Quem frequenta diariamente redes sociais já deve ter sentido desconforto, angústia ou cansaço ao ter de lidar com elas. Eu estou exausto.
É mais um paradoxo desses tempos virtuais, em que a onipresença se une à superficialidade, gerando uma compulsão insaciável pelo vazio existencial. Não há mundo real que dê conta de tantos universos paralelos.
Podemos estar viciados, mas quem fuma sabe que uma hora o cigarro não traz mais prazer, ou de tanto beber, o organismo do alcoólatra sabe que mais uma dose não vai fazer a menor diferença em seu estado de torpor.
Embora o Facebook tenha sido oficialmente criado em 2004, podemos arredondar e dizer que a plataforma começou a conquistar seus dois bilhões de usuários mundiais há uma década.
Pois nesses míseros dez anos, uma fagulha de tempo na história da humanidade, o império inimaginável erguido por Mark Zuckerberg já fez mais estrago que uma dinastia de faraós ou toda a era viking.
Cerca de 70% dos adultos norte-americanos usam mídias sociais, sendo que dois terços usam o Face, um terço usa o Instagram e um quinto usa o WhatsApp.
“O poder de Mark Zuckerberg é sem precedentes”, escreveu nesta quinta-feira (9) o cofundador do Facebook Chris Hughes — que se diz desapontado por não ter percebido, juntamente com a equipe criadora, que o algoritmo poderia alterar a cultura, influenciar eleições e capacitar líderes nacionalistas.
Antes disso, receber ligações noturnas no celular ou spams na caixa de e-mail eram exemplos terríveis de como a tecnologia estava se tornando invasiva e ocupando nossas vidas.
Como fez questão de descrever Hughes, hoje, o aspecto mais problemático é o “controle unilateral de Mark” sobre a fala: “Não há precedentes para sua capacidade de monitorar, organizar e até mesmo censurar”.
Esse monopólio jamais visto tem sua eficácia comprovada, mas como tudo criado a partir da internet é efêmero e se desgasta numa velocidade vertiginosa. As redes sociais não vão escapar dessa maldição.
Apesar dos já citados 2 bilhões de adictos, o fim do Facebook já está decretado… pelas outras redes sociais. É lugar de velhos, dizem os jovens dependentes de Instagram.
Posso até concordar com a tese, a idade me autoriza. Enxergo o motivo do sucesso do Insta entre seu público: lembro-me bem do sonho de toda criança: um livro só de figurinhas, sem nada para ler.
O WhatsApp, reconheço, só me causa aflição, a ponto de não conseguir entender como alguém pode se submeter àquelas caóticas e obsessivas mensagens inúteis. E os áudios, pai amado? Por que alguém aceita participar de um grupo onde o que prevalece é a esbórnia e a balbúrdia?
O Twitter costuma ser a rede mais elogiada — na absoluta maioria das vezes, por pessoas que ficam horas a fio trancafiadas naquela masmorra digital em que todo mundo acha mais importante ter razão do que ser feliz.
Em tão pouco tempo, está evidente que todas essas ferramentas revolucionárias só servem para atiçar a criação de novas ferramentas revolucionárias.
Ao final da próxima década, é bem provável que nada disso permaneça. Sentiremos desconforto, angústia ou cansaço com outras compulsões. Só de pensar, fico exausto.
Fonte: R7
Créditos: R7