A reportagem de capa desta semana da revista CartaCapital faz um mergulho nos negócios, propriedades e origem dos bens acumulados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em um trabalho jornalístico de treze páginas, CartaCapital não fala de pedalinhos, sítios de periferia ou apartamentos em praias decadentes, mas de canaviais a perder de vista, leilões de touros Brangus, um apartamento numa luxuosa avenida de Paris e outro de 450 m2 em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo. Leia abaixo os principais trechos da reportagem, assinada por Alceu Luís Castilho.
“Cinco reais. Esse foi o preço pago pela prefeitura de Botucatu [o prefeito é Mário Pardini, do PSDB] pelos 36,54 hectares de uma das duas fazendas da família de FHC no município do centro-sul paulista, em 29 de maio. Uma empresa em nome dos três filhos do ex-presidente tem no local duas propriedades rurais: a rigor, um canavial localizado em região de mananciais, numa Área de Proteção Ambiental. Houve um acordo amigável: a Fazenda Rio Pardo já tinha sido expropriada, em março, para a construção de uma represa”.
“O projeto da Secretaria de Planejamento é de que todo o entorno da represa se torne atração turística. (…) Em outras palavras, todas as propriedades sobreviventes à desapropriação serão valorizadas”.
“FHC não chegou por acaso em Botucatu. Ao lado do canavial da família fica a Central Bela Vista, uma empresa de genética bovina que pertencia ao pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro Filho (…). Jovelino é sócio de Emílio Odebrecht (…). Foi por iniciativa do pecuarista que, em 2002, organizou-se no Palácio da Alvorada um jantar voltado para a arrecadação de fundos para a criação do Instituto FHC, hoje Fundação FHC. O empreiteiro, que hoje está em prisão domiciliar, era um dos 12 empresários presentes. E, portanto, foi um dos financiadores do projeto.”
“Naquele jantar de 4 de dezembro de 2002, cada empresário decidiu doar R$ 500 mil para a fundação. Entre eles estava Luiz Roberto Ortiz Nascimento, da Camargo Corrêa. Anos depois, tornou-se delator da Lava Jato. No início do primeiro governo de FHC, em 1995, a revista Istoé contou que a empreiteira construíra um aeroporto em fazenda vizinha à de FHC, em Minas. E quem utilizara era, principalmente, a família do ex-presidente.”
“É lá [no apartamento em Paris, na Avenue Foch] que, segundo a jornalista Mirian Dutra, mora hoje o filho que ela teve com FHC. (…). Mirian diz que as propriedades são de FHC. Jovelino, segundo ela, é apenas um laranja. Como teria sido em Buritis (MG), durante os governos do sociólogo.”
“FHC estava no início de seu segundo mandato, e em seu segundo leilão de touros Brangus. O sociólogo não estava lá. Foi representado por Luciana Cardoso. No primeiro leilão, em 1998, o lote de 11 touros criados em Buritis foi arrematado por R$ 69 mil. A imprensa noticiou de passagem quem era o comprador: o sul-mato-grossense Waldemar Bittencourt, então com 88 anos, apresentado como ‘muito amigo’ de FHC. Waldemar era pai de Eduardo Bittencourt de Carvalho, conselheiro do TCE-SP exonerado em 2012, sob suspeita de enriquecimento ilícito.”
“Em abril de 2012, Emílio Odebrecht apareceu no Jornal Nacional contando que tinha financiado as campanhas de FHC, para a Presidência da República e para o Senado, com caixas 1 e 2. Era um depoimento a Sergio Moro, em Curitiba, em meio às investigações da Operação Lava Jato.”
“O imóvel [onde vive FHC] foi comprado por R$ 1,1 milhão, logo após ele retornar de Paris (ele passou alguns meses no apartamento da Avenue Foch), ainda na ressaca de seus oito anos na Presidência da República. Hoje vale ao menos R$ 4,3 milhões, se levar em conta o preço médio do m2 da região: R$ 9,6 mil. No mesmo ano de 2003, era vendida a fazenda de Buritis, em Minas. O apartamento que pertencia ao banqueiro Edmon Safdié ocupa um andar inteiro do edifício e, conforme reparou o ex-presidente na ocasião, muito bem impressionado, possui cinco vagas na garagem.”