O infeliz texto de Silvia Pilz, colunista de O Globo, causou revolta em muita gente e esta não foi a primeira vez que a colunista usou o seu espaço no jornal carioca para estigmatizar e ofender a população pobre. O jovem Davison Coutinho, morador da favela da Rocinha, rebateu o texto de Silvia
A jornalista Silvia Pilz publicou ontem em seu blog o artigo “O plano cobre” (veja aqui), onde ela destila todo seu preconceito contra as classes populares que nos últimos anos começaram a ter acesso aos serviços de saúde antes reservados às elites.
Seu artigo atiçou a fúria das redes sociais, e elevou a audiência de seu blog: seus posts mais recentes têm entre 50 e 300 compartilhamentos (e costumam falar de aventuras eróticas reais ou fictícias), e este já passou dos 13 mil. Hoje Silva atualizou o texto, com um pedido de desculpas antes e ao final do texto: “ATENÇÃO: Humor cáustico perde a graça quando precisa ser explicado. Falhei. Poucos se divertiram e muitos se ofenderam. A intenção não era essa. Leia o texto e deixe seu recado nos comentários”.
Apesar das desculpas, essa não é a primeira vez que Silvia Pliz usa de seu “humor cáustico” para ofender e estigmatizar os pobres. Em maio do ano passado ela publicou o artigo “Novo pobre” (teve mais de 800 compartilhamentos), onde ela critica o padrão de consumo dessa população: “Para eles, ter um bebê nascido na Perinatal, por exemplo, com direito a foto no site da maternidade, é motivo de orgulho. O carro também é sinônimo de status. O novo pobre mora mal, paga aluguel, mas não anda em qualquer carro e não dispensa o insulfilme. O tamanho da TV, normalmente, é inversamente proporcional ao salário”.
O morador e líder comunitário da Rocinha Davison Coutinho escreveu artigo para o Jornal do Brasil criticando a visão preconceituosa e elitista da autora: “Essa senhora reprova e exclui o outro apenas por não ser da mesma classe social que ocupa e, por isso, faz declarações ignorantes. Em meio aos problemas de guerra que vivemos no mundo, precisamos de mais tolerância e amor e não perder tempo lendo ofensas intolerantes e discriminatórias. Não toleramos mais um país ou uma cidade partida por preconceitos”. Leia a íntegra abaixo:
Jornal carioca não gosta de pobre – Rocinha e favelas repudiam declaração de colunista do ‘O Globo’
Em mais uma tarde de verão, temperatura de quase 35º, cariocas curtindo uma linda tarde de sol, me despeço dos alunos e retorno de mais uma aula para continuar minhas pesquisas. É então que recebo de um amigo um infeliz artigo escrito para o jornal o O Globo da colunista Silvia Pilz – Zona de desconforto. Um texto hediondo e preconceituoso, escrito por uma pessoa que não consegue aceitar que os menos favorecidos tenham acesso às “coisas de rico”, ou melhor, não consegue aceitar que pobre tenha acesso aos mesmos serviços e direitos que antes eram da elite.
O texto de Silvia apresenta diversos estereótipos negativos relacionados à pobreza. Segundo Silvia, todo pobre tem problema de pressão, é viciado em usar plano de saúde, gosta de hospitais e exames porque ganha lanchinho para tirar sangue, além de ir para os laboratórios para poder pisar no piso de porcelanato e usar o ar condicionado. Ainda segundo a colunista, o pobre é preguiçoso, pois quando tira sangue trata logo a não ir trabalhar e gosta e quer ter doença.
Se eu já li um texto tão preconceituoso antes, eu não me lembro. Envergonho-me em ter em nossa sociedade pessoas, (nem sei se podemos chamar de pessoas) que pensam de tal forma. E o pior: declaram como se estivessem com a razão. O que me envergonha, ainda mais, é um jornal de repercussão publicar um texto de tamanho preconceito, onde ela demonstra a raiva que tem das pessoas menos favorecidas e atribui vários estereótipos negativos relacionados à pobreza.
Essa senhora reprova e exclui o outro apenas por não ser da mesma classe social que ocupa e, por isso, faz declarações ignorantes. Em meio aos problemas de guerra que vivemos no mundo, precisamos de mais tolerância e amor e não perder tempo lendo ofensas intolerantes e discriminatórias. Não toleramos mais um país ou uma cidade partida por preconceitos.
Lamento, Silvia, que você seja um ser que não consegue conviver com o outro enquanto humano, e é apenas um acaso informativo de má qualidade e que precisa de reconhecimento para poder aparecer na mídia.
(Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor e designer)
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