Toda vez que você tem uma gripe ou resfriado, os ossos da face ficam inflamados. Você pode sentir desconforto e peso facial, congestão nasal, e ainda terá de lidar com alguma secreção. Esse mal-estar tem prazo de validade, e passa no período de 3 a 5 dias, sem que você precise de ajuda médica para se recuperar.
Mas pode ocorrer que isso não aconteça. Os sintomas persistem e até se agravam: você sente dores nos dentes e atrás dos olhos; o muco se tornou amarelado ou esverdeado, há tosse e cansaço. Estes são alguns dos sinais que indicam a presença da sinusite.
A doença afeta 1 em cada 8 pessoas em todo o mundo e é a 5ª causa mais frequente do consumo de antibióticos. Os dados são da AAO-HNSF (Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço). A boa notícia é que dá para prevenir as crises, reduzir o número de crises e suas intensidades e ainda evitar que ela se torne crônica.
Por que isso acontece?
A sinusite decorre de um quadro inflamatório dos seios paranasais (os ossos que rodeiam os seus olhos, a maçã do rosto e a testa). A doença pode se manifestar de forma aguda (aparece de repente e tem curta duração) ou crônica (se prolonga por mais de 3 meses), e suas principais causas você vê a seguir:
Sinusite aguda:
- Alergia respiratória alta – afeta as vias áreas superiores;
- Infecção por vírus – gripe ou resfriado, causados especialmente pelo Rinovírus ou Influenza;
- Infecção por bactérias – o mais comum é o pneumococo Hemophilus influenzae.
Sinusite crônica:
Aqui, os fatores relacionados podem ser múltiplos. Confira:
- Ambientais – exposição a poluentes, inalantes químicos, tabagismo;
- Anatômicos – desvio do septo nasal, estreitamento da cavidade nasal e da drenagem dos seios paranasais;
- Sistêmicos – alergia, redução da imunidade, doenças que alterem o sistema de limpeza natural das secreções dos seios paranasais;
- Doenças associadas – asma, alergia etc.;
- Bactérias;
- Fungos – o mais comum é o Aspergillus.
Quem precisa ficar mais atento?
Qualquer pessoa pode ter sinusite. Contudo, as mais suscetíveis a ela são as que têm alergia respiratória, fumantes e os que estão expostos a gases tóxicos e poeira em excesso.
Conheça outros grupos com maior risco para o problema:
- Idosos;
- Bebês;
- Imunodeprimidos (pessoas com doenças que reduzam as defesas do corpo contra infecções);
- Usuários de corticoides;
- Pessoas com diabetes;
- Pessoas com alterações estruturais nasais (como o desvio de septo).
Aprenda a identificar os sintomas
Independentemente da idade, os sintomas são semelhantes. Entretanto, idosos e crianças podem ter febre e queda no estado geral. Crianças pequenas também apresentarão febre associada com a dificuldade para mamar, além de infecções de ouvido (otite). Além disso, você pode observar os seguintes sinais:
- Obstrução nasal;
- Secreção nasal ou faríngea espessa, amarelada ou esverdeada;
- Tosse;
- Cefaleia (dor de cabeça);
- Mal-estar;
- Cansaço;
- Irritação na garganta;
- Redução do olfato.
Quando procurar ajuda médica
Caso os sintomas persistam por mais de 5 dias, procure um médico. O otorrinolaringologista é treinado não só para avaliar e tratar a doença, mas, em especial, identificar em quais casos a resolução para o problema deve ser cirúrgica.
Importante saber que adiar a consulta e tentar automedicar-se pode dificultar o tratamento e ainda desencadear graves consequências, informa Fabiana Gonçalez D’Ottaviano, mestre em otorrinolaringologia pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo responsável pelo Centro Médico 13 de Outubro, em São Paulo.
“A depender da extensão do processo infeccioso, o não tratamento pode ter como resultado o avanço da inflamação para as estruturas próximas aos seios da face, levando a complicações neurológicas, ósseas e orbitárias (cavidades dos ossos da face)”, adverte a médica.
Como é feito o diagnóstico
Ele é realizado por meio do exame físico e da avaliação baseada na sua história clínica. O médico também poderá realizar, em seu consultório, um exame chamado nasofibroscopia —que ajuda a identificar se há ou não secreção no nariz advinda dos seios da face, ou mesmo observar alguma alteração anatômica local que favoreça a instalação ou a perpetuação do processo inflamatório.
Nos casos em que a sinusite é recorrente, ou seja, se repete, ou quando há complicações, e até quando a sinusite se torna crônica, o especialista poderá indicar a realização de tomografia computadorizada dos seios da face, assim como de ressonância magnética.
Saiba como é o tratamento
Ele dependerá da causa e do tipo da sinusite, mas a lavagem nasal diária é medida essencial, considerada de primeira linha junto à terapia com remédios.
Quando a sinusite for do tipo alérgica, o médico tem à sua disposição medicamentos antialérgicos nasais e sistêmicos. Já nos casos virais, ele poderá sugerir o uso de anti-inflamatório, soro nasal, fluidificantes, bem como o aumento da ingestão de líquidos e repouso.
Na hipótese em que a sinusite é bacteriana, a solução é o antibiótico, associado a alguns dos medicamentos acima descritos.
Além disso, quando se trata de sinusite crônica ou fúngica, é comum que o tratamento seja associado a procedimentos cirúrgicos. O objetivo é melhorar a drenagem dos seios da face, sua limpeza ou permitir a coleta de material para cultura. Caso o paciente não responda ao tratamento clínico, o que é referido pelos médicos como paciente refratário, a intervenção cirúrgica também pode ser útil.
O uso do antibiótico é sempre necessário?
Esse tipo de medicamento é indicado apenas nos casos em que a sinusite decorra de infecções bacterianas comprovadas pelo médico. Saiba que em mais de 8 em cada 10 casos a sinusite aguda tem causa viral.
“Se os sintomas, a princípio, forem muito intensos, e o paciente teve a melhora inicial esperada mas, depois, piorou, é possível que se trate de uma contaminação bacteriana e o antibiótico deverá, sim, fazer parte do tratamento”, esclarece Paulo Mendes Jr., médico otorrinolaringologista do Centro da Rinite do Hospital IPO – Curitiba/PR.
Ao identificar os primeiros sinais e sintomas, atente-se à evolução deles para ser capaz de relatar suas queixas ao médico da forma mais precisa possível. Assim fazendo, você colabora para conter o uso indiscriminado de antibióticos e a crescente resistência bacteriana.
Dá para prevenir?
Nem sempre é possível evitar a sinusite, assim como nem sempre conseguimos afastar uma gripe ou resfriado. Mas você pode adotar algumas condutas para reduzir o número de crises, a gravidade e ainda evitar que ela se torne crônica.
A melhor estratégia para isso é manter a boa higiene nasal por meio do uso de soro fisiológico, o que pode ser feito pela manhã, à tarde e à noite. Além disso, vacine-se contra a gripe, especialmente se você integra algum grupo de risco.
Outra providência preventiva é evitar o contato com inalantes irritantes como substâncias químicas, poluição e tabaco.
“Caso você seja alérgico, reduza, ao máximo, a exposição a ácaros, pólen e pelos de animais. E cultive hábitos saudáveis que reforçam o sistema imunológico: adote dieta equilibrada, pratique atividade física e invista em qualidade do sono”, sugere Marcio Nakanishi, presidente da ABR (Academia Brasileira de Rinologia).
Veja o passo a passo da lavagem nasal eficaz:
- Use sempre soro fisiológico 0,9%;
- Na falta dele, é possível utilizar solução fisiológica caseira: 1 litro de água fervida ou filtrada acrescida de 2 colheres (chá) de sal e 1 colher (chá) de bicarbonato;
- Encha uma seringa com capacidade para 20 ml com a solução – preferencialmente morna;
- Aplique-a nas narinas, uma de cada vez, de forma lenta e contínua.
Fontes: Fabiana Gonçalez D’Ottaviano, especialista em otorrinolaringologia pela ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), mestre em otorrinolaringologia pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e responsável pelo Centro Médico 13 de Outubro (SP); Paulo Mendes Jr., médico otorrinolaringologista do Centro da Rinite do Hospital IPO (Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia/Curitiba-PR); Marcio Nakanishi, presidente da ABR (Academia Brasileira de Rinologia). Revisão técnica: Fabiana Gonçalez D’Ottaviano.
Referências: AAO-HNSF (Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço); Rudmik L, Soler ZM. Medical Therapies for Adult Chronic Sinusitis: A Systematic Review. JAMA. 2015; Rinossinusites: evidências e experiências. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, Vol. 81, 2015; European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal Polyps 2012; Graham Worrall, Acute sinusitis. Can Fam Physician. 2011; Marieke B Lemiengre et alli. Antibiotics for acute rhinosinusitis in adults. Cochrane Systematic Review – Intervention, 2018.
Fonte: Uol
Créditos: Uol