Não há muito como cobrar lógica ou coerência do governo Bolsonaro, mas não faz sentido demitir Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral e manter no cargo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Ambos estão encurralados pelo escândalo das candidaturas laranjas do PSL. No sábado (16), Bebianno, enquanto fritava na frigideira da cozinha do Alvorada, afirmou reagir como “perplexidade” ao tratamento diferenciado que recebeu de Jair Bolsonaro em relação ao colega do Turismo.
No mesmo dia, Álvaro Antonio buscou desvincular seu caso do de Bebianno dizendo que são episódios diferentes. Sim, ele tem razão, são diferentes e ambos graves. Por mais que tente, Bebianno não tem como fugir da responsabilidade de ter sido o avalista dos repasses da verba pública usada pelas candidatas laranjas do partido que ele presidia na eleição. No esquema do PSL, descoberto pelos repórteres Ranier Bragon e Camila Mattoso, mulheres fingiram disputar votos, preenchendo a cota feminina exigida de pelo menos 30%, para receber o dinheiro eleitoral e desviá-lo.
Ata de uma reunião do PSL delegou a ordem de repasse a Bebianno dentro de critérios que deveriam ser seguidos —e não está ali o cambalacho do laranjal montado pela sigla. O caso do ministro do Turismo envolve a outra ponta da falcatrua. Ele comanda o partido em Minas, onde foi o deputado mais votado. Lá, quatro mulheres foram usadas para atingir a cota. Receberam R$ 279 mil do fundo de campanha. Juntas, não passaram de 2.000 votos. Parte do dinheiro público foi parar em empresas de assessores, parentes, ou sócio de assessores do ministro.
“Os fatos são graves. Em tese, tem falsidade e apropriação indébita”, declarou o promotor de Justiça Fernando Ferreira Abreu, que investiga em Minas as revelações do jornal. O governo só tem a perder com a permanência de Álvaro Antônio no cargo. Figura inexpressiva na política, passará agora a ser o representante do laranjal do PSL na Esplanada.
Fonte: Folha de São Paulo
Créditos: Leandro Colon