O papa Francisco presenteou o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, com uma escultura em tamanho natural chamada Jesus Sem-Teto. O gesto é uma homenagem ao Dia Mundial dos Pobres, celebrado no próximo dia 18. A estátua representa um homem deitado em um banco de praça, com um cobertor curto. Nos pés à mostra é possível ver duas perfurações – marcas da crucificação.
Tempesta foi um dos poucos líderes da Igreja Católica a expressar a apoio ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que pretende decretar que movimentos sociais de sem-teto e sem-terra sejam classificadas como organizações terroristas.
O Dia Mundial dos Pobres foi instituído pelo papa no ano passado. Esta será a segunda celebração. “As palavras do salmista tornam-se também as nossas no momento em que somos chamados a encontrar-nos com as diversas condições de sofrimento e marginalização em que vivem tantos irmãos e irmãs nossos, que estamos habituados a designar com o termo genérico de ‘pobres’”, disse o Papa Francisco em sua mensagem de reflexão sobre a data.
A preocupação do líder católico faz sentido no Brasil e no mundo. Segundo o Banco Mundial, 3,4 bilhões de pessoas no mundo se encontram em situação de pobreza, que é caracterizada não só pela falta de renda, mas pela privação de direitos básicos, como o acesso à saúde, educação, saneamento básico, água e luz.
No Brasil, houve significativa melhora nas condições de vida população e o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza diminuiu entre 2003 e 2014. Mas voltou a subir a partir de 2015. Em 1992, havia quase 65 milhões de pessoas consideradas pobres no país, sendo 19,5 milhões extremamente pobres – com renda mensal inferior a R$ 70. Em 2014, o número foi reduzido para 19,2 milhões de pessoas na pobreza no país, sendo 5,1 milhões na extrema pobreza. O dado mais recente, de 2016, indica que já são 31,5 milhões de pessoas nessa situação.
O principal fator apontado para esse crescimento é o ajuste fiscal feito pelo governo de Michel Temer (MDB), em um cenário de pouco crescimento econômico e desemprego, aliado a uma política de redução de direitos sociais e trabalhistas. Política que será mantida no próximo ano, com o início do governo Bolsonaro.
A obra foi concebida pelo escultor canadense Timothy Schmalz. Há outras como a que será entregue ao cardeal em diversos locais do mundo. Uma delas se encontra na entrada da Elemosineria Apostólica, em Roma. Segundo o pároco, cônego Cláudio dos Santos, a escultura vai ser instalada na Catedral Metropolitana, no centro do Rio, no do Dia Mundial dos Pobres.
“Vamos fazer acontecer esse gesto de solidariedade como demonstração do amor de Deus. Nós recebemos esse amor e o passamos adiante através do nosso gesto, que leva alegria ao coração dos pobres. Que possamos viver essa semana cada vez mais, vendo a figura de Cristo na pessoa do pobre”, disse o cônego Cláudio.
Na próxima semana, vários eventos serão realizados para celebrar a data e convidar a população a refletir sobre a situação de milhões de pessoas que vivem sem o mínimo para uma vida digna. Haverá celebração na Favela da Maré, discussão sobre o cárcere feminino, encontro ecumênico, audiência pública, encontro com os bispos, ação social na Cracolândia, manhã de catequese nos vicariatos, fórum sobre a Justiça Restaurativa e, no encerramento, uma manhã inteira de atividades na Catedral, com café da manhã e almoço para a população em situação de rua.
Fonte: Sul 21
Créditos: Sul 21