Num espaço de 24 horas, recebi mensagens de ouvintes e ex-companheiros de trabalho me relatando novidades que estariam por vir no Sistema Globo de Rádio, empresa onde atuei como produtor, repórter e apresentador por quase 24 anos.
As informações que chegavam davam conta que o fim da linha da icônica Rádio Globo estava próximo, bem próximo. Fiquei sem fôlego na hora, mas a nefasta surpresa não estava terminada e o golpe final surgiu na mensagem seguinte: “A CBN também vai acabar”.
Meio que sem chão, procurei alguns companheiros de luta do rádio para saber da veracidade disso, e para a minha tristeza e decepção, a confirmação veio na noite de sábado, 13 de abril de 2019. O Sistema Globo de Rádio vai encerrar as suas atividades e a famosa data do dia 2 de dezembro de 1944 encontrou o seu epitáfio.
Acionistas do Grupo Globo contrataram uma consultoria européia e o estudo foi entregue durante a semana recomendando o fim da marca Rádio Globo e as mudanças de rumo da Rádio CBN. Os executivos do Grupo Globo, então, decidiram destinar as duas frequências para marcas já consagradas do mercado de TV por assinatura.
A Rádio Globo vai virar Multishow FM e a CBN vai se transformar na Globonews FM. O moderno estúdio de rádio dentro dos Estúdios Globo, antigo PROJAC, será destinado à Multishow FM. A linha de programação não está decidida, mas já se sabe que a frequência vai retransmitir boa parte do conteúdo do canal de TV, e a outra certeza é que a equipe de esportes da rádio, numa época remota considerada um verdadeiro símbolo da rádiodifusão do país e na atualidade apontada como um dos grandes motivos do naufrágio da empresa, está fora.
Com relação a CBN, operação semelhante acontecerá, porém em outro endereço do Rio: o Jardim Botânico. O luxuoso estúdio recentemente inaugurado no novo prédio do Infoglobo, no Centro da Cidade, deixará de existir e a Globonews FM vai concentrar suas operações no famoso endereço da Rua Lopes Quintas, na zona sul carioca.
Desde a minha saída do Sistema Globo de Rádio, em 2015, tenho passado os dias a refletir sobre esse terrível momento que a mídia brasileira vem passando, especialmente o rádio. Tento buscar respostas para o declínio precoce da minha carreira e as terríveis dificuldades de me recolocar no mercado. Jamais busquei externar a reação do público diante da minha saída e de outros consagrados colegas durante esse processo de esvaziamento da emissora, mas o fato é que sou interpelado diariamente nas ruas, nos grupos de amigos, entre familiares e nas redes sociais sobre a minha ausência nesses quase 4 anos. Essa é a constatação que minha atuação foi marcante.
Até tive experiências bem interessantes no período, como por exemplo a minha passagem temporária pela Rádio Tupi e uma experiência bem saborosa pela Rádio SRzd, emissora online aqui no Grupo SRzd. Voltei a ter prazer em fazer rádio, mas a busca por respostas insistia em me inquietar. A verdade é que, com o passar do tempo, a gente tem a oportunidade de olhar para trás e perceber os verdadeiros obstáculos que foram superados no caminhar da vida.
A ciência da História nos revela muito bem esse fenômeno. A gente faz o entendimento de um algum fato histórico quando ele se torna passado. Um caso que é muito citado pelos historiadores é o exemplo da queda do Império Romano. Os primeiro sinais do declínio foram percebidos num determinado momento, a queda se consumou anos depois, e a conclusão foi constatada com o passar dos séculos. A Rádio Globo foi um império. O nosso império do rádio. O palácio mais suntuoso do rádio brasileiro.
Hoje eu não tenho dúvidas, o declínio do Sistema Globo de Rádio começou em 1997 quando a família Marinho e acionistas da empresa decidiram transferir o grupo de mídia de áudio para a estrutura de mídia impressa da então Organizações Globo. Ali começou o fim. Um olhar bem desconfiado, recheado de preconceitos e indiferenças ao rádio, passou a administrar o SGR.
Profissionais com extrema intimidade com o microfone, sedutores do público, que sabiam verbalizar como poucos, começaram a perder espaço para pessoas que nunca conseguiram entender o que é o jogo da sedução tão vital ao veículo.
Pessoas pálidas passaram a frequentar aquela casa e falar naqueles microfones. O V.U.(medidor de volume de som instalado na mesa de áudio) se recusava a eles quase sem modular a qualquer nível de oscilação. Faltava libido naquela relação. A rotina, dia a dia, se transformava numa conjunção mecânica. O fim seria fatal, e foi.
Doutor Roberto Marinho, Valdir Amaral, Jorge Curi, João Saldanha, Mario Vianna, Luiz Mendes, Mário Luiz, Haroldo de Andrade, Luiz de França, Loureiro Neto, Edmo Zafife, Valdir Vieira, João Vita, José Alberto Vicente, Francisco Carioca, os irmãos Raul e Luiz Brunini, Guilherme de Souza, Gilberto Lima, Isaac Zaltman, Sérgio Nogueira, e tantos outros que já partiram, devem estar testemunhando transtornados, onde eles estiverem neste momento, a fúria de Deus.
José Carlos Araújo, Washington Rodrigues, Antônio Carlos, Gilson Ricardo, Gérson Canhotinha de Ouro, Maurício Menezes, o outro Maurício Menezes – o Danadinho, Francisco Barbosa, Alberto Brandão, Elso Venâncio, Antônio Carlos Geron, Zora Yonara, Adelnora Santos, Gélcio Cunha, Ermelinda Rita, João Carlos Viégas, Formiga, Paizinho, Peter, Toninho Bondade, Pinguim, Zé Muvuca, Mário e Paulinho Aguiar, Paulinho Palácio, Anderson Sá, Joãozinho e João Filho, José Mangia, Luiz Nascimento, Cláudio Perrout, Sérgio Américo, João Ferreira, Pierre Carvalho, Ruy Fernando, Paulo Madureira, Sheila Trindade, Joaquim Pereira, Gilson Barcelos, Jaime Gonçalves, Nélson Nóbrega, eu, e tantos outros, estamos munidos de um lenço neste instante. Caiu um cisco em nossos olhos.
Ps: Teria muito a expressar também sobre a CBN, mas estando aqui neste portal, não poderia cometer a indelicadeza de reivindicar o testemunho. Pelo protagonismo e sendo o principal nome daquele muito bem sucedido projeto, o deixo para Sidney Rezende.
*Robson Aldir entrou para o Sistema Globo de Rádio como estagiário em outubro de 1991 e foi dispensado da empresa em maio de 2015.
Fonte: SRZD
Créditos: SRZD