Se Roger Waters preferiu não mais botar fogo em seus shows com a hashtag “Ele Não”, após usá-la em São Paulo no início do mês, na apresentação no Maracanã, no Rio de Janeiro, na noite desta quarta-feira (24), ele levou para o palco Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, vereadora assassinada em março deste ano na cidade. Ela, ao lado da filha da parlamentar, Luyara Santos, e Anielle Franco, irmã de Marielle, puxaram um sonoro coro com a hashtag. A plateia aderiu, mas vaias também soaram no estádio.
A participação ocorreu na parte final do show. O fundador do Pink Floyd disse ao público que leu a notícia da morte da vereadora em um jornal independente há seis meses, quando o crime ocorreu. Ele recebeu e vestiu uma camiseta com os dizeres “Lute como Marielle Franco”.
“Marielle Franco acreditava nos direitos humanos como eu acredito, mas infelizmente nem todos no mundo acreditam”, disse o músico, que, antes de a família da vereadora subir ao palco, exibiu a notícia da morte no telão de 66 metros.
Mônica, além de puxar o #elenão, também conclamou a plateia a pedir justiça para Marielle.
“Isso aqui é uma família, quer eles gostem ou não. Essa luta é nossa. Não há democracia enquanto o Estado não responder quem matou Marielle. Vou gritar ‘Marielle’ e vocês gritam ‘justiça'”, pediu a viúva, atendida por boa parte do estádio, que teve público de 47 mil pessoas, segundo a organização.
O show aconteceu sob chuva intermitente e também sob gritos de ‘ele não’ em diversos momentos, principalmente entre as músicas. Um desses momentos foi quando aparecem no telão os lugares do mundo onde o roqueiro aponta haver crescimento do fascismo. No lugar onde entraria o #elenão, como ocorreu em São Paulo, a frase “ponto de vista censurado” alavancou outra reação do público. Vaias tentaram abafar os gritos. A hashtag que virou grito de guerra é usada por opositores ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).
Marcado para as 21h, o show começou com pouco atraso, às 21h20, e durou quase três horas, com 22 músicas, entre elas os clássicos “Wish You Here”, “Dogs”, “Comdortably Numb” e “Another Brick in The Wall”, esta acompanhada por 12 crianças e adolescentes de favelas do Rio do projeto EducaGente, em um momento emocionante do show. O coral vestia camisetas pretas com a palavra “Resist”, projetada também outras vezes no telão.
“Essas crianças são brilhantes, e eu as amo”, disse o roqueiro.
Não faltaram os momentos de êxtase dos shows de Waters como o porco “voador” com os dizeres “seja humano” em inglês e português, além da projeção da imagem semelhante à capa de “The Dark Side of the Moon”, no centro da pista premium.
“Obrigado”, gritou Waters em português, e a plateia devolveu com um sonoro “olê olê olê, Roger, Roger”.
Adesivos quase censurados
Antes do show, a reportagem do UOL falou com alguns fãs que usavam adesivos do candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad. As cerca de 12 pessoas do grupo disseram ter sido orientadas por seguranças a não usar os adesivos.
“Eu estava com dois e me pediram para entrar só com um”, disse a cabeleireira Josirene Felix, de 41 anos.
“A segurança tirou da minha bolsa um bolo de adesivos”, afirmou a dona de casa Tânia Mara de Souza, de 58.
“Nos sentimos intimidadas”, disse a professora Renata de Souza, 31.
Mesmo com a abordagem, o trio entrou com os adesivos que conseguiram esconder, assim como outros três amigos de Juiz de Fora.
“O cara veio e puxou meu adesivo, disse que não podia. Deve ser porque sou cabeludo”, brincou o produtor Lucas da Silva Souza, 31, que pegou outro adesivo dos amigos.
“Quando vimos, escondemos uns adesivos”, disse Hércules Rakauskas, que colou o acessório sobre a capa de chuva.
A reportagem procurou a assessoria de imprensa do show, que informou que não havia essa orientação aos seguranças e que a situação não estava ocorrendo.
Fonte: Uol
Créditos: Uol