Denúncia grave!

Servidores do Ministério da Saúde vacinam garimpeiros contra Covid em troca de ouro, afirma líder Yanomami

Servidores do Ministério da Saúde vacinam garimpeiros contra Covid em troca de ouro, afirma líder Yanomami

A Hutukura Associação Yanomami afirma que há suspeita de que servidores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde, têm vacinado garimpeiros contra Covid-19 e em troca recebem ouro extraído ilegalmente. O documento, divulgado nesta terça-feira (13), é assinado pelo vice-presidente da associação, Dário Kopenawa, e indica ao menos dois responsáveis pelo esquema.
No ofício, enviado no último dia 8 ao Ministério Público Federal (MPF) e à Sesai, Kopenawa afirma que uma técnica em enfermagem, que atuava no pólo base Humuxi, estava trocando as vacinas com os invasores da terra indígena, além de desviar gasolina e um gerador de energia do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) para os garimpeiros também em troca de ouro.

A suspeita iniciou em janeiro, logo após as vacinas começarem a ser aplicadas em Roraima. Segundo o documento, autoridades em Boa Vista foram alertadas sobre o caso para que tomassem providências.
“Essas informações são verdadeiras, passadas pelas lideranças desses locais. Nessas regiões é bem comum a troca de materiais por ouro, como remédios, e infelizmente, às vezes esses profissionais acabam se deixando levar”, afirmou Kopenawa.
Na região do Uxiu uma servidora é suspeita de desviar medicamentos destinados aos indígenas para tratar garimpeiros à noite. Ainda segundo Kopenawa, o caso foi relatado por uma liderança indígena em uma reunião com o secretário da Sesai e o coordenador do Dsei-Y.

“É comum a queixa por parte dos Yanomami de que o materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros. Em julho de 2020, já havia sido encaminhado aos órgãos aqui endereçados o depoimento de uma Yanomami da comunidade de Kayanau queixando-se da piora no estado da saúde em sua comunidade e mencionando o desvio de medicamentos por um funcionário do DSEI-Y que atendia no polo base local”, diz trecho do ofício encaminhado ao MPF e à Sesai.
Procurados, o MPF e Ministério da Saúde, que responde pela Sesai, não se manifestaram sobre o relato até a última atualização desta matéria.

“É inadmissível que, em meio à insistente piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Indígena Yanomami e em plena pandemia da Covid-19, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenha seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que trabalham no garimpo ilegal”, crítica a associação em outro trecho do oficio.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami fica entre os estados de Roraima e Amazonas, e em boa parte da fronteira com a Venezuela. Mais de 26,7 mil índios – incluindo grupos isolados – habitam a região em cerca de 360 aldeias. A estimativa é que ao menos 20 mil garimpeiros atuam ilegalmente no território.
Os casos de Covid entre indígenas que habitam a região se agravam em razão da presença de garimpeiro – no ano passado, em três, os casos avançaram 250%.
No ofício, a Hutukara questiona sobre que tipo de fiscalização e controle a Sesai e o Dsei-Y têm adotado para impedir que situações como as relatadas ocorram dentro da Terra Yanomami.

Informações falsas sobre imunizante

Além da troca por ouro de garimpo ilegal, os indígenas enfrentam, ainda, a disseminação de informações falsas sobre a vacina, segundo a Hutukura. O resultado: nove aldeias se recusam veemente à serem imunizadas contra o coronavírus, mesmo que autoridades apontem para o risco de genocídio.

“‘Vocês, Yanomami, não podem tomar essas vacinas, porque o governo quer matar vocês’, é o que os garimpeiros estão espalhando e, por isso, os nossos parentes estão recusando as vacinas. Já as comunidades que não estão próximas ao garimpo, estão tomando”, afirma Dario.
Com a recusa dos indígenas pela vacinação, o Conselho Municipal de Saúde de Boa Vista chegou a recomendar que o estoque de doses da vacina contra Covid-19 destinadas aos indígenas, seja remanejados para a população urbana da capital.
Quando as primeiras doses chegaram ao estado, em janeiro, o governo estadual triplicou o número de doses da vacina contra Covid-19 para profissionais da Saúde e reduziu a quantidade para indígenas que vivem no estado.
Até esta terça, o governo do estado havia enviado 15.396 doses de vacina contra a Covid-19 para o Dsei-Yanomami. Dessas, apenas 3.199 (20,78% do total) foram aplicadas. Os dados são do vacinometro, que site do governo que divulga a aplicação dos imunizantes.

Fonte: G1
Créditos: Polêmica Paraíba