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Por que Brasil vacinou 88 milhões em 3 meses contra H1N1 e agora patina contra Covid-19

Quando a campanha começou, a maioria das doses necessárias já estavam nas mãos do governo federal, que tinha desde o ano anterior acordos para a compra de três imunizantes.

O Brasil virou um exemplo a ser seguido na pandemia. O país superou sua meta e vacinou mais de 88 milhões de pessoas.

Quando a campanha começou, a maioria das doses necessárias já estavam nas mãos do governo federal, que tinha desde o ano anterior acordos para a compra de três imunizantes.

O governo também lançou uma campanha contra os boatos que colocavam em xeque a eficácia e a segurança das vacinas.

Essa era a situação do Brasil em junho de 2010, três meses depois do começo da campanha de imunização contra a gripe suína, doença causada por uma variante do vírus H1N1 que causou uma crise global.

O Brasil chega agora, na luta contra a Covid-19, à mesma marca dos três meses de vacinação, mas em uma situação bem diferente.

Pouco mais de 25 milhões de pessoas, cerca de 12% da população, receberam ao menos uma dose desde 17 de janeiro, e só 8,5 milhões, em torno de 4%, tomaram as duas doses necessárias.

“A gente continua a ser um exemplo, só que o pior e não mais o melhor como a gente já foi”, diz Cristina Bonorino, integrante do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.

A pesquisadora diz que essa diferença é por causa da falta de vacinas. “Se não fosse por isso, certamente não estaríamos onde estamos hoje”, diz.

Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, acha a mesma coisa. “É o único limitador”, diz ele.

Ele acredita que hoje mais gente poderia estar vacinada a essa altura do que há dez anos, porque a Covid-19 é uma doença mais perigosa que a gripe suína.

“O que move as pessoas é a sensação de risco. Teria filas e filas, pessoas estariam sendo vacinadas 24 horas por dia. Mas estamos em uma campanha de vacinação que não tem vacina.”

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou a campanha de vacinação contra H1N1 e esteve à frente do Programa Nacional de Imunização entre 2011 e 2019, diz que a campanha atual é mais complexa.

Isso porque as vacinas hoje são aplicadas em duas doses, em vez de uma como a para H1N1, e os imunizantes têm regimes diferentes de administração.

Mas ela acredita que o país tinha o potencial de estar em uma posição melhor, porque a população quer se vacinar e toda a estrutura estava pronta para essa campanha.

“É lamentável. Temos um programa que é referência, mas estamos na rabeira mundial, junto com países que não têm a menor capacidade de fazer vacinação por causa de questões política e erros estratégicos que levaram à escassez de vacinas”, diz Domingues.

Fonte: Folha
Créditos: Polêmica Paraíba