O ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou a afirmar em uma entrevista para a rádio Jovem Pan que o governo não quer que algumas crianças com deficiência estudem na mesma sala de outros alunos. “Nós não queremos o ‘inclusivismo’, criticam essa minha terminologia, mas é essa mesmo que eu continuo a usar”, disse ele. A fala gerou polêmica e discussões sobre o tema.
Danilo Ferro Oliveira é pai do Lucas, uma criança com autismo. Assim como muitos, ele enfrenta as dificuldades existentes na educação brasileira para atender alunos com algum tipo de necessidade especifica. “A ideia atual de inclusão é enfiar todo mundo junto, na mesma sala de aula, e dizer para o professor que é responsabilidade dele fazer uma aula na qual todos aprendam, sem qualquer tipo de adaptação para os alunos da educação especial”, relata. As escolas brasileiras foram feitas para os alunos se adaptarem ao modelo oferecido por elas e não o inverso. Com essa dinâmica, as crianças especiais sempre saem perdendo.
Mas para o então ministro da educação, a solução desse problema é simples: criar escolas e classes especializadas para o atendimento dessas crianças. Dessa forma, as pessoas que precisam de uma assistência maior para aprendizagem devem ir a um estabelecimento e as que não precisam a outro. “Nós não queremos o ‘inclusivismo’“, ele afirmou. Se essa moda pega, escolas regulares podem, por exemplo, rejeitar a matrícula de alunos especiais com a justificativa que aquele não é o lugar adequado a ela e que já existe um centro próprio para as necessidades que a pessoa apresentar.
Algumas pessoas acreditam, como o ministro, que esses centros especializados ajudariam no desenvolvimento das crianças especiais. Mas não é isso que a psicopedagoga Ivone Aparecida Pereira enxerga como solução. Para ela “a solução não é separar. A solução é investir. Não é tirar os alunos das escolas regulares, é equipar as escolas regulares com os profissionais necessários e capacitados para poder lidar com as especificidades desses alunos”, afirma.
Danilo também concorda que a solução não é segregar, mas adaptar. “Precisamos de uma equipe pedagógica preparada para adaptar o currículo e as atividades educacionais às necessidades dos alunos e não de tentar forçar os alunos com deficiência a se adaptarem ao currículo e às formas de atividades propostas”. Contudo, como muitas instituições no Brasil, as escolas precisam de políticas públicas para fornecer formação consistente e séria aos agentes educacionais.
O investimento em estudo, pesquisa, formação, preparo e comprometimento para capacitar os profissionais educadores depende muito da postura de líderes como a do ministro da educação. A segregação, a criação dos “centros especializados”, além de não resolver o problema da falta de acessibilidade das escolas, também não é garantia de eficácia. “Temo que, com a instituição dos “Centros especializados”, muitas crianças já incluídas no sistema regular de ensino, sejam vistas como pessoas que atrapalham o processo como se estivessem ocupando um lugar que não é seu”, afirma Ivone.
A psicopedagoga defende que a interação de crianças especiais com crianças sem deficiência é fundamental para o desenvolvimento de ambas. “A diferença humaniza, desinstala, ensina… As crianças vão modulando o seu comportamento na relação com os seus pares, mas ao mesmo tempo, entendem as diferenças como algo enriquecedor”.
Antes de segregar, é necessário investir em psicólogos, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, políticas públicas, dentre outros para auxiliar na adaptação de alunos especiais. Inventar palavras como “inclusivismo” é apenas para dar uma conotação negativa à luta da inclusão de alunos especiais. Incluir e proporcionar ensino de qualidade a crianças com deficiência é uma lei, não uma ideologia. O dinheiro investido em “centros especializados” pode ser usado para melhorar a educação como um todo e para todos.
Fonte: Jornal Opção
Créditos: Jornal Opção