
Paraíba - O Carnaval de João Pessoa, entre final da década de 1970 e início da de 1980, viveu forte crise de identidade. Foi a época em que mais cresceram nas ruas da cidade as tropas de meninos e meninas armados de bombas feitas de canos plásticos, a esguichar água em tudo o que é carro que passasse, estivesse o motorista metido ou não com festa, o que incluía ônibus lotados de passageiros. Era apenas um sintoma. À época, os clubes já não atraiam a juventude, em busca de mais liberdade e curtição, que somente seriam encontrados nas folias de Olinda, Recife e Salvador. Os modelos desses carnavais, com seus blocos de arrasto e muito amor para dar, não era exatamente o que se via no carnaval de rua em João Pessoa, onde até o corso se perdera. Sem novidades e mais investimentos, sozinhos, os desfiles de blocos tradicionais também já não serviam como atrativo à juventude, ansiosa por mais espaço e mais envolvimento. As grandes colunas de frevo, dos anos 1930, continuavam sem servir de exemplo. Em 1980, no limiar da década, surgiu a ideia da Banda de Tambaú, com forte inspiração na Banda de Ipanema, do Rio, criada em 1965, e no Galo da Madrugada, do Recife, que surgiu em 1978. O pai da ideia foi o jornalista e ativista cultural Wills Leal, e o dia escolhido para o desfile da banda foi o Sábado de Carnaval, não por acaso o mesmo em que desfilava a Banda de Ipanema e o Galo. Contudo, a Banda de Tambaú não teve seguimento efetivo. Até acoplaram as propostas de mudar o desfile de blocos tradicionais e de reviver o corso, na praia. Não colaram. Assim, o carnaval de rua em João Pessoa continuava desatualizado, em desfavor da cidade. Enfim, uma iniciativa fortuita daria início, na segunda metade da década de 1980, a uma transformação radical no carnaval pessoense, expressada pelo bloco Muriçocas do Miramar e pelo Folia de Rua. Aí, tudo mudou completamente.
Cátia de França, na abertura do Folia de Rua 2025.