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Se a economia está melhorando, por que a falta de trabalho bate recorde?

A economia do país está melhorando devagar, mostram indicadores oficiais, mas, então, por que ainda há muito desemprego?

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados na quinta-feira (17) mostram que falta trabalho para 27,7 milhões de pessoas, um recorde desde a criação dessa série histórica, em 2012.

O economista Thiago Xavier, analista da Tendências Consultoria, diz que o emprego até está aumentando lentamente, mas o problema é a qualidade dessas vagas: há menos trabalho com carteira assinada e com jornada integral e regular. Foi esse tipo de subemprego que causou o recorde negativo apontado pelo IBGE.

É o que o IBGE chama de força de trabalho subutilizada: ela inclui, além dos desempregados, pessoas que estão empregadas, mas trabalhando menos horas do que gostariam (como em bicos ou em uma vaga de meio período), e também aquelas que simplesmente desistiram de procurar emprego por falta de perspectiva.

Juntas, elas representaram, em março, 24,7% dos trabalhadores do país. É um número bem maior do que o de desempregados (13,1%) e dá uma ideia mais ampla das condições do mercado de trabalho no país, uma vez que confirma uma piora na qualidade do emprego.

Algumas semanas antes, o IBGE já havia mostrado também que a taxa de desemprego subiu de 11,8% para 13,1% entre o último trimestre de 2017 e o primeiro de 2018 – embora tenha melhorado, se comparada com o mesmo período um ano antes (13,7%).

São notícias bem ruins e que contrastam com o crescimento de 1% que o PIB registrou no ano passado, depois de dois anos de quedas acima dos 3%.

Criação de empregos demora a reagir pós-crise

Economistas explicam que é normal que o emprego demore um pouco mais para reagir mesmo que outras atividades da economia, como a produção industrial, as vendas no comércio ou o consumo das pessoas, já estejam crescendo há alguns meses.

“As empresas reagem com certo atraso à atividade econômica, porque a decisão de uma nova contratação leva um tempo”, diz Xavier.

“Contratar um novo funcionário implica em um comprometimento com uma série de custos, e o empresário precisa de alguns meses mostrando que a receita do negócio está, de fato, crescendo.”

O mesmo é verdadeiro, inclusive, na mão oposta: quando o país começa a entrar em uma recessão, o desemprego costuma ficar parado por, ao menos, alguns meses antes de também começar a piorar.

Como o custo de se demitir um funcionário e perder alguém que já seja treinado também é alto, boa parte das empresas acaba segurando as demissões até o limite, para se certificarem minimamente de que não é só uma queda passageira.

Nessa última recessão, por exemplo, o PIB do país começou a cair no segundo trimestre de 2014. A taxa de desemprego, porém, continuou diminuindo ao longo de todo aquele ano. Ela só começou a subir a partir de janeiro de 2015, com ao menos seis meses de atraso.

Queda do desemprego engana

Xavier afirma ainda que, mesmo nos momentos em que a taxa de desemprego mostra melhora, é necessário olhar os números com mais atenção. “De março de 2017 a março de 2018, houve uma geração de 1,6 milhão de postos de trabalho, mas há uma perda em qualidade, já que boa parte dessas vagas está ligada à informalidade [sem carteira assinada].”

Entre o primeiro trimestre de 2017 e o primeiro de 2018, o crescimento no total de pessoas trabalhando foi de 1,8%, mas este aumento veio daqueles que passaram a atuar por conta própria (com alta de 3,8%) ou sem carteira assinada (5,2%). O número de contratados pelo regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) encolheu 1,5%.

O PIB nem cresce tanto assim

Outra razão para as escaladas recentes no desemprego vem do fato de que a própria economia está patinando e tem uma recuperação ainda incerta. “Não dá para falar em recuperação, é uma retomada moderada”, diz Xavier. “O primeiro trimestre deste ano deu sinais de uma atividade mais fraca, e isso impacta também o mercado de trabalho.”

O resultado do PIB do primeiro trimestre ainda não foi divulgado pelo IBGE, mas é praticamente certo que deve vir pior do que o anterior, já que vários outros indicadores mostraram um desempenho mais fraco nesses meses.

Indústria, comércio e serviços são alguns dos setores que tiveram meses negativos no começo do ano. Um dos termômetros da economia, o IBC-Br, também apontou para uma queda.

O IBC-Br é um índice criado pelo Banco Central para medir a atividade econômica mensal e serve como uma espécie de prévia do PIB. No primeiro trimestre deste ano, ele caiu 0,13% em relação aos últimos três meses de 2017.

São números que mostram que partes importantes da economia ainda estão bambeando e que fazem com que não seja de todo uma surpresa que a geração de empregos também alterne meses positivos e negativos, enquanto a recuperação não decola.

Fonte: UOL
Créditos: UOL