O primeiro ato de Arthur Lira (PP-AL) à frente da presidência da Câmara arranhou a imagem do deputado e gerou desconfianças de integrantes da oposição e até mesmo de aliados de que o congressista possa ser autoritário na condução da Casa.
Na terça (2), integrantes de partidos de diversas matizes se revezaram em reuniões com Lira e cobraram dele compromisso de cumprir o discurso que usou na campanha, de que ouviria todos os pares para tomar decisões.
A pressão em cima de Lira e a ameaça desses partidos de que poderiam inviabilizar os trabalhos do plenário da Casa com obstruções foi o que levou o presidente da Câmara a recuar e articular um acordo com eles.
Após ser eleito em primeiro turno com 302 votos, Lira fez um discurso de conciliação no qual afirmou que ouviria todos os líderes de partidos antes de tomar decisões.
Menos de um minuto após dar a declaração, porém, o deputado deixou de lado a fala pela conciliação e baixou ato excluindo praticamente todos os adversários dos cargos de comando da Câmara.
Sob o argumento de que o PT perdeu por seis minutos o prazo para registrar no sistema eletrônico sua adesão ao bloco de Baleia Rossi (MDB-SP), o novo presidente rebaixou o partido do terceiro posto mais importante da Mesa, a primeira-secretaria, para o último, a quarta-secretaria.
Já PSDB e Rede, que também integravam o bloco adversário a Lira, perderam os postos a que teriam direito inicialmente (segunda e quarta secretarias).
A reação foi imediata. Parlamentares protestaram ainda dentro do plenário contra o ato. Para abafar as reclamações, no entanto, o novo presidente da Câmara cortou os microfones dos líderes.
Assim que ele acabou a sessão, deputados subiram o tom. Ainda naquela noite, oposicionistas mandaram recado via Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), aliados de Lira, de que o parlamentar ficaria impedido de gerir a Casa.
Em outras palavras, prometeram obstruir a pauta e não permitir que ele votasse nada.
Além de ter gerado desconforto em partidos de esquerda, Lira irritou congressistas que votaram nele para presidente. O ato foi classificado como revanchista e autoritário. “A atitude dele tirou o brilho de uma vitória maiúscula”, disse à Folha a líder do PC do B, deputada Perpétua Almeida (AC).
Na madrugada, congressistas enviaram mensagens e ligaram para Lira e combinaram uma reunião na terça pela manhã.
Na ocasião, reafirmaram ao presidente da Câmara que ele havia menosprezado o que pregou no discurso de posse a respeito da necessidade de diálogo na Casa e avisaram que não tolerariam atitudes autoritárias.
Após a pressão, Lira cedeu. Na terça, o presidente da Câmara construiu acordo e aceitou a indicação de nomes do PSDB, PT e PSB, que estavam no bloco de Baleia Rossi, para a Mesa diretora e suplências.Deputados dizem que ainda não há clareza sobre o modo como Lira vai gerir a Casa, mas que outras atitudes também levantaram receio de que ele seja autoritário.
O ex-líder do PSB Alessandro Molon (RJ) reclamou nesta quarta-feira (3) que havia um acordo em torno do nome de Marcelo Nilo (BA) para ocupar um espaço na direção da Casa, mas que aliados de Lira chancelaram outro deputado, Cássio Andrade (PSB-PA).
Em outro caso, a deputada Marília Arraes (PT-PE) venceu João Daniel (PT-SE), o indicado oficialmente pelo partido. Marília é considerada próxima de Lira.
Para deputados, o presidente da Casa estimulou candidaturas avulsas para conseguir ampla maioria na direção da Casa alinhada a ele.No PSL, a ala mais ligada a Luciano Bivar (PE) tem se queixado de ingerências de Lira na sigla. Pouco depois de tomar posse, o deputado revogou as suspensões de 17 deputados e abriu caminho para que Vitor Hugo (PSL-GO) pudesse ser líder na legenda.Outra decisão do presidente da Câmara que já começa a levantar polêmicas é a de retomar o trabalho presencial na Casa durante a pandemia do novo coronavírus.
Fonte: Notícias ao minuto
Créditos: Polêmica Paraíba