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Enem 2020: estudantes e instituições pedem o adiamento do exame

A realização da prova está prevista para o mês de novembro

Mesmo diante de todo o caos que o país e o mundo estão passando por causa da pandemia da Covid-19, que ocasionou na suspensão das aulas de todas as modalidades de ensino, o Ministério da Educação (MEC) decidiu manter a data a aplicação da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 para novembro.

Com a pandemia do novo coronavírus, muitos estudantes não estão conseguindo manter a rotina de estudos. Isso pode acarretar notas baixas por conta da falta de preparo e da mudança de rotina que o vírus trouxe para os candidatos. Mesmo assim, eles se dedicam durante todo o ano para obter a melhor nota na prova e garantir uma vaga na faculdade. Para muitos, o Enem é o vestibular mais importante a ser feito, pois o exame dá acesso às universidades de ensino superior de todo o país e, também, em Portugal.

Com o isolamento social, as atividades presenciais foram suspensas e, atualmente, somente as aulas on-line estão sendo realizadas. No entanto, esse formato de estudo não tem sido suficiente para ajudá-los. Além disso, nem todos os alunos têm acesso às tecnologias digitais, o que impossibilita a continuidade dos estudos.

Até mesmo os que têm oportunidade de estudar com os recursos disponíveis na internet reconhecem que outros estudantes podem ser prejudicados, caso a data da prova seja mantida. Thais da Silva é uma delas. Aos 18 anos, a estudante baiana que frequentou a escola pública desde a 5ª série pretende fazer vestibular para Arquitetura e Urbanismo.

“Não estou fazendo isso por mim, estou fazendo pelas pessoas que estão nas suas casas e que não têm a oportunidade de ter um estudo digno. Pessoas que não têm livros ou até mesmo internet. Pessoas que mal sabem o que está acontecendo direito no mundo por não terem fontes de informação dentro da própria casa”, afirma a estudante que, após concluir o 3º ano, continuou os estudos fora da escola através da internet, mas ainda assim, endossa o discurso pelo adiamento.

Na quarta-feira, 13, servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) se uniram a outras organizações para solicitar a suspensão do calendário da prova.  A carta produzida por profissionais do Inep foi encaminhada para o Ministério Público Federal e Congresso Nacional.

Contudo, as inscrições para o Enem 2020 continuam abertas até o dia 22 de maio. As provas estão marcadas para os dias 1º e 8 de novembro, na modalidade presencial, e 22 e 29 de novembro, na versão digital. Em contrapartida, estudantes, professores, artistas e várias personalidades aderiram à hashtag #AdiaEnem nas redes sociais. Entre os argumentos utilizados pelo grupo, está a dificuldade que os estudantes estão enfrentando para manter os estudos em casa, principalmente aqueles que frequentam a escola pública.

Somado a esse movimento, está o #ParalisaEaD. No twitter, o termo já conta com várias publicações. Além de problemas de concentração e dificuldade no acesso à internet, os estudantes apontam a ansiedade, e o próprio medo de contaminação, como causas que impedem a efetividade do ensino a distância.

EAD na pandemia

Para cumprir o calendário de atividades escolares, o Conselho Nacional de Educação (CNE) disponibilizou as orientações necessárias para que professores e coordenadores pudessem estruturar um novo cronograma letivo. Porém, quando são analisados fatores como a desigualdade social brasileira e o acesso aos meios digitais e à internet é possível perceber que nem todos os alunos são contemplados com as tecnologias digitais.

Quem concorda com esse ponto de vista é a engenheira Érica Batista. Formada em Engenharia Civil e fundadora da Minerva Projetos, ela lembra de como foi difícil conquistar a vaga, obtida através da prova do Enem, e se manter na universidade.

“Em relação ao conteúdo, no meu primeiro trimestre da faculdade vi que os assuntos que eu deveria ter aprendido no ensino médio, eu nem vi. Tive que aprender para acompanhar as matérias de cálculos e física. Enquanto isso, os alunos da minha turma, 90% de escola particular, tinham estudado o conteúdo na escola”, conta a engenheira que estudou em escola pública e percebeu o quão distante estava dos seus colegas de sala.

Como bolsista, Érica percebeu que o abismo que existia entre os alunos do contexto público e privado era grande até em casa. “Eu não tinha ambiente para estudar em casa, eu chegava 1h mais cedo na faculdade ou saia mais tarde pra estudar na biblioteca. Aqui em casa é pequeno, não tem espaço pra estudar, fora que é muita gente conversando, assistindo TV, tira a concentração”, compartilha.

Conhecendo bem o cenário da educação pública no Brasil, ela acredita que esses estudantes podem sofrer ainda mais por conta dessas circunstâncias. “Os alunos de escola pública serão os mais prejudicados caso o Enem ocorra na data programada. Com a suspensão das aulas, esses alunos não terão condições de estudar por conta própria. Quem estuda ou estudou em escola pública sabe o quanto de conteúdo que não é visto no ano letivo”, diz, ao defender o adiamento do exame.

Fonte: Assessoria
Créditos: Polêmica Paraíba