Opinião

PT debate sucessão de Gleisi e luta por mais espaços no governo de Lula - Por Nonato Guedes

PT debate sucessão de Gleisi e luta por mais espaços no governo de Lula - Por Nonato Guedes

   O Partido dos Trabalhadores (PT) já abriu a discussão sobre o comando do partido diante da saída de Gleisi Hoffmann da presidência nacional para assumir a Secretaria de Relações Institucionais, conforme nomeação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após o remanejamento de Alexandre Padilha para o ministério da Saúde, no vácuo da exoneração da ministra Nísia Trindade; A sucessão no PT, inicialmente, será de forma interina até a realização da eleição que vai renovar o comando – e, nessa circunstância, os nomes cogitados são os do deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e o do senador Humberto Costa (PT-PE), que é coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral da legenda. A eleição está marcada para o dia seis de julho, sendo o ponto de partida para renovação e eleições nos Estados e Capitais. Em paralelo, os expoentes petistas lutam por mais espaços no governo do presidente Lula para contrabalançar o peso e a influência que partidos do Centrãoexercem na composição ministerial.

            Segundo a mídia sulista, havia um acordo para que José Guimarães assumisse interinamente a vaga até a eleição caso Gleisi fosse indicada para a Secretaria Geral da Presidência da República. No cenário em que Guimarães assumisse a sigla, ele e Gleisi apoiariam a candidatura de Edinho Silva para que ele fosse eleito sem oponentes. Como o presidente Lula optou pela deputada paranaense na articulação do governo com o Congresso, o acordo perdeu força e o nome do líder temporário da sigla seguia indefinido até as últimas horas. Edinho foi ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) no governo de Dilma Roussef e é tido por Lula como um quadro com bom trânsito político e com experiência. A base eleitoral do petista, porém, fracassou nas eleições municipais de 2024 em Araraquara (São Paulo) e não conseguiu emplacar sua sucessora, Eliana Honain, do PT, mesmo com recursos do governo federal e uma visita do chefe do Executivo ao município.

              O “Poder360” revelou que Guimarães era cotado para assumir a Secretaria de Relações Institucionais, entretanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria sido desaconselhado a fazer esse movimento pois diminuiria o trânsito com o Legislativo, já que os petistas têm aderência limitada na Câmara e no Senado, com bancadas enfraquecidas em relação ao poderio do Centrão. Em seu perfil no X (antigo Twitter), Lula declarou que Gleisi Hoffmann vai “somar na Secretaria de Relações Instritucionais da Presidência da República, na interlocução do Executivo com o Legislativo e demais Poderes”. Gleisi, por sua vez, declarou que recebia a nomeação de Lula “com imensa responsabilidade” e acrescentou que seguirá “dialogando democraticamente com os partidos, governantes e lideranças políticas”. Assinalou: “Sempre entendi que o exercício da política é o caminho para avançarmos no desenvolvimento do Brasil e melhorar a vida do nosso povo. É com este sentido que seguirei dialogando democraticamente, como fiz nas posições que ocupei no Senado Federal, na Câmara dos Deputados, na Casa Civil, na Diretoria de Itaipu e, ultimamente, na presidência do PT”.

              Gleisi externou seu agradecimento ao Partido dos Trabalhadores, dirigentes e militantes, pelo apoio que assegurou ter recebido “nestes anos em que tive a honra de presidir o partido” e, igualmente, agradeceu ao presidente Lula pela confiança e pelo estímulo no novo desafio, “na certeza de que vamos fazer o melhor pelo Brasil”. Uma ala de ministros e congressistas avaliava que seria um erro do presidente manter o cargo de representação da articulação política com o PT, mas outros viam como a única opção viável. Gleisi enfrenta restrições dentro do próprio PT e junto a partidos da base de apoio ao governo, mas é reconhecida e admirada como um quadro político qualificado. Concretamente, ela nunca faltou com a fidelidade ao governo, ao presidente Lula e ao partido, que vem presidindo desde 2017. Como presidente nacional do PT, de acordo com o depoimento de petistas acreditados, Gleisi se impôs como uma das principais vozes do partido na política brasileira, frequentemente defendendo as posições partidárias em relação aos temas em debate. Ela foi casada com o ex-ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, e atualmente se relaciona com o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), que é líder do partido na Câmara.

         A fidelidade ao Partido dos Trabalhadores não serviu de impedimento para que Gleisi Hoffmann viesse a público discordar de medidas de ministros do governo, como, por exemplo, Fernando Haddad, da Fazenda, de quem divergiu em algumas ocasiões. Mas ela é tida como disciplinada – e foi nessa condição que recuou de embates que estavam se tornando desgastantes, em última análise, para o próprio governo de Lula. Cresceu internamente, no respeito da companheirada, quando do enfrentamento declarado ao bolsonarismo, tendo se manifestado por inúmeras vezes com ataques ao ex-presidente Jair Bolsonaro e a políticas implementadas pelo seu polêmico governo. Junto a partidos da base, a expansão de espaços no PT é visto com desconfiança. Alguns líderes partidários consideram, mesmo, a hipótese de afastamento dessas legendas do entorno do presidente Lula, o que ficou mais nítido com a recente pesquisa indicando aprovação pífia da gestão do líder petista. Mas o mandatário não trabalha com essa hipótese, segundo dá a entender, até porque a governabilidade poderia colapsar.