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'Pepeca livre': elas contam por que decidiram parar de usar calcinha

Liberdade, empoderamento e melhora da saúde íntima: estes são os principais motivos que levam mulheres a parar de usar calcinha. Não é de hoje que médicos e especialistas recomendam períodos sem a peça íntima para que a região da vagina se mantenha ventilada.

Liberdade, empoderamento e melhora da saúde íntima: estes são os principais motivos que levam mulheres a parar de usar calcinha. Não é de hoje que médicos e especialistas recomendam períodos sem a peça íntima para que a região da vagina se mantenha ventilada.

Geralmente, ginecologistas indicam que as mulheres durmam sem calcinha para equilibrar a flora vaginal, diminuir o números de corrimentos e de riscos de infecções. Mas algumas pessoas têm acolhido a recomendação por completo, abolindo o uso da peça íntima até em situações corriqueiras, durante o trabalho ou ida a uma festa.

“Ter a pepeca livre é uma forma de quebrarmos alguns padrões. Me sentia aprisionada usando calcinha”, conta a influenciadora digital Manuela Xavier, que parou de usar a peça há cerca de três anos.

Em entrevista a Universa, ela e outras duas mulheres compartilham detalhes da decisão, os benefícios da mudança e compartilham dicas para quem também quer ter a pepeca livre.

De jeans, sem calcinha?

Uma das primeiras dúvidas que surgem na cabeça de quem decide parar de usar calcinha é quanto ao uso de roupas com tecidos mais pesados, como a calça jeans que, ao contrário de um pijama, por exemplo, pode gerar desconforto quando em contato direto com a vagina.

Manu (que também é psicanalista e doutora em psicologia) diz que o seu guarda-roupa foi moldado a partir da decisão de parar de usar calcinha. “Não tenho jeans, só uso saia longa e calças mais soltas, de algodão”, pontua. Já para a analista de seguro Bruna Cordeiro, de 26 anos, todo o processo foi uma questão de se adaptar a novos tecidos em contato com a vagina.

A analista de seguro Bruna Cordeiro conta que parou de usar calcinha há 5 anos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A analista de seguro Bruna Cordeiro conta que parou de usar calcinha há 5 anos
Imagem: Arquivo pessoal

“Nunca me machucou. No começo eu achava estranho o contato com o jeans, porque todas sensações eram novas. Com o tempo ficou tão normal que se tornou indiferente… mas nunca foi um problema”, garante a analista, que está há 5 anos sem usar a peça íntima.

Ela comenta que a decisão surgiu por causa das repetitivas crises de infecção urinária. “Desde criança eu tinha problemas com infecção de urina, já cheguei a ficar internada por conta disso. Era horrível A última vez que eu tive foi durante a minha gestação, e eu fiquei desesperada, pois poderia causar um parto prematuro e em casos extremos poderia até perder meu filho”, diz.

“Na época, minha ginecologista sugeriu que eu deixasse de usar calcinha e me explicou todos os benefícios dessa escolha e eu topei. Nunca mais tive infecção urinária, o cheiro da região ficou muito mais suave, clareou um pouco a minha virilha também; além disso, nunca mais tive candidíase”, relembra Bruna, que afirma ter “retirado a peça do dia a dia” aos poucos.

Débora Rosa, médica ginecologista natural, esclarece o assunto. Ela explica que a vagina é um orgão autolimpante e, por causa do contato direto com o tecido da calcinha, o PH da região pode sofrer modificações e causar doenças. “Com a área mais ventilada, a vagina consegue ‘se regenerar’ sozinha, já que sua flora estará equilibrada, sem se preocupar com a presença de um ‘corpo estranho'”.

Menstruei… e agora?

Outra dúvida que surge frequentemente na cabeça de mulheres que não querem usar calcinha é quanto ao período menstrual: como lidar com o sangue e vazamento?

"As pessoas não conseguem acreditar que eu não uso calcinha. Alguns acham que eu sou doida, mas já me acostumei", diz a estudante de medicina Victoria Abreu  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
“As pessoas não conseguem acreditar que eu não uso calcinha. Alguns acham que eu sou doida, mas já me acostumei”, diz a estudante de medicina Victoria Abreu

Imagem: Arquivo Pessoal

A doula e estudante de medicina Victoria Abreu Gatto, de 23 anos, compartilha sua estratégia. “Quando estou menstruada, faço sangramento livre e procuro usar vestidos mais escuros, para não chamar tanta atenção na rua se eu precisar sair. Se meu fluxo estiver muito alto, as vezes eu coloco uma calcinha menstrual que eu tenho para sair e trabalhar e não me incomodar com as pessoas falando, porque sei que vão ter olhares e pessoas falando sobre isso, como já aconteceu”.

Ela conta que deixou de usar a peça íntima há 2 anos, porque se sentia incomodada com a roupa. “Tinha parado de usar calcinha para dormir desde os 15 anos e passei a encontrar vários relatos positivos de mulheres que também aderiram ao hábito durante o dia, e foi assim que me libertei”, resume.

Assim como Victoria, a influenciadora Manu Xavier também é adepta do “fluxo livre”. “Não uso copinho, nem absorvente. Como trabalho de casa, não me preocupo com o sangramento. Vou ao banheiro de hora em hora para evitar manchar algo e não tenho grandes problemas com isso”.

Já a analista de seguro Bruna Cordeiro faz uso de coletor menstrual. “Meu fluxo é pouco e dura no máximo 4 dias. Eu não passei por nenhum vazamento e, portanto, a calcinha nunca se fez necessária nessa situação”.

“Dizem que é coisa de feminista”

Além da diminuição de infecções, a médica ginecologista Débora Rosa frisa que outro benefício para a suspensão da calcinha é a melhora de “maus cheiros” na região – isso pelo fato dos odores serem causados, muitas vezes, também pelo desequílibrio da flora vaginal.

“É importante ter cuidado para não deixar a vagina em toque direto com alguma área suja, como banco de ônibus ou outro lugar público; nesses casos, oriento que a paciente use sim calcinha ou outro tecido que impeça a troca de contato”, explica.

Mesmo com todos esses benefícios, ainda há quem critique as mulheres que pararam de usar calcinha, como acontece com a analista Bruna: “As pessoas acham que é falta de higiene, ‘coisa de feminista’, acham que machuca quando usa calça, etc… Num geral as pessoas sempre estranham quando falo sobre isso”.

A estudante Victoria também enfrenta questionamentos sobre a sua decisão. “As pessoas não conseguem acreditar que eu não uso calcinha. Alguns acham que eu sou doida, mas já me acostumei. Sempre tento falar sobre o quanto me faz bem, seguir por esse caminho. Em casa foi difícil por um momento, mas hoje eu moro com a minha mãe e ela respeita e entende”.

Manuela Xavier, por outro lado, fala abertamente sobre o assunto em suas redes socias e se diz precursora do movimento “pepeca livre”. Para ela, não usar calcinha é um ato de empoderamento feminino. “Se o homem não usa cueca, ele não é julgado por fazer essa escolha, então, por que nós, mulheres, sofremos julgamento quando decidimos fazer o mesmo? Tem algo errado aí”, finaliza.

Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba