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A fragmentação do mercado cripto e seu impacto em todas as moedas digitais

A fragmentação do mercado cripto e seu impacto em todas as moedas digitais

O tempo passa e o mercado de criptomoedas no Brasil não deixa de crescer. De acordo com dados da CoinMarketCap, o valor de mercado total das criptos ultrapassou US$ 1 trilhão em 2023, mesmo diante da volatilidade vista em todo o mundo e de eventuais oscilações econômicas.

Porém, todo esse avanço também revelou um dos maiores problemas do setor: a fragmentação do mercado cripto. Diferentes blockchains, protocolos e soluções emergiram, criando barreiras de interoperabilidade que dificultam, por exemplo, a transferência de ativos de uma rede para outra.

A maioria dos brasileiros armazena seus ativos em carteiras de criptomoedas, o que podem simplificar o processo de entrada no mercado. No entanto, o usuário se depara com a diversidade de redes e precisa entender como cada blockchain funciona antes de efetuar transações ou selecionar uma carteira definitiva.

Esse cenário fragmentado, ou seja, com muitas opções e termos, afeta todas as moedas digitais e é preciso buscar soluções para reverter esse quadro.

Dimensão do mercado cripto no Brasil e a fragmentação

O Brasil está entre os países com maior adesão a criptoativos na América Latina. Segundo a Receita Federal, mais de 12 milhões de brasileiros já declaram possuir alguma quantidade de criptomoedas. Esse número engloba não apenas investidores, que sem dúvida, são a maior parte, mas também pessoas físicas.

Cada vez mais as moedas digitais são vistas como potencial de longo prazo, como reserva de valor e até como meio de pagamento alternativo. O aumento na adoção de criptomoedas no país também está alinhado ao ambiente regulatório cada vez mais definido no país. Em 2022, foi aprovada a Lei n.º 14.478, que estabelece regras para esse mercado no Brasil.

Embora ainda exista espaço para regulamentações mais específicas, as discussões em curso demonstram o interesse do governo em garantir maior segurança para investidores e em estimular a inovação tecnológica no setor. A fragmentação do mercado, no entanto, acontece quando cada blockchain opera de maneira isolada.

Isso dificulta a comunicação entre redes e aumenta a complexidade das transações. Desse modo, um criptoativo que tenha sido emitido na rede Ethereum, por exemplo, não pode ser enviado diretamente para a Binance Smart Chain (BSC) ou para a rede Solana sem o uso de pontes (bridges) ou conversões específicas.

Esse fenômeno vai além da simples compatibilidade de carteiras. Ele cria uma espécie de “ilhas tecnológicas” onde cada projeto precisa lidar com plataformas, padrões e comunidades totalmente diferentes. Para o usuário final, isso implica, entre outras coisas, em custos mais elevados.

Ao precisar atravessar múltiplas redes, aumentam as taxas de transação, conhecidas como gas fees, e outras tarifas de conversão. Também há a baixa liquidez para tokens em redes menos populares. Ou seja, em blockchains menores, a liquidez costuma ser menor, o que pode gerar volatilidade mais acentuada e maior risco para quem quer negociar em grandes volumes.

O usuário acaba tendo de usar diversas ferramentas ou interfaces para gerenciar seus ativos, abrindo brechas para erros, golpes e perdas financeiras.

Impacto na liquidez, na volatilidade e na adoção

A fragmentação também repercute na liquidez geral dos criptoativos. Se uma moeda digital está disponível em apenas uma ou duas redes, seu público potencial diminui, afetando o volume de negociação. Consequentemente, ela pode se tornar mais suscetível à volatilidade, pois qualquer grande movimentação de compra ou venda pode gerar mudanças de preço abruptas.

Segundo relatório publicado pelo Banco Central do Brasil em 2023, a volatilidade de certos tokens utilizados em projetos DeFi (finanças descentralizadas) chegou a variar mais de 80% em um intervalo de poucas semanas. Grande parte desse comportamento pode ser associado a liquidez insuficiente e à dificuldade de transpor ativos para redes mais robustas, que costumam ter volume de negociação maior.

A adoção em massa das criptomoedas depende de um ambiente simples e seguro, onde usuários sem grande conhecimento técnico possam transacionar e armazenar seus ativos sem maiores problemas. Contudo, a fragmentação atual do ecossistema gera alguns obstáculos importantes para esse público.

Para começar, exige uma curva de aprendizagem longa. Um iniciante precisa entender as diferenças entre Ethereum, Polygon, Solana, BSC, entre outras redes, para poder operar com confiança. Interagir com pontes entre blockchains também implica riscos adicionais. Hackers podem se aproveitar de vulnerabilidades para roubar fundos durante a conversão de um token em outro.

Além disso, grandes empresas que buscam implementar soluções de pagamento ou criar seus próprios tokens tem mais dificuldade de integração devido aos padrões fragmentados. Isso desestimula projetos que poderiam alavancar o uso mainstream das criptomoedas no Brasil.

Possíveis soluções e interoperabilidade

Para superar esse cenário, empresas e desenvolvedores estão focados em soluções de interoperabilidade. O objetivo é permitir que blockchains diferentes “conversem” entre si de maneira mais fluida, garantindo uma experiência mais unificada para os usuários. Os rollups, por exemplo, permitem que transações sejam “agrupadas” fora da blockchain principal, reduzindo congestionamentos e taxas.

Essas soluções podem ser executadas sobre redes como a Ethereum, ampliando a escalabilidade. Já as sidechains funcionam como blockchains paralelas, conectadas à rede principal, mas com regras próprias de consenso. Dessa forma, é possível criar ambientes especializados que resolvem necessidades específicas.

Mantendo, ainda assim, a comunicação com a rede maior. E também há as pontes confiáveis (bridges seguras). Projetos vêm se dedicando a criar mecanismos mais robustos de transferências entre blockchains, reduzindo riscos de invasões e simplificando o processo de conversão de ativos para solucionar a questão da fragmentação.