O Ministério da Saúde disponibilizou uma plataforma com o objetivo de orientar médicos a prescreverem medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina a pessoas, tanto bebês como adultos, com sintomas de Covid-19. O site desmente a fala do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de que nunca indicou ou autorizou que sua pasta indicasse medicamentos contra Covid-19.
A ferramenta, chamada “TrateCOV” possibilita que profissionais de saúde reportem os sintomas e ao final dessa etapa orienta que os médicos iniciem o que a pasta chama de “tratamento precoce” com a prescrição dos medicamentos, que não têm eficácia comprovada contra a doença.
“A senhora nunca me viu receitar ou dizer, colocar para as pessoas tomarem esse ou aquele remédio. Nunca!”, disse o ministro em resposta a uma repórter nesta semana. “Eu nunca indiquei medicamentos a ninguém. Nunca autorizei o ministério da Saúde a fazer protocolos indicando medicamentos”, completou.
Diante de uma simulação com os dados de um paciente na plataforma, reportando sintomas da doença, ao final, o “TrateCOV” orientou o início do “tratamento precoce”. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não existe medida terapêutica cientificamente comprovada contra Covid-19, ou seja, não é possível falar em “tratamento precoce” tampouco indicar remédios específicos.
A reportagem inseriu dados de uma mulher jovem, com sintomas como perda de olfato, paladar e febre. A plataforma estabeleceu um índice de gravidade de “24” para o quadro descrito e recomendou como conduta “iniciar tratamento precoce” com um comprimido de cloroquina de 12 em 12 horas no primeiro dia e depois uma pílula por dia até completar um ciclo de cinco dias. O GLOBO também simulou sintomas em um bebê de um ano e as prescrições foram exatamente as mesmas.
A plataforma também orientou o uso de dois comprimidos de hidroxicloroquina de 12 em 12 horas no primeiro dia e, depois, dois comprimidos por dia durante cinco dias. O Ministério da Saúde receita ainda sete comprimidos de Ivermectina por cinco dias e 5 comprimidos de azitromicina por cinco dias. Por fim, a plataforma indica o uso de um comprimido Doxiciclina de 12 em 12 horas durante cinco dias; e 14 comprimidos de sultato de zinco por sete dias.
Nesta quarta-feira, a versão disponível do site está no ar “exclusivamente, para médicos e enfermeiros que atuam na Secretaria de Saúde do Município de Manaus, na Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas e Hospitais privados do Município de Manaus, que terão a validação de seus cadastros realizados pelas referidas gestões.”
Manaus vive um colapso em sua rede de saúde devido ao aumento de casos de Covid-19. Nos últimos dias, a cidade mergulhou em uma crise sanitária aprofundada pela falta de oxigênio para tratamento dos pacientes.
No início do mês uma comitiva do Ministéro da Saúde esteve na capital do Amazonas. Na mesma época, um ofício da pasta pressionou a secretaria municipal de saúde pela adoção do “tratamento precoce” e uso dos medicamentos recomendados pelo governo, que não têm eficácia contra a doença.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “TrateCOV orienta opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada e oferece total autonomia para que o profissional médico decida o melhor tratamento para o paciente, de acordo com cada caso”.
A pasta diz ainda que a lista de medicamentos sugeridos pode sofrer alterações “de acordo com os estudos científicos em andamento.”
“O TrateCOV é uma ferramenta criada para auxiliar médicos na coleta de sintomas e sinais de pacientes. A plataforma utiliza um protocolo clínico para fazer um diagnóstico rápido por meio de um sistema de pontos, obedecendo rígidos protocolos clínicos. O objetivo é dar maior segurança e rapidez no diagnóstico clínico e no tratamento da Covid-19”, afirma o comunicado.
Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba