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Promotor afirma que PCC está rachado e enfrenta sua pior crise em 30 anos

Desde 2006 o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente (SP), subordinado ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), investiga as ações do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Imagem: Sérgio Lima/AFP

Desde 2006 o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente (SP), subordinado ao MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), investiga as ações do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Segundo Gakiya, a facção está rachada e enfrenta a sua pior crise em 30 anos de existência. O promotor fez uma radiografia da guerra interna na organização e explicou que o conflito teve início em 2012 na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) e culminou este ano na Penitenciária Federal de Brasília.

Gakiya revelou que Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, apontado como o líder máximo do grupo, rompeu os laços de amizade e confiança com outros quatro importantes integrantes da cúpula da facção e agora tonaram-se rivais.

E acrescentou que três desses líderes divulgaram comunicado excluindo Marcola das fileiras do PCC. Em contrapartida, um “salve” (recado) assinado pela “sintonia final” da facção anunciou, na última quinta-feira (15), a expulsão e a “pena de morte” dessas três lideranças.

Veja os detalhes do maior racha do PCC, traçados ponto a ponto ao UOL, pelo promotor de Justiça Lincoln Gakiya:

Ano de 2012 – Marcos Paulo Nunes da Silva, o Baianinho Vietnã, preso à época na P2 de Venceslau, foi acusado de tomar uma biqueira (ponto de venda de drogas) e de mandar matar o dono dela sem autorização do PCC. Vietnã foi julgado pela cúpula da organização, acabou excluído e teve a morte decretada.

Segundo Gakiya, Marcola interveio, concordou com a exclusão, mas suspendeu o decreto da pena de morte. A decisão do chefão desagradou Edilson Borges Nogueira, o Biroska, preso no mesmo pavilhão de Vietnã na P2 de Venceslau na ocasião, e bem conceituado entre os membros da facção.

Ano de 2017 – O procurador de Justiça Márcio Christino e o jornalista Cláudio Tognolli lançam o livro “Laços de Sangue – A História Secreta do PCC”. Um dos capítulos diz que a ex-mulher de Marcola, Ana Maria Olivatto, morta em 22 de outubro de 2002, era informante do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais). Biroska soube da citação na obra e comentou na P2 que o caso deveria ser investigado.

Em dezembro do mesmo ano, ele foi assassinado na quadra do banho de sol, acusado de caluniar Marcola. A morte dele desagradou Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, Fabiano Alves de Souza, o Paca, Daniel Vinícius Canônico, o Cego, Roberto Soriano, o Tiriça, e outros líderes.

– Ano de 2018 – Gegê do Mangue e Paca são assassinados a tiros em Fortaleza no Ceará, a mando de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, que não é batizado no PCC, mas considerado braço direito de Marcola. O promotor Gakiya disse que os dois mortos tinham descoberto que Fuminho, Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, André de Oliveira Macedo, o André do Rap, entre outros, estavam utilizando a estrutura do PCC no Porto de Santos para exportar cocaína ao exterior, mas desviavam droga da organização. O duplo assassinato revoltou a cúpula da facção, especialmente Cego e Tiriça, e desencadeou um conflito sangrento no grupo criminoso.

– Final de 2018 – O Gaeco de Presidente Prudente anuncia a descoberta de um plano para resgatar Marcola e outros líderes do PCC na P2 de Venceslau. Gakiya afirmou que a ação seria liderada por Fuminho e que Cego seria morto durante o resgate. O plano fracassou.

– Ano de 2019 – Marcola e outros 21 líderes do PCC foram transferidos para presídios federais, a pedido de Lincoln Gakiya, após a descoberta do plano de resgate. Tiriça, Vida Loka e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, já haviam sido removidos há mais tempo.

– Outubro de 2019 – Cego, uma das mais importantes lideranças do PCC, foi afastado da facção porque jamais concordou com os assassinatos de Biroska, seu sócio e parceiro em negócios ilícitos, e de Gegê do Mangue e Paca. Gakiya contou que o que mais revoltou Cego foi Fuminho, o coordenador dessas duas últimas mortes, ter sido perdoado por Marcola. Quando ainda estava na P2, antes de ir para presídio federal, Cego divulgou um “salve” mandando matar todos os envolvidos nas execuções de Gegê e Paca. Cabelo Duro, acusado de participar do duplo assassinato, foi morto a tiros de fuzil uma semana depois. Por causa do “salve”, Cego foi excluído da organização.

– Ano de 2021 – Nadim Georges Hanna Awad Neto, o Nadim, foi sequestrado e morto pelo “tribunal do crime” do PCC. O corpo dele até hoje não foi encontrado. Segundo Gakiya, o motivo da morte foi Nadim não ter levado adiante o plano de resgate de Marcola em presídio federal. Gakiya disse que o mesmo fim teve Devanir de Lima Moreira, o Deva. Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, assumiu a função e não teve êxito. A expulsão do PCC e a morte dele foram anunciadas pelo MP-SP, mas ele continua vivo.

– Fevereiro de 2022 – Patrick Velinton Salomão, o Forjado, sai em liberdade da Penitenciária Federal de Brasília e ocupa a função de Tuta. Gakiya contou que, atualmente, Forjado é o principal chefe do PCC nas ruas e recebeu a missão de resgatar os líderes da facção. Mas, acrescentou, quando o preso estava em Brasília teria chegado a ser ameaçado de exclusão e morte.

– Junho de 2022 – De acordo com Gakiya, Marcola conversa com agentes penais na Penitenciária Federal de Porto Velho e chama Tiriça de “psicopata” por ter ordenado a morte da psicológa Melissa de Almeida Araújo, funcionária da Penitenciária Federal de Catanduva (PR), assassinada a tiros em maio de 2017. O diálogo foi gravado e o áudio acabou usado por promotores de Justiça no júri de Tiriça. Ele foi condenado a 31 anos e chamou Marcola de delator por causa do vazamento da conversa.

– Agosto de 2023 – Vida Loka e Andinho brigam a socos e pontapés no pátio de banho de sol da Penitenciária Federal de Brasília, onde também estão confinados Tiriça e Marcola. O embate expôs o racha interno no Primeiro Comando da Capital.

– Final de 2023 – É confirmada a expulsão de Valdeci Alves dos Santos, o Colorido, da cúpula do PCC. Gakiya revelou que ele foi acusado de desviar dinheiro da facção e só não foi morto porque estava envolvido no plano de resgate da liderança da organização.

– Ano de 2024 – Segundo Gakiya, Vika Loka e Andinho fizeramem as pazes, se uniram a Tiriça e passaram um “salve” excluindo Marcola e decretando a morte dele do PCC sob a acusação de má condução dos “negócios do Comando”, falta de responsabilidade e por agir por interesses próprios.

– Fevereiro de 2024 – Um “salve” assinado pela “sintonia final” do PCC comunica a expulsão de Tiriça, Vida Loka e Andinho do PCC por terem cometido calúnia e traição contra Marcola. A mensagem diz que o áudio da conversa de Marcola, vazado e usado no júri de Tiriça, foi analisado pela “sintonia final” e foi constatado que Marcola não fez nada errado.

O UOL não localizou os advogados dos envolvidos. O espaço continua aberto para manifestações.

Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba