A ausência em massa de chefes de sala e fiscais para a aplicação da prova de agente da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), no último domingo (22/8), teve o baixo pagamento oferecido pela banca organizadora como principal motivo para as desistências desses colaboradores. O Metrópoles conversou com alguns deles, que dizem que o problema pode se repetir no futuro, caso a remuneração não aumente.
As pessoas ouvidas na reportagem preferiram não se identificar com medo de retaliações. Uma delas é uma mulher que trabalha desde 2018 como chefe de sala, fiscal ou ledora — aquela pessoa que lê a prova para o candidato com alguma necessidade especial. Segundo ela, a insatisfação é algo crescente: “Participo de alguns grupos, e a reclamação é grande. No meu caso, tudo aumentou desde que comecei, mas os valores continuam os mesmos”.
No caso da prova da PCDF, organizada pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), um fiscal recebia total líquido de R$ 86, e o chefe de sala, R$ 95. O colaborador tinha de chegar às 10h45, mas apenas um lanche era oferecido, sem almoço. “Não vale a pena financeiramente, só quem precisa muito mesmo que está indo. Se descontar gasto com passagem de ônibus ou gasolina e uma refeição para levar, a pessoa fica com R$ 60 para passar 10h de um domingo dentro de sala”, comenta a mulher.
Para ela, a recusa de comparecimento no concurso da PCDF pode ser apenas o começo, caso a situação não melhore. “A quantidade de trabalho de um chefe de sala, a responsabilidade em conferir se tudo está certo, a pouca alimentação e o valor pago não estão compensando. A tendência é que cada vez menos pessoas aceitem”, prevê.
Por causa da baixa adesão, o Cebraspe passou a enviar diversos convites a quem tem cadastro com a entidade. No dia da prova da PCDF, pessoas ainda eram chamadas para trabalhar no certame.
Outro colaborador conta que recebeu cinco convites só no domingo. “Mandaram links de formulário, coordenadores entraram em grupos pedindo indicações, mas nada disso adiantou. O valor oferecido ainda é pago em 15 dias úteis”, detalha.
Uma terceira pessoa ouvida, que trabalha desde 2006 em concursos, reclama sobre a ausência de reajuste. Segundo ela, o valor chegou a aumentar por volta de 2015/2016, mas depois caiu. “O valor é irrisório, e o lanche que dão ainda é horrível. Já tinha muita gente reclamando, mas sempre tinha alguém para aceitar”, destaca.
A reportagem teve acesso a conversas em grupos de WhatsApp e do Facebook, na quais os voluntários relataram a insatisfação. Também pediram para aqueles que pudessem recusar que continuassem dando a negativa para forçar melhoras no pagamento.
Para este fim de semana, estão previstas mais duas provas em Brasília: a da Procuradoria-Geral do DF (PGDF), organizada novamente pelo Cebraspe, e o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), sob responsabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O Metrópoles teve acesso ao valor oferecido a um chefe de sala para a prova da PGDF. A proposta foi de R$ 99 de valor líquido, R$ 4 a mais do que o pagamento da semana anterior.
Quem for trabalhar pela manhã, na prova de analista jurídico, precisa estar no local às 5h. Caso trabalhe nos dois turnos, que contempla também o teste para o cargo de técnico jurídico, pode receber R$ 200, mas deve ficar no local, no mínimo, até as 18h30, horário do fim do segundo concurso.
O Encceja oferece R$ 75 por turno ao chefe de sala neste ano. Na última aplicação, em 2019, o valor pago foi de R$ 90 na mesma circunstância. O “fiscal volante”, que recebia R$ 75, passa a receber R$ 55.
O que dizem as bancas citadas
Procurado, o Cebraspe enviou uma nota:
“O Cebraspe informa que avalia periodicamente a remuneração dos colaboradores eventuais, considerando jornada de trabalho e função, a fim de manter um valor competitivo para a execução do trabalho, e reforça seu compromisso em continuar realizando essas análises e fazendo os ajustes necessários, quando for o caso”.
A Fundação Getúlio Vargas informou que “responderá posteriormente”.
Fonte: Metrópoles
Créditos: Metrópoles