A população possui a tendência de repetir e, muitas vezes de naturalizar, as ideias dos seus governantes, para o bem e para o mau. Dito isto, quero lamentar, mais uma vez, a falta de respeito com que o presidente Bolsonaro trata a região nordeste e, principalmente, o estado da Paraíba. E muito embora pareça algo menos importante, principalmente para os adeptos do politicamente insano, utilizar o adjetivo “paraíbas” para se referir aos nordestinos é, acima de tudo, um ato xenofóbico. E se o exemplo é ruim, piores serão os resultados advindos dessa ação.
Um dia após o fiasco da partida entre Emelec do Equador e o Flamengo, haja vista a derrota do time brasileiro, muitos torcedores, no afã de encontrar um culpado para o insucesso do seu time, passaram a agredir o jogador piauiense Renê Rodrigues, utilizando-se, dentre outros termos pejorativos, o de Paraíba. O fato é que todo nordestino vítima de preconceito, da aversão e das intolerâncias, quando vivendo no eixo sul-sudeste, sabe que este tratamento visa ofender e, para nós paraibanos, a adjetivação possui um atenuante, pois se objetiva a nos diminuir. É como se o nome de nossa terra amada fosse sinônimo de humilhação, de xingamento.
Primeiro quero repudiar qualquer ato de violência e de desrespeito advindos do futebol, pois o esporte possui um significado diferente do que o que foi expresso no caso em questão. Depois quero me solidarizar com o jogador ofendido. Assim como preciso dizer que o presidente Bolsonaro abriu da caixa de pandora e, portanto, possui boa parte da culpa.
Bolsonaro inaugurou a temporada dos impropérios e, com isso, deu voz aos fascistas enrustidos, tirando do armário os machistas assassinos, os nacionalistas-suprematistas e os demandantes da pistolagem no campo, entre outas aberrações criminosas e conservadoras. Quando resolveu atacar de forma gratuita e desrespeitosa as mulheres, estimulou uma onda de feminicídio. Mas Bolsonaro também resolveu atacar os negros, os quilombolas e os índios e, com isso, anos de esforços para conter a discriminação racial foram por água abaixo. Um capoeirista assassinado por um bolsonarista em Salvador, o genocídio contra indígenas foi desencadeado e os quilombolas passaram a ser taxados nas redes sociais de vagabundos.
Agora, vem por aí uma nova onda, o do nepotismo justificado, quando poderemos ver o surgimento da meritocracia familiar. Onde os detentores de cargos públicos dirão “o filé mignon vai para os meus”. E se o presidente pode, dirão seu governados, por que não eu.
Diante de tanta demência e desumanidade, acho que está mais do que na hora dos legisladores pensarem numa lei específica para punir como crime de ódio as opiniões advindas dos que possuem capacidade de influenciar as massas, tipificando com severidade os atos que instigam à violência e promovem reações que empurram a sociedade à barbárie.
Fonte: Marcos Henriques
Créditos: Polêmica Paraíba