
O STF formou maioria hoje para não afastar os ministros Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Flávio Dino, questionados pelas defesas no julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados por tentativa de golpe de Estado.
O que aconteceu
STF analisa quatro recursos diferentes. A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro pediu o afastamento de Dino e Zanin; a do ex-ministro Braga Netto, o de Moraes, e a do general da reserva Mário Fernandes, o de Dino.
Oito ministros já votaram para rejeitar os pedidos das defesas: Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Dias Toffoli, Edson Fachin e Cármen Lúcia.
Moraes, Dino e Zanin não votam nas ações em que são alvo. Logo, o placar é de 7 a 0 pela rejeição em cada uma delas (Moraes, por exemplo, não pode votar na ação em que ele é alvo, e assim por diante). Há maioria em todos os casos, e não é mais possível que o placar seja revertido em favor das defesas.
Ainda faltam os votos de Luiz Fux, André Mendonça e Nunes Marques. Eles podem inseri-los no sistema até amanhã, às 23h59. O julgamento acontece no plenário virtual da Corte.
Maioria acompanhou o entendimento do relator dos casos, o ministro-presidente Luís Roberto Barroso. No voto, ele diz que, para o recurso ser aceito, a defesa teria de apresentar “demonstração clara, objetiva e específica da parcialidade do julgador”.
A atuação anterior de magistrados não pode fazer pressupor que deixarão de cumprir a lei em razão de suas associações pretéritas […]. Tal cogitação apequena o papel do Poder Judiciário e dos seus juízes, como se estes agissem com tibieza [fraqueza] e de forma influenciável. Raciocinando de modo mais amplo, um médico que trabalhou em um hospital fica impedido para atuar em um concorrente? E os advogados que eventualmente emitiram juízos de valor sobre pessoas ou fatos e depois alteram suas opiniões? Ficariam eticamente impedidos de atuar?Luís Roberto Barroso, ministro do STF, em voto contra recurso de denunciados por tentativa de golpe de Estado
Defesas argumentaram que ministros deveriam ser impedidos de votar. A justificativa deles é que Moraes não poderia julgar o caso porque seria uma das vítimas, que Zanin já foi advogado do presidente Lula (PT) e que Dino entrou com queixa-crime contra Bolsonaro enquanto era governador do Maranhão, em 2020.
Os pedidos já haviam sido negados anteriormente por Barroso, em fevereiro. As defesas recorreram, e o ministro-presidente decidiu submeter as decisões aos demais ministros.
Como a denúncia pela tentativa de golpe está sendo analisada na Primeira Turma do STF, esta é a primeira vez que os ministros André Mendonça e Nunes Marques, indicados por Bolsonaro, podem se manifestar sobre o caso. Os participantes do “núcleo 1” da tentativa golpista, incluindo Bolsonaro, são acusados de cinco crimes: organização criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Próximo passo
Denúncia vai a julgamento na próxima semana, em três sessões. O colegiado formado por Moraes, Dino, Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux vai se reunir na manhã do dia 25, e na manhã e à tarde do dia 26 para decidir se aceita ou não a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República). Durante a sessão, a PGR e as defesas dos denunciados devem ser ouvidas. Depois disso, os ministros apresentarão os votos.
Nessa leva, será julgada a denúncia contra Bolsonaro, ex-ministros e cúpula militar. Além do ex-presidente, integram esse grupo de denunciado os ex-ministros Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Anderson Torres (Justiça), além do ex-comandante da Marinha Almir Garnier e do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que à época era diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Caso a denúncia seja aceita, eles se tornarão réus.
UOL