A pauta sobre a concessão de anistia aos presos do 8 de janeiro é uma das polêmicas que aguardam o deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos), favorito na eleição para presidente da Câmara Federal no próximo sábado, tornando-se mesmo o grande teste de fogo da gestão que sucederá a Arthur Lira (PP-AL). Motta, que tem o apoio de deputados bolsonaristas e lulistas, sofre pressão dos dois lados com objetivos opostos – os primeiros reclamando a anistia, os outros contestando a proposta. Numa entrevista transmitida pela Revista Oeste, ontem, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pôs lenha na fogueira ao assegurar que Hugo Motta vai seguir o regimento interno e agendar a votação do projeto de lei da anistia, caso seja aprovado o regime de urgência.
Questionado sobre o apoio do PL a Hugo Motta, o ex-presidente comentou: “O compromisso dele (Hugo Motta) comigo é seguir o regimento”. Ele também insinuou que, caso isso não aconteça, os parlamentares do partido podem obstruir a pauta e “complicar a vida do pessoal” no Congresso. “Se conseguir uma urgência, ele (Hugo Motta) bota em votação. Eu não tenho específico com Hugo Motta esse ou aquele assunto. Ele sabe o que nós queremos. Mas não pode um presidente da Câmara simplesmente ignorar o regimento, porque os nossos parlamentares tem como partir para a obstrução e complicar a vida do pessoal lá dentro. A gente quer deixar que o governo vote suas propostas”, explicou Bolsonaro.
Ao defender a aprovação da anistia, Bolsonaro classificou como “uma tortura” a prisão dos participantes da invasão aos prédios dos Três Poderes em 2023. “Mais importante do que a nossa vida é a liberdade. Não é justo mulheres, avós condenadas”, falou. O ex-presidente voltou a negar o plano de golpe que lhe é atribuído em inquéritos no Supremo Tribunal Federal e em outras instâncias. Ao lado do filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o ex-mandatário voltou a dizer que deseja ser candidato em 2026. Ele também comentou a possibilidade de o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) disputar o Planalto. “Tarcísio é uma cabeça fantástica, baita gestor, está em um estado que tem a maior densidade demográfica do Brasil, fazendo um excelente trabalho em São Paulo, mas tem que ver como ele fica perante o Lula, por exemplo. Se ele tem entrada no Nordeste, se ele não tem”.
Fontes ligadas a Hugo Motta revelam que ele examina saídas para o impasse em torno de polêmicas como a da anistia. Uma delas seria o engavetamento do projeto, mediante tática de protelação com a criação de uma comissão especial para analisar o assunto. A fórmula já foi adotada pelo atual presidente Arthur Lira para ganhar tempo e contornar a pressão dos bolsonaristas. O problema, para Hugo Motta, é que a pressão é cada vez mais intensa, sendo acompanhada, agora, da ameaça de obstrução dos trabalhos legislativos pela bancada alinhada com o ex-presidente da República. A anistia interessa de perto ao próprio Bolsonaro como estratégia para tentar reverter a sua inelegibilidade, uma vez que pretende concorrer novamente ao Planalto nas eleições de 2026.
Amanhã, o deputado paraibano será homenageado com um jantar em São Paulo pela bancada federal do Estado que, por unanimidade, hipotecou apoio à sua candidatura à presidência do Senado. O governador Tarcísio de Freitas, colega de partido de Hugo Motta, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, que foi reeleito em outubro, participarão do evento. Hugo Motta fortaleceu-se politicamente no páreo depois que os deputados ElmarNascimento (União Brasil) e Antônio Britto (PSD), ambos da Bahia, retiraram suas postulações e alinharam-se com a sua candidatura. O presidente atual da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é o grande cabo eleitoral do deputado paraibano. Lira é cotado para ocupar um ministério na reforma anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.