Nelson Teich foi colocado no lugar de Luiz Henrique Mandetta para fazer diferente. Se fosse para defender isolamento social e responsabilidade no front de batalha contra o coronavírus, Jair Bolsonaro não teria trocado a tripulação do Ministério da Saúde em plena viagem ao precipício.
Com quase um mês no cargo, Teich, como especialista em saúde, não se desviou do caminho de Mandetta. Sob seu comando, o governo assistiu ao agravamento da pandemia, com a disparada de mortes diárias e a confirmação do fracasso na operação de compra de respiradores no mercado internacional.
As falhas no trabalho da Saúde deveriam cair na conta de Mandetta e Bolsonaro, que não tiveram a capacidade de trabalhar em conjunto para encontrar respiradores no mercado internacional. Mais do presidente do que do ministro da Saúde, é claro, porque o Planalto teria força para atuar na linha de frente, se não tivesse perdido tempo provocando a China, principal mercado de insumos de saúde na pandemia.
Teich chegou com os erros já cometidos. Seus efeitos foram sentidos, no entanto, na sua gestão e a ele coube o sacrifício de anunciar que o país teria de se virar para produzir os respiradores que fazem tanta falta e que não chegarão na velocidade necessária.
Teich também passou a ser refém de Bolsonaro na Saúde. Sem autonomia para nomear seu secretário-executivo, viu o presidente, do seu gabinete no Planalto, mandar um general do Exército assumir o trabalho na pasta, controlando decisões administrativas e atuando como interventor. Uma situação constrangedora, para dizer o mínimo.
A última do processo de boicote palaciano contra Teich foi divulgar, no horário em que o ministro dava a tradicional coletiva de imprensa, a medida de relaxamento do isolamento social para academias, salões de beleza e barbearias. “Não passou, não é atribuição nossa. Isso é atribuição do Presidente da República”, disse o ministro.
Fonte: VEJA
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