A edição de 2020 do Círio de Nazaré não terá procissões por causa da pandemia da Covid-19 e a programação, que começa nesta sexta-feira (9), será virtual. Você sabia que a festividade, marcada pela devoção a Nossa Senhora de Nazaré, já sofreu com alteração por causa de outra pandemia, em 1918?
Para você conhecer melhor essa e outras histórias que marcam mais de 200 anos dessa festa tradicional do Pará, o G1 elaborou uma linha do tempo com curiosidades e momentos históricos – como as procissões que ocorreram em datas diferentes da habitual.
O levantamento foi realizado com base em documento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A primeira procissão
O início de tudo ocorreu em uma data bem diferente da habitual, no dia 8 de setembro de 1793. Na ocasião, a imagem de Nossa Senhora saiu do Palácio do Lauro Sodré, na Cidade Velha, até uma capela, onde hoje fica a Basílica Santuário.
A primeira procissão de Belém teve origem com uma promessa. Na época, o então governador do Pará, Francisco de Souza Coutinho, estava doente e fez uma promessa para Nossa Senhora. Caso ele se curasse, iria realizar uma procissão em homenagem a santa.
Após o final da doença, ele trouxe a imagem da capela para a sede do Governo do Pará, que ficava no Palácio Lauro Sodré. De lá, saiu em procissão para a capela que ficava no bairro de Nazaré.
Inicialmente, a festa religiosa não tinha uma data fixa para acontecer, mas, a partir de 1901, o bispo Dom Francisco do Rego Maia determinou que a romaria fosse realizada sempre no segundo domingo de outubro.
Círio de manhã e partindo da Sé
O Círio de Nazaré também ocorria em horário diferente no início da procissão. Apenas em 1854 o Círio passou a ser realizado de manhã, como ocorre hoje. A decisão foi tomada para evitar as chuvas que são mais comuns no período da tarde. A partir de 1882, o bispo Dom Macedo Costa, de comum acordo com o presidente da Província, Dr. Justino Ferreira Carneiro, resolveu que o ponto de partida seria a Catedral de Belém, como acontece até hoje.
O Círio tem vários símbolos que marcam as diversas sequências do trajeto. Os principais são: a corda e a berlinda.
Nos primeiros anos de procissão, a imagem da santa era conduzida no colo dos bispos, sendo mais tarde introduzida a berlinda, que abrigava a imagem, que era transportada num carro puxado por juntas de bois.
Porém, em alguns anos, quando o Círio percorria a área do mercado Ver-o-Peso, havia dificuldade para o carro passar por causa da água que transbordava da baía. As ruas não eram pavimentadas, então a região ficava enlameada. Por conta disso surgiu a ideia, em 1855, de passar uma grande corda em volta da berlinda, para que o povo pudesse ajudar a puxá-la.
Somente 13 anos depois a corda foi oficializada pela diretoria da Irmandade de Nazaré.
Início da Basílica
Antes da existência da Basílica Santuário, o local que hospedava a imagem de nossa Senhora de Nazaré era uma pequena ermida, uma espécie de capela. Após o primeiro Círio, o governador Francisco de Souza, já devoto de Nossa Senhora, iniciou a construção de uma nova estrutura, em 1799. Já em 1920, a Basílica, como conhecemos hoje, é inaugurada.
Ano sem procissões
Assim como este ano, em 1835 não houve procissões durante as festividades do Círio de Nazaré. Por conta da revolução cabana, manifestantes tomam o arraial de Nazaré e a cidade de Belém, impossibilitando que a procissão fosse realizada. Até então, este era o único sem procissões desde o início das festividades da quadra nazarena.
Outra pandemia já alterou o Círio
Não foi só a Covid-19 que mudou as programações da quadra Nazarena. Em 1918, a pandemia de Gripe Espanhola fez com que a diretoria da festa adiasse a conclusão dos festejos nazarenos. Naquele ano, o Círio ocorreu no último domingo de outubro.
A corda em “U”
Devido ao aumento do número de fiéis que acompanhavam a procissão na corda, em 1922 a diretoria da festa decidiu fazer uma separação. A corda que puxaria a berlinda seria em formato de “U”, e passaria ao redor da estrutura. De um lado da corda, ficariam mulheres, e de outro, homens. A mudança durou por quase um século, até a corda única voltar a ser utilizada, em 2005.
Imagem peregrina ganha as ruas
Em 1966, pela primeira vez é utilizada na procissão a imagem peregrina, cópia da imagem original encontrada por Plácido. Na ocasião, a diretoria da festa optou por levar uma réplica às ruas da cidade para não danificar a estrutura da imagem original que possuía quase 200 anos. A imagem peregrina foi encomendada pelo vigário Miguel Giambelli ao escultor italiano Giacommo Mussner.
Círio ganha as telinhas
As emoções do Círio de Nazaré começaram a ser transmitidas aqui na TV Liberal em 1976. Essa foi uma das primeiras grandes transmissões da emissora. Na época, a TV exibiu ao vivo as imagens da procissão que passava na porta do prédio da emissora, que fica na avenida Nazaré, no centro de Belém. Em 1997, a TV Liberal também foi pioneira, transmitindo as imagens do evento ao vivo, via internet, para todo o mundo.
Círio também é festa
Ainda na década de 70, mais precisamente em 1978, ocorre a realização da Festa da Chiquita. O festejo ocorre na Praça da República, logo após a realização da Transladação, e representa o lado profano da festividade.
Círio também é esporte
Em 1983 ocorre a realização da primeira Corrida do Círio. Hoje a competição é realizada pelo Grupo Liberal e é a maior corrida de rua do norte do país.
Círio ganha novas procissões
Em 1986 é realizada a primeira romaria fluvial, por iniciativa da Companhia Paraense de Turismo (Paratur). Três anos depois, em 1989, ocorre a criação da romaria rodoviária. Em em 1990, é a vez das crianças ganharem uma procissão especial. No mesmo ano, é criada a romaria dos motoqueiros.
Círio milionário
Em 1991, pela primeira vez o Círio de Nazaré atinge a marca de 1 milhão de pessoas, de acordo com a Diretoria da Festa de Nazaré
Círio 200
Em 1992, a arquidiocese de Belém organizou diversas atrações para a procissão do Círio. Naquele ano, a procissão comemorava 200 anos de existência. Pela primeira vez, a berlinda foi a frente da corda. Além disso, a imagem peregrina, confeccionada para sair em procissão nas ruas, deu lugar à imagem original que, segundo a lenda, foi encontrada pelo caboclo Plácido no século 18. Essa foi a última vez que a imagens secular foi para as ruas de Belém durante a procissão.
Procissão mais demorada
Em 2000, realizou-se o Círio mais demorado de todos os tempos. A imagem da Virgem de Nazaré chegou à basílica às 15h45, após mais de 9 horas de procissão. A corda ficou atrelada à berlinda o tempo todo, tanto na trasladação como no Círio.
Procissão mais rápida
Já o Círio mais rápido ocorreu ano passado, em 2019. Na ocasião, houve uma mudança no horário de início da procissão, que terminou às 11h30, com 4h30 de duração.
Fonte: G1
Créditos: G1