Não é o caso de criar pânico, ainda mais que não houve uma atuação irretocável de qualquer dos outros tradicionais candidatos ao título. A Espanha teve excelentes momentos em boa parte de sua estreia, mas mostrou vulnerabilidades; a Alemanha foi superada claramente pelo México durante 45 minutos; a Argentina não teve ideias diante da marcação islandesa; a França, de tantos valores individuais, foi coletivamente pálida contra a Austrália.
Mas é também inegável que, diante da expectativa que a própria seleção criou com sua trajetória recente, foi decepcionante o desempenho por mais da metade do jogo com a Suíça. O que coloca a comissão técnica diante de um delicado desafio: no Brasil, atuações abaixo do esperado em Copas são propícias a pressões externas por mil mudanças. A tarefa, no entanto, é administrar as dúvidas que o jogo suscitou, avaliar ajustes, mas sem sinalizar com uma revolução que gere insegurança no time. Não é para tanto.
Desde sempre, fala-se que era possível ajustar a seleção com Philippe Coutinho como meia. E o gol ajuda a provar que vale a pena tê-lo ali, tamanha a capacidade técnica. Mas com a ressalva de que a formação gera inconvenientes. Ontem, em grande parte do jogo, a Suíça sobrava fisicamente no meio-campo. Porque é natural que falte vigor, presença física. Seja para pressionar o adversário quando este passou longos períodos movendo a bola, seja para enfrentar o choque, seja para cobrir porções grandes de campo quando a Suíça pressionou, e bem, no campo do Brasil. A seleção passou dois terços do jogo sem o contragolpe, em tese, sua especialidade. Entre outras coisas, porque faltava a retomada da bola em condições que expusessem a Suíça. O time era superado no centro do campo e a partida era jogada no capo defensivo brasileiro, longe da zona onde sobram ao time de Tite jogadores influentes.
Foi intrigante ver um jogo em que a seleção pegou suas virtudes e defeitos e virou do avesso. Era consensual que o time tem certa dificuldades para superar uma defesa fechada mas, uma vez aberto o marcador, se via cômodo para contra-atacar. Afinal, nos sobram jogadores velozes e hábeis. Contra a Suíça, o Brasil foi o oposto.
O time moveu a bola com inteligência até abrir o placar. Não surgiu do nada o chute de Coutinho, marca registrada dele, mas de uma trama já característica pelo lado esquerdo, com Marcelo, Neymar e o próprio Coutinho. A partir daí, esperava-se um Brasil deslanchando, aproveitando os espaços. Mas o time se apagou. Talvez porque não fosse agressivo para o desarme, porque perdesse disputas ou, ainda, por outro fator importante a destacar: quando se fala em físico, o de Neymar também se mostrou abaixo. Não suportou o jogo de forma uniforme. Mas tende a crescer.
A seleção nem permitia tantas finalizações perigosas à Suíça, a pressão pareceu estéril por boa parte do tempo. Mas o time penou para sair jogando sob pressão. Não encontrava linhas de passe para chegar novamente ao ataque e se ver diante de uma defesa mais aberta. De tanto a bola rondar a área do Brasil, saiu o gol, após falta de Zuber em Miranda, diga-se.
Mas olhando o contexto da Copa, com atuações pálidas de times de alto nível, há outros fatores a pesar. Além do físico após a sempre dura temporada europeia, o desgaste também é mental. Some-se à tensão da estreia, e foi possível ver também um Brasil menos concentrado após seu gol. Sem contar que o futebol de hoje tem menos espaços no campo e menores distâncias entre melhores e piores no universo das seleções.
E é fato, ainda, que individualmente, o Brasil colecionou atuações abaixo da média: Willian oscilou, Gabriel Jesus jogou mal, Paulinho também. E Neymar foi muito bem marcado.
Mas não estamos diante de um desastre. A seleção soube enfrentar uma defesa mais fechada no início, mostrou o poder de seu lado esquerdo de ataque e, no fim, viu a entrada de Renato Augusto dar mais vigor ao centro do campo. O Brasil pode ganhar uma opção.
E o fundamental: no fim do jogo, quando o resultado satisfazia os suíços, a seleção voltou a mover a bola contra um rival fechado, soube trocar passes e criar ótimas chances de gol. Num momento em que, em tese, o nível de tensão e pressão era maior. Com todos os percalços do jogo, o time criou situações até para vencer. Pode ser um sinal para o futuro.
Outro detalhe: costumamos ignorar o adversário que está do outro lado ao analisar tropeços da seleção. E a Suíça não é mais apenas força, retranca, o ferrolho do clichê mais tradicional. Tem técnica, jogadores que frequentam ligas importantes e fez ótima partida. Não era mesmo para ser fácil. Não significa que Tite não possa pensar em ajustes. O erro seria desprezar a estrutura de time que se criou. A seleção só não precisa é de uma revolução após o primeiro tropeço.
Fonte: O Globo
Créditos: O Globo