Eu cresci, e toda a minha adolescência e início da faze adulta transcorreu em um país absolutamente governado por uma ditadura militar. Então não será necessário dizer que vi e convivi com um sistema absoluto em que respirar poderia tornar-se um ato subversivo – dependendo do lado para que você estivesse respirando – e novamente começo a sentir os ventos turbulentos do atraso me empurrando aos solavancos para um retrocesso de 50 anos! A diferença (e ainda bem) é que podemos contar com um espaço mais ou menos neutro que é a internet e isso nos permitirá, com todo o cuidado para não pisar em alguma mina plantada nesse terreno, em forma de Fake News e que por acaso possa nos levar a cometer algum mal-entendido. O certo é que a população brasileira saiu daqueles 90 milhões atordoados, para significativos 210, dos quais cerca de 150 não pediram e não aceitam esse estado de coisa que vem sendo empurrado goela abaixo já a alguns anos de forma lenta e quase silenciosa!
Diz a máxima que “os afins se atraem” e aprova está ai escancarada num governo em que cada membro escolhido trouxe a sua parcela de contribuição para uma tela obscura e assustadora que intencionalmente começa a ser pintada.
Na mais nova pincelada o autor carrega nas cores cinzas e preto, através do Ministério da Educação – MEC, ao praticamente impor aos diretores e professores de escolas públicas do Brasil, ao solicitar que no início do ano letivo se organize o alunado para cantar o hino nacional – o que até ai pode não parecer nada demais – mas que também nos faz entender que qualquer imposição num estado democrático de direito soa bem estranho, não é mesmo? Chama, ainda mais a atenção, quando através de e-mail o ministério pede que seja lida para as crianças uma carta do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, que termina com o slogan do governo “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos.” Numa clara propaganda do governo Bolsonaro que se sobrepõe a nossa já dilapidada democracia! Se isso lhe parece normal, deve ter alguma coisa errada com o que lhe disseram na escola (ou você deve ter faltado as aulas de história) o que seria imperdoável! Foi, também, solicitado que estes momentos sejam gravados e um arquivo enviado para o governo, especificando inclusive o tamanho máximo do arquivo!
A coisa toda vem sendo montada num silencioso jogo com possível efetivação do programa “Escola sem Partido” (Criado em 2004, o Escola Sem Partido foi transformado em associação em 2015 por Miguel Nagib, Procurador do Estado de São Paulo que criou, coordena e divulga o movimento. … Os integrantes do Escola Sem Partido elaboraram um anteprojeto de lei que prevê a fixação do cartaz com os deveres do professor nas salas de aula).
O que já parecia ser um retrocesso absurdo, se agiganta com as determinações do atual ministro, Ricardo Vélez, que pode ter como objetivo maior montar um arquivo perigoso dos chamados “inimigos do governo”, quando sugere que a mensagem deve conter o nome da escola, o número de alunos, de professores e de funcionários. “Para os diretores que desejarem atender voluntariamente o pedido do ministro, (o que se traduz como por “livre e espontânea pressão”) a mensagem também solicita que um representante da escola filme, com aparelho celular, trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino”. Alguém ai se lembra das sugestões do ainda embrionário governo, que incitava alunos a filmarem seus mestres em sala de aula transformando-se em verdadeiros X-9? Para um país que facilmente esquece (ou desconhece) a sua história facilmente, é mais provável que nem lembrem de tal sugestão, não é mesmo?
A medida provocou reações no meio educacional, entre pais de estudantes e até o próprio Movimento Escola sem Partido criticou a medida nas redes sociais! O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed) disse, em nota, que a ação fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação. “O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária”. Para o órgão, o Brasil precisa, “ao contrário de estimular pequenas disputas ideológicas na Educação”, priorizar a aprendizagem.
Mas nem reações contrárias da sociedade e de órgãos ligados a educação no Brasil parece inibir a caravana nefasta da destruição de direitos! É uma trapalhada atrás da outra que mais soa como intencional, proposital, que tentativa de acertar! É claro que se tivéssemos um timoneiro com o essencial conhecimento das cartas náuticas, esse grande barco não estivesse à deriva sofrendo tanta turbulência!
É lamentável ter de se admitir que o país que seguia a sua rota rumo ao desenvolvimento acabou trombando com o iceberg de “uma ponte para o futuro” de Michel Temer – MDB e agora corre sérios riscos ao seu desenvolvimento!
E com certeza essa, ainda, não será a última agressão que a população atônita sofrerá pelo longo e tortuoso caminho em que segue. Aproveitando aqui para me desculpar pelo uso carregado nesse artigo das chamadas “figuras de linguagem”, apelo para o bom senso de alguns possíveis integrantes dessa caravana desastrosa para que ajudem a fazer esse governo a ponderar mais em seus projetos tão nocivos a sociedade. Mas apelo bem mais a sociedade mais atingida para que reaja, acorde dessa letargia e diga não ao retrocesso. O Brasil é imenso e continua sendo um gigante adormecido.
Fonte: Francisco Airton
Créditos: Francisco Airton