O presidente Jair Bolsonaro ataca profissionais jornalistas e o jornalismo por meio de discursos, entrevistas e postagens em mídias sociais, ao menos duas vezes por semana. Até 31 de outubro, foram 99 declarações vistas como ataques a jornalistas (11 ocorrências) e descredibilização da imprensa (88 ocorrências), que visam deslegitimar o trabalho jornalístico, colocando a imprensa e os jornalistas como adversários políticos, ou descredibilizando o trabalho de profissionais e veículos.
O levantamento é da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), divulgado na véspera do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, lembrado em 2 de novembro. O mapeamento se refere a dados coletados no período de 1º de janeiro a 31 de outubro deste ano, com base em todas as postagens de Bolsonaro no microblog twitter e no facebook este ano (as contas são sincronizadas), além das transcrições dos discursos e entrevistas oficiais, que constam no site do Palácio do Planalto. Foram avaliadas todas as ocasiões em que o presidente se refere a jornalistas, mídia, imprensa e produção de notícias. A FENAJ divulgará o balanço mês a mês.
Em uma sociedade democrática, a imprensa é livre para reportar o que considera noticioso, e todo cidadão também tem o direito de exercer a crítica sobre o trabalho jornalístico. Porém, quando autoridades públicas usam de sua visibilidade para colocar profissionais jornalistas ou a imprensa em si como oponentes políticos, abre-se o espaço para ataques às liberdades de imprensa e de expressão, e descredibilização do trabalho jornalístico, função essencial para a manutenção de um espaço público democrático.
“A FENAJ e todas as instituições que prezam pela democracia não podem aceitar a institucionalização da violência contra jornalistas e das ameaças à liberdade de imprensa como prática de um governo”, afirma a presidenta da FENAJ, Maria José Braga.
Ocorrências
O levantamento da FENAJ mostra que os ataques à imprensa tiveram início dois dias depois da posse, via conta pessoal no twitter do presidente, em 3 de janeiro, quando Bolsonaro afirmou que um de seus ministros fala o que “parte da grande imprensa omite”.
De janeiro a junho, foram entre duas e 12 declarações por mês contra jornalistas e o jornalismo, contudo, houve um aumento significativo nos meses de julho e agosto, totalizando 39 registros. Em setembro, houve queda no número de ocorrências, com o mapeamento registrando oito, contudo, cinco desses ataques foram proferidos pelo presidente Bolsonaro durante seu discurso na 74ª. Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 24 de setembro, diante de chefes de Estado de todo o mundo.
A forma como o presidente se refere ao trabalho dos jornalistas e à publicação de conteúdo informativo pela imprensa contém expressões com questionamento da veracidade, atribuindo às instituições o papel de adversárias, conclama para que a população não acredite nas notícias, ataca profissionais jornalistas chamando de “idiota”, afirmando que cometem “excessos”. Bolsonaro também afirma reiteradas vezes que a imprensa “esculacha”, “massacra”, “acusa”, “está na oposição”, “que tem lado”, “presta desserviço”, que “publica mentiras”.
No dia 13 de setembro, Jair Bolsonaro chegou a afirmar, em sua conta no twitter, que a imprensa é inimiga: “Nossa inimiga: parte da GRANDE IMPRENSA. Ela não nos deixará em paz. Se acreditarmos nela será o fim de todos”.
No mês de outubro, foram 13 ocorrências de menções à imprensa de forma a descredibilizar o trabalho do profissional jornalista. O episódio da “live” do dia 30 de outubro aparece somente uma vez na contagem, ainda que o presidente tenha proferido diversos ataques nos 20 minutos de vídeo, pois na base de dados elencada pela FENAJ não são analisadas declarações do presidente que não estejam transcritas de forma oficial.
“Nesse mapeamento, que produzimos de forma a seguir uma metodologia de busca e de categorização para visibilizar esses ataques à nossa profissão por parte do presidente, entendemos que é uma postura deliberada de Jair Bolsonaro colocar profissionais jornalistas como inimigos e a imprensa, de uma maneira geral, como sem credibilidade para apurar, produzir e publicizar informações. Enquanto entidade de defesa dos trabalhadores jornalistas, vamos expor essa postura institucionalizada”, explica Paula Zarth Padilha, diretora da FENAJ.
Ataques a jornalistas
A contaminação do ambiente democrático pelo acirramento das disputas políticas tem feito aumentar os episódios de violência contra jornalistas. O Relatório de Violência Contra Jornalistas e a Liberdade de Imprensa no Brasil, da FENAJ, aponta que em 2018 o número de agressões a jornalistas chegou a 135 casos, contra 227 jornalistas, um aumento de 36% nos casos de violência contra os profissionais, em relação ao ano anterior. Em 22% das violências no último ano, os autores de violência foram manifestantes ou eleitores.
“Percebemos que o discurso que coloca jornalistas como adversários tem impacto na segurança de todos os profissionais, seja na cobertura de assuntos do dia-a-dia, quando estão sujeitos a intimidações e a violência física, seja no ambiente digital, quando jornalistas têm seus perfis nas redes sociais expostos e começam a sofrer diversos ataques, xingamentos, ameaças e exposição de informações pessoais, como endereço residencial e fotos da família. Não são poucos os casos de jornalistas que tiveram que fechar suas contas em redes sociais por causa de ameaças”, diz Márcio Garoni, diretor da FENAJ.
Mapeamento
O mapeamento de posicionamentos do Presidente da República, Jair Bolsonaro, contra os profissionais jornalistas, a produção de notícias e as instituições de produção de notícias, representadas pelos veículos de imprensa, produzido pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), no ano de 2019, tem como objetivo divulgar, denunciar e visibilizar os ataques e reafirmar a defesa dos jornalistas, do jornalismo e da democracia.
Fonte: Fenaj
Créditos: Fenaj