Alfredo de Souza Lima, de 98 anos, morador de Porto Alegre, sobreviveu à enchente de 1941, quando teve sua casa alagada pela primeira vez. Agora, na pior enchente da história da capital gaúcha , ele precisou abandonar o local onde mora novamente.
Assim como neste ano, a cheia do Guaíba de 1941 ocorreu em maio, um mês incomum para eventos desse tipo. Naquela época, a maior cheia do rio alcançou a marca de 4,76 metros, sendo superada pelos 5,33 metros registrados este ano. Na manhã desta quinta (9), a medição indica que o nível está em 5,04 metros.
“Naquela época encheu lento. Subiu devagar. Não teve essa mortandade que tem como essa de agora. O que eu me lembro, que eu via falar, morreu uma pessoa eletrocutada que parece que caiu na água”, disse o idoso de 98 anos à TV Globo.
Nesta semana, Alfredo precisou sair de casa com a filha e se abrigar temporariamente em uma casa no bairro Bom Jesus, na Zona Norte de Porto Alegre.
Ele relembra que em 1941, devido à cheia do Guaíba, enfrentou uma situação semelhante. Naquela época, teve que ficar na casa de amigos e depois na casa de um irmão no interior do estado até que as águas baixassem. Desta vez, a situação é mais complicada, pois Porto Alegre está sem acesso ao interior pelas principais rodovias, como a BR-290, BR-116, BR-448 e BR-386.
Na década de 1940, Alfredo comenta que a água subiu de forma gradual, ao contrário do que ocorreu em maio deste ano.
Fernando Dornelles, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, explicou à TV Globo que, na época, 24 dias consecutivos de chuva nas bacias que drenam para o Guaíba causaram a enchente. Neste ano, apenas quatro dias de chuva no Rio Grande do Sul ultrapassaram a cota de inundação na capital.
Questionado se imaginava passar por um evento histórico como o de 1941 novamente, Alfredo expressou receio, especialmente porque já havia morado em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e viu os temporais afetarem também esse município.
Durante a cheia deste mês, ele estava no bairro Navegantes, na Zona Norte, na casa da filha, quando percebeu a água subir rapidamente. Ambos foram resgatados de barco. Outros familiares espalhados pela cidade também passaram por situações semelhantes e foram levados para outros municípios.
“A água começou a subir pela calçada e, de repente, eles foram na frente e a água já estava no portão. Daí nós saímos. O sobrado era bem alto, mas também não tinha água nem luz”, diz Alfredo.
Cheia de 1941
Em 1941, cerca de 15 mil pessoas foram afetadas, levando ao desabrigamento de 70 mil, em uma época em que a capital contava com aproximadamente 272 mil habitantes. Um terço das indústrias e do comércio ficaram submersos.
Naquele período, além da intensidade das chuvas, um vento sudoeste, conforme estudo, teria represado as águas da Lagoa dos Patos e as empurrado para o Guaíba, contribuindo para o alagamento. Uma dinâmica semelhante ocorre agora.
Os danos causados pelo temporal motivaram a construção do Muro da Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre. A obra foi realizada entre 1971 e 1974, com três metros abaixo do solo e três acima, abrangendo 2.647 metros de extensão. Essa estrutura faz parte de um sistema antienchente, que inclui diques e comportas.
Tragédia
Os temporais que atingem o estado do Rio Grande do Sul desde segunda-feira (29) causaram 107 mortes, segundo o boletim da Defesa Civil divulgado nesta quinta-feira. O órgão informa ainda que há um óbito em investigação.
O número de feridos é de 374. Já a quantidade de desaparecidos é de 136.
A Defesa Civil do estado contabiliza mais de 164,5 mil pessoas desalojadas, além de 67,5 mil pessoas em abrigos. Ao todo, 425 dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando cerca de 1,5 milhão de pessoas.
Fonte: IG