Ninguém tem a curiosidade em saber por onde anda nossa juventude? Tão silenciosa nestas três últimas décadas… Os conflitos de gerações – se é que ainda existem – são imperceptíveis. Despareceram os rebeldes imberbes dos 14 aos 18 anos, e a feminilidade desafiadora, explodida pelos hormônios. Os jovens sempre marcaram o fim de um ciclo, ou iniciaram uma transformação inovadora no comportamento político e social. No Brasil, a última vez que foram vistos (nas ruas) foi no impeachment de Collor e em 2013. Esta fuga do momento – ainda não pesquisada ou discutida – tem refletido nos meios da comunicação e do entretenimento, desertos de audiência a cada dia que passa. A “telinha” ditava a moda, o livro; a poesia; a música de sucesso e até gírias passageiras… O Show-Business desconhece seu futuro, não sabe mais como reconquistar sua principal fonte de consumo: a juventude.
Os jovens ocuparam as redes sociais – como forma de rebeldia fugindo do convencional – usando inicialmente o extinto Orkut. Mudaram-se para o Faceboock, Twitter e SMS, onde permaneceram até 2014. Depois, começaram a desertar e se dispersaram entre o Youtube e Instagram. A mutação trouxe sequelas danosas ao entretenimento profissional do teleteatro (novelas), que mesmo de forma apelativa – mostrando cenas fortes e temas complexos – não tem mais público desta faixa etária. A maior abstenção eleitoral da história do país, onde o voto é obrigatório e facultado a partir dos 16 anos, ocorreu em 2018. Quase 30% do eleitorado não compareceu as urnas. Se pesquisarem, perceberão que a grande ausência foi a dos jovens.
Metade dos anos 50 (século XX), o Rock estourou nos Estados Unidos e foi alastrando-se mundo afora. O estilo musical era enlouquecedor e suas letras incentivaram a juventude a enfrentar a hipocrisia doutrinária de sua época. Uma agitação encorajadora trouxe a reboque a independência feminina – abalou as estruturas de todas as Religiões e suas Igrejas – a partir da chegada e comercialização aberta do anticoncepcional, no início dos anos 60. Enquanto a mídia conservadora se preocupava com a terceira guerra mundial, quatro cabeludos da cidade de Liverpool-Inglaterra (os Beatles), no embalo do Rock erradicaram por completo as gerações milenares que se inspiravam no heroísmo de “campos de batalhas”. Entre 1914/1918 se mataram em nome de patriotismos. Depois, 1939/1945 morreram todos defendendo ideologias.
Pregando paz e amor, os Beatles deram origem ao movimento hippie que chegou a todos os continentes. Acabaram com a guerra do Vietnã e consolidaram os Diretos Civis nos Estados Unidos, que viveu seu maior período de violência desde sua independência. Políticos e Polícia foram incapazes de impedirem que negros e brancos passassem a frequentar a mesma escola, bar; bairros; transportes públicos, restaurantes e elevadores. A Guarda Nacional e o próprio Exército norte-americano esteve nas ruas para conter as revoltas que perdurou por oito anos.
A partir de 1965, este efeito “furacão” chegou ao Brasil. Veio para arrebentar… Os garotos deixaram seus cabelos e barbas crescerem, as garotas encurtaram suas saias até o meio das coxas… Foi uma loucura total! Ideologias? Nem pensar. Comunismo? Só com sexo abundante, sem trabalho nem violência. Aboliram o Jazz, Samba; Tango; Boleros; Valsas; infelizmente com até a nossa Bossa Nova – rica em melodia e poesia – e a tropicália esquerdista… O rolo compressor da juventude e sua rebeldia esmagou Filósofos, Pensadores contemporâneos; clássicos da literatura… Ninguém queria mais saber disto. Botaram abaixo a “doutrinação” das esquerdas nos colégios públicos, e acabaram com o seu patrulhamento ideológico: todos se assumiram “alienados”.
Jamais iriam deixar de ouvir Roberto Carlos, Erasmo; Wanderleia; Renato e seus Blue Caps… Porque as esquerdas não os aceitava. Paixão era coisa de pequeno burguês? Todos passaram a se comportar como burgueses. Sem a juventude como “massa de manobra”, as esquerdas veteranas universitárias partiram para a loucura da luta armada.
Um dia o Rock parou. O cinema fechou e o rádio suavizou a música. Tudo se transformou em nostalgia… Não houve a terceira guerra, o muro de Berlim caiu; Rússia e China se tornaram capitalistas estatais e a Europa há mais de 70 anos não briga mais entre si. Outros movimentos musicais surgiram, mas, sob a inspiração da televisão que invadiu todos os lares do mundo entre 1975 a 2010. Ideologias? Pelo visto só quem precisa delas para viver, são os retrógados privilegiados da era petista.
Fonte: Júnior Gurgel
Créditos: Júnior Gurgel