
Sou católico praticante, não por imposição familiar que me levou, quando criança, à pia batismal da Igreja da Matriz, no Rio de Janeiro, mas por minhas próprias convicções acumuladas ao longo de mais de sete décadas de vida, de experiências, livramentos e aprendizado com a palavra de Cristo Jesus. Sinto-me mais leve ao ajudar o próximo e deixar alguém feliz.
Segundo os preceitos do catolicismo, estamos às vésperas da Quaresma, que se inicia amanhã, na Quarta-Feira de Cinzas, “período de preparação para a celebração da Páscoa que é marcado por práticas de penitência, como jejuns e obras de caridade, durante um período de 40 dias que estende-se até a Sexta-Feira Santa”.
Aliás, sou do tempo em que a Sexta-feira da Paixão tinha um profundo significado para as famílias brasileiras, uma data sagrada em que as rádios modificavam a programação e executavam apenas músicas sacras ou eruditas, em respeito ao Senhor morto.
Durante a minha infância, na casa da Cesário Alvim, a prática do jejum ia muito além da proibição de comer carne, alimento banido do cardápio desde a véspera. As casas noturnas não funcionavam; restaurantes fechavam mais cedo e os bares não abriam porque não se consumiam bebidas alcoólicas. Era um ato espontâneo do povo cristão, solidário ao sacrifício daquele que veio ao mundo para nos ensinar o amor ao próximo e a receita de viver plenamente.
Em consonância com os costumes desses novos tempos, quando as relações humanas estão cada vez mais imediatistas, deterioradas e superficiais; quando o ódio e a intolerância prosperam com as pessoas agindo com os nervos à flor da pele; quando a violência intimida o direito de andar nas ruas e passear nas praças, a Igreja Católica promove a Campanha “Fraternidade e Ecologia Integral” que será lançada nesta Quarta Feira de Cinzas durante a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na sede da entidade, em Brasília (DF).
- “Lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos àqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses, de estender o nosso amor a todo ser vivo, vencendo fronteiras e superando as barreiras da geografia e do espaço e cuidando do meio ambiente e da ecologia de modo integral pela preservação da raça humana”, disse o Papa Francisco antes de ser internado no Hospital Gemeli, em Roma, onde ainda permanece em estado preocupante para os seus 88 anos, sob rigorosos cuidados médicos.
Mas é o Sumo Pontífice quem nos ensina a melhor forma de vivenciar a Quaresma e permanecer fiel aos ensinamentos do Criador. Segundo o Papa, há outras formas bem concretas e eficientes de cumprir esse período litúrgico do que a abstenção dos prazeres, arrependimento dos pecados, a dedicação a oração e a caridade. - O mais importante é fazer o jejum de palavras negativas, de descontentamento, de raiva e pessimismo; de julgar as pessoas; de intrigas e “fofocas”; de queixas, de amarguras e de tristezas; nesses quarenta dias a penitência mais eficaz será a compaixão, o perdão, a tolerância, a conciliação e a reconciliação. É retirar do nosso coração todas as mágoas e rancores e guardar apenas o amor e a compaixão em nossos corações.
Amém, e que Deus nos abençoe a todos.