O mundo recebeu com grande tristeza e perplexidade, nesta sexta-feira, mais um “fim do mundo” em Minas Gerais. Os protagonistas da devastação são os mesmos (ou a mesma grande Vale). A nova anunciada tragédia (o estouro de mais uma barragem de rejeitos de minérios), colheu trabalhadores e toda a população em Brumadinho – MG em plena hora do almoço, cobrindo e arrastando vidas da forma mais criminosa e covarde! A lama tóxica acumulada em reservatórios gritava ameaçadora aos quatro ventos que se libertaria a qualquer momento para mostrar ao planeta toda a sua capacidade destruidora!
Em suas casas e nas ruas as pessoas se olhavam incrédulas ao mesmo tempo que não desgrudavam os olhos da tela das TVs, como se tudo fosse surpreendentemente absurdo! Surpresa nenhuma. A tragédia estava apenas adormecida aguardando o momento certo para arrastar casas, pessoas, arvores e principalmente vidas – de gente e de bichos!
Além da dor pelas perdas irreparáveis e pelos prejuízos ambientais e econômicos incalculáveis, onde mais um rio foi praticamente destruído pela irresponsabilidade e a ganância humana, vem o desalento de se confirmar a total falta de vergonha de empresários e demais autoridades que negligenciam e seguem impunes para ganhar mais dinheiro!
Com as caras mais deslavadas e destituídas de qualquer culpa, diretores e autoridades acorrem para lamentar, adotar providências e retirarem de forma vergonhosas os “seus” da reta! É muito cômodo falar com jornalistas e se dizerem estarrecidos com tanta tragédia e que estão prontos para dar toda a assistência as famílias desamparadas e desesperadas (pelo menos as que ficaram ilhadas enquanto amigos e parentes eram arrastados pela lama fétida e perigosa armazenada a cerca de três anos, quando da primeira tragédia de Mariana quando a SAMARCO conseguiu destruir o Rio Doce ceifando 19 vidas humanas, arrastando e destruindo, também, tantos sonhos!
Mas afinal quem se importa? Foram apenas 19 mortes! Basta indenizar os que ficaram (e não precisa ser agora), construir uma cidade novinha para os que restaram e a vida continua! De forma crua e desprovidos de qualquer sentimento, os culpados prosseguem em sua caminhada insana e destruidora – tal qual seus produtos venenosos e letais – parecendo tão imunes quanto impunes!
A verdade é que nesse pais sempre houve liberdade para matar por que desde há muito somos conhecidos como o pais da impunidade! A prova dessa impunidade é tanta que ninguém desconhece que realmente somos o pais que mais mata jovens, em sua maioria negros, mulheres e pratica-se a pedofilia e os estupros em plena luz do dia, tendo a certeza de que basta livrar o flagrante e ter um bom advogado para ficar tudo bem! Essa é sem dúvida uma das maiores tragédias brasileiras – a de matar sem culpa e sem castigo – seguindo-se as tragédias do desmatamento, de chacinas pela posse de terras de pequenos proprietários, de índios e outras minorias.
Até o momento a tragédia de Córrego do Feijão em Brumadinho, não conseguiu contabilizar seus mortos. A Vale, a terceira maior empresa do pais, é a responsável por mais um grande desastre em Minas e sabe que o momento é crítico e que os olhos do mundo estão sobre o Brasil e sobre ela, mas também sabe que logo isso passará incólume e então será possível prosseguir e quem sabe, destruir outros rios, outras matas, outras vidas!
Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton