Em janeiro de 2016, a empreendedora Lori Fernandes, então com 27 anos, tornou-se mãe. Ela pariu onde se sentia mais à vontade: em casa. De maneira natural: tudo sem anestesia ou sem medicamentos para promover as contrações musculares e ampliar o canal de parto.
Apesar de ter sido da maneira que sempre desejou que acontecesse, ao dar à luz a Josué, seu primeiro filho, ela sentiu contrações agudas no final do trabalho de parto. A dor era forte, intensa e profunda.
Pouco mais de um ano após ter tido o primeiro filho, a goiana soube que estava grávida do segundo. Na ocasião, praticava ioga em uma turma só de mães e passou a fazer as aulas em uma classe para gestantes. Sempre respeitando as restrições médicas, Lori começou a trabalhar a concentração e o foco na respiração, a fim de ficar mais conectada ao próprio corpo e às mudanças provocadas nessa nova fase que se iniciava.
Por coincidência, sua professora de ioga, Amazona Fernandez, também era doula. Além do trabalho de consciência corporal e preparação para um parto menos dolorido, ela descobriu que era possível parir com prazer.
“Antes disso, só me lembrava da dor e do meu corpo esgotado durante o nascimento de Josué. Isso porque apesar de, junto de meu marido, ter ido atrás de todas as formas para ter um parto natural seguro e o mais confortável possível — com o acompanhamento de enfermeiras obstetras e uma doula –, não cuidei do meu emocional. E foi o que faltou para eu conseguir me soltar e transformar a dor do momento em bom humor, bem-estar e satisfação”, afirma.
Como conseguir isso? Ela conta que três medidas foram decisivas: fazer terapia, em que trabalhou seus medos e ansiedades, participar de uma roda de conversa com Maria do Sol, autora do livro “O Parto Sem Dor: Você Também Pode”, que a ajudou a visualizar coisas boas, especialmente em relação ao futuro parto, e assistir ao documentário “Parto Orgásmico” (Orgasmic Birth: The Best Kept Secret, em inglês). Lançado em 2008, o longa desafia o senso comum de que dar à luz é naturalmente doloroso, mostrando depoimentos de especialistas, como obstetras e psicólogos, e onze mulheres que pariram rindo, gemendo e até tendo orgasmo.
O parto
Era quase 3h da manhã quando Lori entrou em trabalho de parto. Ela e o companheiro começaram a contar o intervalo entre as contrações. Eram da mesma intensidade quando teve o primeiro filho. Mas não sentia dor nem tinha vontade de gritar. Ela conseguia controlar o que estava sentindo. Vivia e aproveitava as cólicas do jeito que apareciam.
“Eu me lembro de me alongar, abaixar, ficar de cócoras. Respirava com calma. Minha casa estava limpa e organizada, pronta para aquele momento. Colocamos uma playlist de músicas tranquilas, acendemos incensos e velas e dançamos colados. Além disso, pus nas paredes dos cômodos, na semana de parir, algumas afirmações para fazer um parto delicioso. Pouco tempo depois, meu marido começou a preparar a piscina, onde o parto ia acontecer. Mais tarde, transamos. Foi uma avalanche de boas sensações e um ‘até logo’, já que depois do parto teríamos que nos resguardar por algumas semanas para meu organismo se recuperar.”
Lori entrou na água aquecida e ficou um tempo sem se mexer e conversar. Amanheceu e ela ainda estava na piscina, mas as contrações tinham parado e estava com a dilatação completa. Percebia Violeta brincando na barriga, de um lado para o outro, sem querer descer.
“Fiquei de cócoras e me deixei curtir aquele momento. A doula assistia. Pouco tempo depois, meu marido chegou e a cabecinha da nossa filha já estava aparecendo. Não senti dor, não gritei. Só respirei fundo várias vezes. Eu não lembro, mas eles contam que eu dava gargalhada sozinha, me tocava, revirava os olhos. Era como se não estivesse ali, dando a luz.
Nossa pequena nasceu em uma calmaria, às 10h55. Foi tudo muito íntimo, aconchegante, uma experiência única e inesquecível com direito a beijos na boca, sexo, olho no olho, mão na mão e muito companheirismo”, finaliza ela.
Fonte: UOL
Créditos: UOL