A pandemia do novo coronavírus multiplicou os desafios da educação em Rondônia e adicionou problemas para quem tem o sonho de ingressar no ensino superior, como é o caso de Noêmia Sampaio de Castro, de 44 anos, moradora de Porto Velho. Ela passou 14 anos sem estudar e atualmente, junto com os filhos adolescentes, usa um tablet para assistir vídeo-aulas.
Os três se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que teve as provas marcadas para janeiro e fevereiro de 2021. Noêmia sempre estudou em escola pública e acompanha as aulas gratuitas do cursinho Pré-Enem Municipal, ela deseja cursar psicologia.
“No início foi bem difícil, pois não tínhamos acesso à internet. Quando conseguimos um Wi-Fi emprestado da minha irmã só tínhamos um celular. E além dos meus filhos que tem que estudar pro Enem, tenho uma adolescente que está no nono ano e também precisa pra assistir as aulas dela. Fizemos um esforço e consegui comprar um tablet”, comenta Noêmia.
As dificuldades para lidar com a nova realidade também são sentidas no distrito de Extrema (RO), Mariana Costa Fratari, de 16 anos, está terminando o 3° ano do ensino médio e se prepara para o Enem através de cursos gratuitos online.
Ela se sente privilegiada em ter computador e internet em casa, que neste momento é considerado o básico para continuar estudando.
“Essa crise evidencia cada vez mais a desigualdade social e econômica entre diferentes grupos de estudantes, sejam de escolas públicas, privadas ou que já concluíram o ensino médio”, diz Mariana.
A autocobrança e a pressão pela produtividade — mesmo em meio a uma pandemia — traz ainda mais inquietações a jovens como Isabelle Rodrigues Ubiali, que pretende cursar medicina e Ana Beatriz Reis que tem relações internacionais e direito como opções de curso. Ambas apresentam dificuldades para manter o foco e estudar em casa. Até Gianluca Pessoa, de 16 anos, que fará o Enem como treineiro se cobra por um melhor desempenho.
“Não me sinto tão preparada para a prova, como poderia estar?”, se questiona Ana Beatriz.
Do outro lado do processo de ensino-aprendizagem, os professores precisam de muito empenho e esforço diário para se adaptarem a nova didática. Com as aulas à distância, a docente de História Elis Oliveira, teve de aprender a editar vídeos, áudios, programar transmissões, agendar postagens, manusear softwares e alterar hardwares para melhor adequar a casa e equipamentos à nova rotina.
A professora já encarou mais de 100 dias letivos em quarentena, entre uma aula e outra surgem as incertezas perante o avanço da doença, número de mortes e vários decretos do Governo que exigem preparo emocional.
“Não é qualquer educação que devemos construir e precisamos reconhecer que a educação à distancia, no Brasil, ainda não inclui todas as pessoas. A educação é, como a muito tem provado, o sopro de liberdade e alegria para jovens de tantas idades e realidades. É nossa responsabilidade compreender os diversos desafios que este novo momento nos exige. Mas, apesar de todas as dificuldades, em meio a tantas dores, a tantas mortes e tristezas, acreditar na educação é o que me mantém com esperanças”, acredita Elis.
O professor de biologia, Samuel Soares, também divide as angústias da profissão. Para ele, a pouca qualidade da internet que os estudantes e docentes têm acesso é um fator limitante. Isso aliado ao cansaço de alguns alunos que estão, também, correndo atrás do sustento entre outras coisas.
Enem 2021
Perguntados sobre a próxima edição do Enem, os professores entrevistados pelo G1 criticaram o Ministério da Educação (MEC) por propor uma enquete para saber a “opinião popular” sobre a data do exame, e na contramão do resultado escolheram janeiro para aplicação das provas.
“O Enem, neste cenário, precisa ser muito bem refletido, não apenas em suas datas, como ainda em seu significado e valor para a sociedade. Longe de mim apontar o caminho perfeito, mas talvez a solução não esteja exatamente na data e nem na prova, e sim na reflexão das bases do novo modelo educacional brasileiro. Muita coisa mudou e será que estamos pensando nas soluções para os novos problemas ou encontrando caminhos para um mundo que não existe mais?”, destaca Elis.
Fonte: G1
Créditos: G1