As novas páginas escritas têm feito o significado da palavra sororidade ecoar na literatura
Não existem fórmulas prontas para que um legado seja criado e deixado no mundo. Os caminhos são diversos, é possível plantar uma árvore, ter um filho, ganhar um prêmio reconhecido ou escrever um livro. As mulheres estão se unindo cada vez mais para que os seus propósitos sejam mais férteis através da escrita. Com o afeto de mães, a cumplicidade de irmãs e o estímulo natural que vem das amigas, elas têm feito o significado da palavra sororidade ecoar na literatura.
Carol Campos é formada em Letras e trabalhou em três consulados diferentes, mas sonhava com uma reviravolta na carreira. “A escrita era realmente uma fonte de paz, era onde eu me refugiava. Sempre tive, desde pequena, o sonho de trabalhar com a escrita e não sabia nem por onde começar. Eu não tinha fé de que a palavra poderia ser um caminho profissional para mim”, conta.
Depois de participar de muitos – muitos mesmo – cursos teóricos, Carol se matriculou na Oficina de Escrita com Ana Holanda. “Ela era, para mim, quase uma entidade, nem tinha coragem de me aproximar, mas me encontrei naquela escrita tão acolhedora”, conta a aluna que, de tão assídua, nas aulas presenciais e remotas – quando os encontros tiveram que ser reformatados por conta da pandemia – teve a participação questionada em um novo curso. “Fui aluna em todos os cursos até o dia em que Ana me disse: sua escrita já existe, você já encontrou sua voz. Só te falta coragem”.
No mesmo dia, mudou a descrição do seu perfil no Instagram. Assumiu seu lugar de escritora. No final do ano de 2020, morando em Ubatuba, no interior de São Paulo, Carol dormiu insatisfeita por perceber que seu filho, na época com 5 anos, não se via representado na literatura infantil. Levantou decidida a escrever uma nova história. Assim nasceu Duas Mamães, seu primeiro livro infantil publicado pela Semente Editorial. “Ana me fez entender que não é só o Saramago que é escritor. Sou eu, ela e as mulheres que nos acompanham. Dali em diante, comecei a me ver como uma mulher escritora. Sempre achei importante a escrita ser esse espaço onde você se posiciona, mas com afeto, com cuidado”.
Do elo criado para compartilhar textos produzidos no Clube de Escrita liderado por Ana Holanda, brotou um outro coletivo chamado Palavreira em Flor. “Somos seis mulheres de cidades diferentes que não se conheciam. A seis mãos – 12 porque a gente digita – vamos lançar nosso primeiro livro”, celebra a agora escritora e redatora Carol Campos, feliz com a mudança de carreira aos 45 anos. Quatro Paredes, Oito Estações chega ao mercado pela editora Ases da Literatura e reúne contos, crônicas e poemas sobre a vida das autoras ao longo da pandemia.
E as palavras seguem brotando com abundância, regadas com generosidade. Com o projeto Pé de Palavra, elas fazem leituras críticas, mentorias de escrita e seguem encorajando outras pessoas a despertarem para o prazer da leitura e a desabrocharem através das palavras.
Fazer um livro não é só escrever
Cruzar a fronteira do Jornalismo para se enxergar escritora também exigiu coragem de Ana Holanda. Com 25 anos de experiência na produção e edição de textos, a diretora de conteúdo da revista Vida Simples teve que dar um salto de fé para nascer autora. “As técnicas jornalísticas, a estrutura textual, o exercício de escuta e do olhar ajudaram, mas a autorialidade veio com o tempo e veio com a escritora”, comenta.
O primeiro livro, Minha Mãe Fazia, reúne crônicas e receitas que navegam por memórias afetivas. O segundo, Como se encontrar na Escrita é um guia para novos autores no processo de construção das palavras regadas também a afeto. Ana Holanda é uma especialista de mão cheia na arte de ensinar e inspirar. Mais do que compartilhar conhecimentos, ela dá as mãos e conduz novos escritores rumo à primeira publicação. “Essa é muito minha função há sete anos, desde que lancei os cursos. Fazer com que elas percebam a escrita como uma possibilidade… que se percebam capazes de escrever algo que interessa e toca o outro”.
Fazer um livro não é só escrever, é um processo inteiro que vai desde a ideia até a impressão. Na visão dela, o que interessa não são os prêmios nem estar com o livro no bolo de noiva – aquela prateleira central – das grandes livrarias. “O maior retorno é ser lido e causar algum tipo de impacto nas pessoas. É sobre provocar identificação com a história e transformar a vida do outro. Para mim esse é o maior legado de um escritor”, revela Ana Holanda.
Publicar é só o começo
Uma coisa é certa. Quem quer viver de escrita é via de regra ser amante da leitura. A carioca Rachel Agavino é apaixonada por livros desde criança. Aos 11 anos, já rabiscava os primeiros contos e poesias. Na escola, era a revisora oficial das redações dos colegas. Quando teve que escolher uma profissão, escapou do Jornalismo por pouco. Foi lendo um guia de carreira, de ponta a ponta, que encontrou a profissão dos sonhos já quase no final, na Letra P: Produção Editorial.
Já trabalhava em uma das maiores editoras do país, era responsável pela edição de autores como Paulo Coelho e Dan Brown, mas não estava feliz. “Eu tinha um valor no mercado editorial, mas passei por muitos processos. Queria ter mais tempo para meus filhos e percebia que podia dar uma contribuição maior para tantas pessoas que produzem conteúdo de qualidade trabalhando fora da editora”.
Assim nasceu O Livro Aberto, uma empresa de consultoria, coaching e mentoria focada na escrita. Das centenas de pessoas que já participaram das suas aulas, palestras, cursos, lives, mais de 40 estrearam na cena literária. Tudo Eu, primeiro livro lançado nesta nova fase foi um marco para a fertilidade do projeto. “A autora era Elisama Santos, uma empreendedora criativa de Feira de Santana. Na época, uma estagiária da Record comprou o livro, gostou e apresentou à editora. Hoje, ela já tem outros três livros lançados pela Record”, vibra Agavino.
Nem sempre é fácil conquistar um lugar no concorrido mercado literário. São muitas editoras, de todos os portes, mas o número cada vez maior de pessoas dispostas a lançar um livro faz com que a concorrência seja grande. Muitos e bons projetos acabam sendo recusados. “É preciso ter muita resiliência para lidar com os nãos, com as palavras de desestímulo até dos amigos e familiares e as críticas”, adianta a experiente editora que emenda com outro alerta importante: publicar é só o começo!
Como já escreveu Carlos Drummond de Andrade, o trabalho é 1% inspiração e 99% de transpiração. Além do texto final do autor, o processo de produção de um livro envolve outras competências e profissionais como diagramadores, revisores, designers, capistas. “As grandes editoras pagam 10% de royalties em cima do preço de capa do livro para o autor porque as livrarias ficam com uma porcentagem e o que fica para a editora tem que cobrir todas despesas envolvidas na produção, inclusive a impressão”, explica.
Quem pensa em lançar um livro e pretende que ele seja lido, além do círculo de amigos, precisa investir em novos aprendizados. Entender o mercado editorial, como funcionam os direitos autorais, buscar outras formas de publicação caso não tenha o projeto aceito por uma editora e aprender sobre marketing. “Esse processo começa com o entendimento de que o livro é um produto. Estando ou não em uma editora, o autor precisa ter em mente que precisa divulgar muito e que pode não ter o retorno financeiro esperado. Às vezes, tem até despesa. Mas, se o livro é um sonho, se existe uma mensagem que você quer deixar, você vai seguir seu propósito e deixar sua marca no mundo”, incentiva Rachel Agavino.
Fonte: Assessoria
Créditos: Polêmica Paraíba