O padre José Ribamar Nunes Rocha, 51 anos, encontrou o amor na Igreja. E não foi apenas nos braços de Deus. Ele se apaixonou por uma fiel da paróquia que comandava, a Nossa Senhora de Nazaré, na QI 1 do Lago Sul. O sentimento mudou o rumo de sua vida e o fez largar a Igreja Católica Apostólica Romana.
Hoje, o sacerdote exibe orgulhoso a aliança dourada símbolo de um sacramento, o matrimônio. Há 10 anos, Ribamar achou algo divino em Elaine Sarkis, 53 anos. Os dois se conheceram quando ele ainda era pároco e ela uma mulher casada, mas, garantem, só concretizaram o envolvimento quando ele deixou oficialmente a Igreja e ela o primeiro marido.
Se Deus é amor, Ele não deve condenar o líder religioso por ter abandonado a instituição para se casar. “Deus é essa ligação que nós temos”, define Ribamar. Ele não deixou de ser padre, apenas se desvinculou da Igreja Romana. Hoje, atua na Igreja Católica Brasileira, sem qualquer impedimento ao matrimônio de seus sacerdotes, e é corretor de imóveis – trabalha em sociedade com Elaine Sarkis na imobiliária da família dela, de sobrenome amplamente conhecido em Brasília.
A princípio, familiares dos dois, extremamente católicos, estranharam a relação. “Não foi fácil. Claro que gera uma reação. As pessoas diziam ‘como assim você vai ser a mulher do padre?’”, relata Elaine. Em seguida, houve um processo de aceitação. “Todos ao redor conhecem a nossa seriedade, o nosso amor. O preconceito foi desconstruído. Somos sinceros, honestos e transparentes”, diz Ribamar.
O romance virou assunto até em jornais e revistas, que especulavam sobre a vida amorosa do líder religioso, um dos mais populares em Brasília no início dos anos 2000. Ribamar tinha fama de conquistador. Entre as histórias sobre ele que correram Brasília, dizia-se que o padre tinha um caderninho com o nome de todas as fiéis com quem havia tido encontros.
Também falavam que o quarto dele, na casa paroquial, possuía isolamento acústico por motivos nada sagrados. Na verdade, o dormitório ficava muito perto do aeroporto e precisava de algo para abafar o barulho dos aviões. “Claro que isso magoa, mas o que eu poderia fazer? Processar todo mundo? De todo o mal, Deus tira um bem maior”, acredita.
Quando Ribamar se mudou para Roma, em 2003, para fazer um curso pela Igreja, uma revista publicou que o afastamento seria decisão da arquidiocese, para abafar as fofocas. “Nada disso existiu. Fui selecionado com outros 20 padres do mundo todo para estudar em Roma. Eu era o único brasileiro”, orgulha-se.
Nessa época, ele e Elaine já trocavam e-mails e cultivavam admiração mútua. Pouco depois de voltar da Europa, em 2006, ele pediu desligamento da instituição. No ano seguinte, casou-se com ela. “Algo me faltava, eu queria muito dividir a vida com alguém”, lembra.
O padre admite ter sentido atração por outras mulheres antes de Elaine, mas nega todos os boatos, que considera absurdos. Também o criticavam pela proximidade com políticos. Ribamar era um dos principais conselheiros de Joaquim Roriz quando ele era governador do DF bem como de outros poderosos. “Tudo que se dizia sobre mim era um escândalo fabricado para atingir o governador. Os jornais queriam chantageá-lo por dinheiro, então atacavam qualquer pessoa ligada a ele”, afirma.
Ribamar afirma nunca ter se metido com política. “Aconselhava Roriz sobre questões espirituais, a respeito de casamento e família”, diz. A relação com o ex-governador tornou-se mais distante com sua saída da Igreja Católica Romana. Mas o padre não se afastou do poder. Celebrou o casamento da senadora Kátia Abreu, em fevereiro de 2015, e o de uma das netas de José Sarney, recentemente.
O sacerdote bota fé no casamento. Já realizou mais de 1.800 uniões e, sempre ao lado da mulher, orienta casais na paróquia São Miguel Arcanjo e Santa Filomena, em Sobradinho. Eles mantêm um projeto chamado Casal 10. “A gente só ama aquilo que conhece de perto. Hoje, posso aconselhar as pessoas com mais propriedade sobre as alegrias e tristezas de uma relação a dois”, afirma Ribamar.
“Tenho vocação para a vida religiosa e também para o casamento. São os dons que Deus me deu” (Padre Ribamar)
Para ele, a Igreja não deveria proibir que padres tenham vida amorosa e constituam família. “Celibato não é uma instituição divina. Trata-se de questão financeira, a paróquia não poderia sustentar a mulher do padre, os filhos dele. Mas um sacerdote poderia ter um emprego, como eu tenho”, relata o líder religioso. No futuro, ele acredita que essa proibição deixará de existir e todo amor será abençoado.
“Nunca quis depender financeiramente da Igreja, também por isso me distanciei” (Ribamar).
Fonte: Metrópoles