A produção de petróleo no pré-sal brasileiro deve ganhar mais participação no mercado global nos próximos anos, mas ações defendidas pelo governo Lula podem dificultar esse movimento, avalia um estudo da Bloomberg Intelligence.
O estudo, obtido pela reportagem, aponta que o pré-sal vem se destacando especialmente por dois pontos: a extração tem custo baixo e gera menos emissões de carbono.
“A Petrobras está começando a colocar em operação várias novas soluções que podem aumentar significativamente a produção de petróleo enquanto reduz os custos de extração”, aponta a análise.
As novas tecnologias estão sendo desenvolvidas há alguns anos e devem entrar em operação em breve em dois dos principais campos do pré-sal, Búzios e Mero.
Um dos métodos é chamado de WAG (water-alternating gas), capaz de aumentar a retirada de petróleo e de manter a pressão nos poços, o que amplia a vida útil deles. O outro, chamado de Hisep, já faz a separação de petróleo e gás na saída do poço, e não na plataforma, o que reduz custos com embarcações.
“Havia a expectativa de que o custo de extração ia ser de 10 dólares por barril, mas está abaixo de quatro dólares, mesmo com toda a inflação que ocorreu na cadeia de suprimentos”, diz Fernando Valle, um dos autores do estudo, em entrevista para a reportagem.
O pré-sal é o nome genérico de uma grande quantidade de reservas de petróleo, descobertas a partir de 2006, que ficam sob grande profundidade e abaixo de uma enorme camada de sal. As reservas estão no oceano, perto dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
O pré-sal se destaca ainda por ter estoques gigantescos: o campo de Búzios tem mais de 8 bilhões de barris, e o de Tupi, 7 milhões de barris, por exemplo.
Valle explica que tirar mais petróleo de um mesmo poço faz com que não seja preciso abrir outros locais de perfuração, o que reduz o impacto ambiental. Outro ponto é que boa parte do gás extraído com o petróleo é reinjetado nos poços, e não queimado nas plataformas, como ocorre em outros casos. Isso ajuda a reduzir as emissões de carbono.
Para o analista, o barateamento da produção pode beneficiar os consumidores ainda mais depois da mudança na política de preços da Petrobras. Anunciada em maio, a nova regra passou a levar em conta o custo de produção mais uma margem de lucro, em vez de se concentrar na cotação internacional e em custos de importação.
Ao mesmo tempo, o aumento na produção de petróleo pode elevar as exportações brasileiras e trazer mais dinheiro de fora para a economia brasileira.
Segundo o analista, cerca de 93% dos derivados de petróleo consumidos no Brasil têm origem nacional, e esse percentual não deve aumentar muito nos próximos anos, pois os 7% importados são itens de categorias que o país não produz, mas que são necessários para a produção dos combustíveis.
As boas condições de extração devem atrair ainda mais a atenção de grandes empresas internacionais para o pré-sal. Uma mudança na lei, aprovada no começo do governo Michel Temer (MDB), em 2016, fez com que operadoras estrangeiras pudessem explorar campos do pré-sal sem a participação da Petrobras.
De acordo com Valle, das grandes petroleiras globais, apenas Chevron e BP ainda não participam de ações no pré-sal.
No fim do ano, por exemplo, a norueguesa Equinor deve começar sua produção no campo de Bacalhau, a 185 km de Ilhabela (SP). O projeto é feito em parceria com a ExxonMobil.
Os analistas apontam que a elevação da produção de petróleo no pré-sal deve seguir acelerada ao menos até 2026 ou 2027, pois as plataformas necessárias já foram encomendadas e os contratos já estão firmados.
No entanto, eles avaliam que o governo Lula poderia atrasar o avanço da exploração a partir de 2027, caso invista em ideias como exigir maior participação de fornecedores brasileiros na exploração ou tentar mudar políticas de ação da Petrobras, como direcionar grandes investimentos para outras áreas, como energia eólica offshore.
Valle critica, por exemplo, as falhas nos planos das construções de refinarias pela Petrobras na década passada. “Não é exagero dizer que foi muito dinheiro desperdiçado. A gente tentou construir Abreu e Lima, Premium 1, Premium 2 e Comperj. Gastamos mais de R$ 100 bilhões nestes projetos e só metade de Abreu e Lima ficou pronta. Com o capital, investido, dava para ter comprado duas ou três das maiores empresas de refino americanas, com capacidade de [refinar] de 5 a 6 milhões de barris ao dia. [Com Abreu e Lima] conseguimos 123 mil barris ao dia”, compara.
Outra vantagem do pré-sal é que sua composição é do tipo “medium sweet”, que permite gerar outros derivados além da gasolina, como querosene de aviação.
Na categoria medium, cerca de 45% de cada barril dá origem à gasolina, enquanto os barris extraídos das reservas de xisto, comuns nos EUA, geram em torno de 55% de gasolina.
Ao mesmo tempo, o petróleo do pré-sal pode ser transportado de modo mais fácil do que o extraído em países como Colômbia, Venezuela e Canadá. “Petróleo mais pesado precisa de vários diluentes para ser transportado. O petróleo médio também tem menos enxofre, o que reduz o risco de explosão. Se há muito enxofre, há um custo extra para retirar a substância”, explica Valle.
Fonte: Polêmica Paraíba com Notícias ao Minuto
Créditos: Polêmica Paraíba