

“Liguei pro presidente, sim. Me surpreendi com o reajuste de 5,7%. Não vou ser intervencionista e fazer práticas que fizeram no passado, mas quero os números da Petrobras, tanto é que na (próxima) terça-feira convoquei todos da Petrobras para me esclarecer por que 5,7% de reajuste, quando a inflação desse ano tá projetada para menos de 5%”, disse Bolsonaro, segundo o jornal o Estado de S. Paulo.

“Se me convencerem, tudo bem, se não me convencerem, tudo bem. Não é resposta adequada para vocês, não sou economista, já falei. Quem entendia de economia afundou o Brasil, tá certo? Os entendidos afundaram o Brasil”, completou o presidente.

A decisão de Bolsonaro voltou a colocar em dúvida as credenciais liberais propagandeadas pelo governo e desanimou o mercado, que teme que a empresa passe por um novo processo de intervenção sistemática nos preços, tal como ocorreu no governo Dilma Rousseff – uma política que causou prejuízos bilionários para a estatal.

Após o anúncio de que a Petrobras havia cancelado o reajuste, as ações da empresa passaram a operar com queda de 8%.

Na manhã desta sexta-feira, o vice-presidente, Hamilton Mourão, tentou tranquilizar o mercado afirmando que a ordem de suspender o aumento do preço do combustível foi pontual.

“Julgo que é um fato isolado, justamente pelo momento que estamos vivendo. Acredito que o presidente está buscando a melhor solução para equacionar o problema”, disse o vice em entrevista à rádio CBN.

A decisão de Bolsonaro foi influenciada pela pressão dos caminhoneiros. No ano passado, eles organizaram uma greve que emparedou o governo do então presidente Michel Temer, que se viu obrigado a subsidiar por um semestre o valor do diesel para encerrar a paralisação. À época, Bolsonaro, que ainda era pré-candidato à Presidência, parabenizou os caminhoneiros pela paralisação.

Após Temer intervir nos preços, o então presidente da estatal, Pedro Parente, deixou o comando da Petrobras.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro também sinalizou que a situação dos caminhoneiros pesou sobre a sua decisão. A categoria vinha ameaçando realizar uma nova greve este ano após o programa de subsídio instituído por Temer ter chegado ao fim.

Se tivesse ocorrido, o reajuste de 5,7% teria sido o maior desde que Bolsonaro assumiu o cargo. Desde 1° de janeiro, a maior reajuste do diesel havia sido o de 23 de fevereiro, quando o combustível subiu 3,5%.

“Estou preocupado também com o transporte de cargas no Brasil, com os caminhoneiros. São pessoas que realmente movimentam as riquezas, de norte a sul, leste a oeste, e que têm que ser tratados com devido carinho e consideração. Nós queremos um preço justo para o óleo diesel”, disse Bolsonaro.

Em comunicado, a Petrobras justificou o recuo informando que “há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste no diesel”.

No fim de março, a Petrobras havia anunciado que pretendia reajustar o preço do diesel com intervalo mínimo de 15 dias. Em 2017, antes da greve dos caminhoneiros, a estatal vinha adotando uma política que permitia reajustes diários. À época, a medida ajudou a recuperar a saúde financeira da empresa, mas desagradou aos caminhoneiros.

Fonte: Terra
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