As secretarias de Saúde de Goiânia, em Goiás, e Maceió, em Alagoas, revisaram os procedimentos para evitar falhas na aplicação de doses da vacina contra a covid-19 e também para evitar problemas de desvio de doses em benefício próprio ou de terceiros. As três capitais tiveram flagrantes de casos em que houve denúncias de parentes de idosos de não injeção dos imunizantes. Os casos são apurados, mas as pastas já adotaram medidas para reforçar a vigilância sobre a correta aplicação da vacina.
Em Maceió, os profissionais de saúde passaram a ser obrigados a mostrar o frasco de vacina cheio, fazer a carga do êmbolo na frente do idoso e mostrar a seringa vazia após a aplicação. Em Goiânia, foi incentivada a participação de acompanhantes no momento da vacinação e o processo passou a ser acompanhado por supervisores. Eles registram o momento da vacinação e fazem relatórios.
Casos como esses ainda são pontuais, mas já foram incluídos na lista de possíveis fraudes apuradas pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), com o apoio do Ministério Público Federal. As promotorias do Ministério Público estadual também apuram as denúncias.
Em Goiânia, no último dia 10, a idosa Floramy de Oliveira Jordão, de 88 anos, se apresentou para a vacinação no Setor Universitário e a enfermeira colocou a agulha no braço dela, mas não injetou o imunizante. A cena foi registrada pela filha da idosa, Luciana, de 57 anos. “Eu estava filmando e percebi na hora que ela não tinha aplicado, pois a vacina estava toda na seringa. Aí questionei e ela admitiu que não tinha injetado. Disse que foi um erro e vacinou de novo”, contou.
Segundo ela, a mãe ficou muito nervosa com o episódio e a repercussão. “Ela foi picada pela agulha duas vezes, ao invés de uma.” A Secretaria Municipal de Saúde informou que a enfermeira foi afastada da campanha de vacinação e ainda responde a processo administrativo. Segundo a pasta, os elementos já colhidos indicam que a profissional não agiu de má-fé. “Embora seja uma profissional experiente, tudo aponta para falha humana não intencional”, disse a pasta.
O caso levou a um reforço nos procedimentos de segurança. Supervisores passaram a acompanhar todo o processo e foi incentivada a presença de acompanhantes da pessoa idosa no momento da vacinação. “Como a vacinação está sendo feita em sete escolas, em locais amplos e arejados para evitar aglomeração, inclusive pelo sistema drive-thru, não é possível ter câmeras em todos os locais, mas os supervisores acompanham e registram tudo”, disse a pasta. Até esta quinta-feira (11) tinham sido aplicadas 5.314 doses, incluindo idosos acamados.
Em Maceió, uma técnica de enfermagem foi afastada no dia 28 de janeiro, após deixar de aplicar a vacina em uma idosa de 97 anos. Conforme a advogada Andréa Lyra Maranhão, neta da anciã, a cuidadora filmou o momento da vacinação a pedido da família. “A intenção era fazer esse registro para compartilhar no grupo da família e comemorar, porque ela estava há muito tempo em isolamento”, disse.
Segundo ela, um parente, médico, observou as imagens e percebeu que a vacina não tinha sido injetada no braço da idosa. A avó foi levada de novo ao posto de vacinação. “Foi preciso mostrar as imagens para que eles corrigissem a falha e aplicassem corretamente a vacina”, disse.
A prefeitura de Maceió informou que o caso foi isolado e que a profissional de saúde foi afastada. Ela responde a um processo administrativo e a procedimento de apuração aberto pelo Ministério Público de Alagoas. O município informou ainda que o caso levou a uma revisão no protocolo de vacinação. Desde então, o profissional de saúde passou a mostrar ao paciente a seringa cheia antes da aplicação e vazia após o procedimento para a convicção de que a seringa foi esvaziada.
O MP disse que “apurou indícios cíveis e criminais, mas até o momento a servidora não foi ouvida, visto que o promotor aguarda que o município devolva um questionamento por ele elaborado para acompanhamento do caso”, informou a assessoria. Segundo a nota, o MP solicitou ao Instituto de Criminalística perícia na lixeira na qual teria sido feito o descarte do material.
Em Manaus, a denúncia da família de uma idosa fez com que ela fosse vacinada outra vez no dia 3. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, houve “falta de atenção quanto a problema no êmbolo da seringa, que não aspirou o líquido do frasco”. A pasta diz ter feito nova orientação a todos os postos, para redobrar cuidados para encaixe de agulha ou eventuais problemas de fabricação das seringas. Disse também estimular denúncias sobre problemas. Procurados, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde e o Ministério da Saúde não se manifestaram.
Na internet, também circulam vídeos que sugerem o uso de seringas vazias na aplicação da vacina ou simulações do momento da imunização, mas se tratam de edições manipuladas por grupos antivacina para disseminar desconfiança sobre os imunizantes. O Estadão Verifica mostrou que são falsas as acusações de que a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi imunizada sem agulha ou seringa. Também não são verdadeiras as mensagens que sugerem uma vacinação encenada da vice-presidente americana, Kamala Harris.
Ministério lançou campanha para denúncias sobre vacina ‘pirata’
Oportunistas que se aproveitam da ansiedade das pessoas para tomar a vacina levaram a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça e Segurança pública a lançar uma campanha com o slogan ‘Vacina pirata, não!’ para combater a venda de vacinas falsificadas pela internet. A iniciativa tem a participação do Ministério Público Federal, que já realizou ações contra as páginas que anunciam a venda de vacinas e divulgam informações falsas em redes sociais.
Com o apoio do MPF, a Senacon investiga mais de dois mil sites suspeitos de oferecer vacinas ilegais ou induzir o consumidor a erro sobre o tema. A comercialização de doses é crime e traz risco para a saúde e a segurança dos pacientes. A secretaria realiza varreduras em plataformas de comércio eletrônico para identificar os anúncios. Também foi aberto um canal para receber denúncias dos casos suspeitos.
O MPF orienta os responsáveis para que levem os pacientes idosos para se vacinar em postos oficiais, disponibilizados nos sites das prefeituras. Por orientação da Procuradoria-Geral da República (PGR), o MPF em primeira instância está atento a esses casos, que também podem ser levados para os Ministérios Públicos estaduais.
A regra geral é de que se permita que um acompanhante da pessoa idosa esteja presente no ato de vacinação. Em caso de suspeita, a população pode fazer a denúncia por meio do endereço eletrônico [email protected].
Fonte: Terra
Créditos: Polêmica Paraíba