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Ritmo da vacinação vai determinar crescimento econômico em 2021

O ritmo do programa de imunização nacional contra a Covid-19 se tornou um dos principais fatores que estão embasando as projeções de crescimento da economia em 2021.

O ritmo do programa de imunização nacional contra a Covid-19 se tornou um dos principais fatores que estão embasando as projeções de crescimento da economia em 2021.

A avaliação é que não há como sepraar as duas questões, principalmente diante do recrudescimento da pandemia neste início de ano e da falta de espaço no Orçamento para bancar um programa robusto de estímulos fiscais.

Há divergências, no entanto, em relação ao cenário atual na área de saúde. Algumas instituições e consultorias estão revisando para baixo suas estimativas devido à demora no processo de vacinação e ao aumento no número de casos e mortes neste início de ano.

Outras avaliam que o país terá doses suficientes para imunizar rapidamente a parcela mais idosa da população e possui um sistema de saúde capaz de agilizar esse programa.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, afirma que tem uma projeção mais cautelosa em relação ao crescimento projetado para este ano, de 2,9%, abaixo da mediana do mercado de 3,5% apurada pelo Banco Central na pesquisa Focus.

“Uma das razões é justamente a pandemia e o ritmo de vacinação. Ainda que você consiga vacinar ao longo do primeiro semestre os principais grupos de risco, dado que a maior parte da população ainda não estará vacinada, o receio em relação à pandemia, inclusive o medo de consumo de alguns serviços, ainda estará presente”, afirma Ribeiro.

Ela considera que somente ao longo do segundo semestre haverá um percentual mais expressivo da população vacinada.

A projeção para o PIB é a mesma do Santander Brasil, que anteriormente tinha uma estimativa de crescimento de 3,4%, mas reviu o dado após o aumento no número de infecções e mortes neste ano.

Lucas Maynard, economista da instituição, afirma que o ritmo de vacinação é fundamental para permitir a retomada dos segmentos mais afetados pela pandemia.

“O canal para fazer essa ponte entre vacinação e atividade econômica é a mobilidade. Com o recrudescimento da pandemia, já se pode observar a partir de janeiro uma reversão daquele processo de reabertura”, afirma Maynard.

“Se a vacinação atrasar, a gente entende que as medidas restritivas permanecerão por mais tempo. Demorará mais para voltar à trajetória ascendente que a gente vinha observando ano passado.”

Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da RPS Capital, afirma que o plano nacional de imunização está atrasado, mas diz que houve algum progresso nas últimas semanas e que as informações já divulgadas apontam para uma oferta de cerca de 400 mil doses neste ano, entre vacinas que demandam uma ou duas aplicações.

Segundo Barros, o país tem atualmente uma média de 250 mil pessoas vacinadas por dia, mas possui capacidade para vacinar até 700 mil.

Para ele, a velocidade da imunização é importante para que não se perca, por exemplo, o resultado do programa de suspensão e redução de jornada e salário, que preservou cerca de 10 milhões de empregos em 2020.

Barros afirma que muitas das empresas que aderiram ao programa, que deu também estabilidade temporária aos trabalhadores, estarão livres para cortar esses postos a partir do final deste trimestre. Por isso, é importante que elas tenham a perspectiva de retomar suas atividades.

“A previsibilidade do delivery da vacina influencia na decisão das empresas de demitir ou não. Como a gente está tendo algum progresso nesse front de vacinas, isso deve influenciar positivamente para que as empresas consigam manter os empregados. Por outro lado, se a vacinação atrasar, a gente pode jogar fora todo esse esforço que foi feito no ano passado”, afirma Barros, que projeta crescimento de 4% em 2021.

Nesta semana, o novo presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou que a instituição projeta alta de 4% do PIB em 2021, mas que um atraso no plano de vacinação de seis meses, por exemplo, pode reduzir o crescimento pela metade.

O economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa afirma que o avanço no programa de vacinação será importante para a recuperação de setores que respondem por 40% do PIB e que foram os mais afetados pela queda na atividade devido à pandemia, como educação, saúde, alimentação fora de casa, entretenimento e cultura.

“Pode ser que seja mais rápido e você tenha uma normalização já no segundo trimestre. Com certeza esse vai ser um motor de crescimento importante para a economia brasileira e mundial.”

Para ele, outros fatores já colocaram o Brasil em uma trajetória de recuperação econômica, como juros baixos, mercado imobiliário em expansão, recuperação da economia global com muito estímulo fiscal e monetário, comércio global acelerando e puxando preço de commodities.

“Não é só a vacina que vai gerar a recuperação. Há vários motores contribuindo para o crescimento, compensando a retirada dos estímulos. Não é algo que estou projetando, é algo que já está acontecendo”, afirma Barbosa.

O economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, também está entre os que revisaram a projeção de crescimento do PIB para este ano, de 3,5% para 3%, devido ao avanço da pandemia, mas avalia que as perspectivas para o processo de vacinação são positivas.

Ele diz que a expectativa é ter mais de 300 milhões de doses ao longo de 2021 e que a atual trajetória aponta para a imunização de 100% da população com mais de 60 anos em quatro meses.

“Se tiver vacina —esse é o ponto mais importante. O processo de vacinação no Brasil não está tão rápido quanto todo o mundo gostaria, mas também não está tão lento. Está muito melhor que em alguns países europeus e da América Latina, mas pior que em Israel e nos EUA”, afirma Camargo.

“Nosso cenário parte do pressuposto de que o governo vai conseguir as vacinas. Os contratos estão assinados, os insumos já estão vindo. Todos os países têm algum problema com a oferta de vacina. O Brasil está em uma posição relativamente boa em relação à maior parte dos países”, afirma.

 

Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Folha de S.Paulo