Embate político

Paraibanos no centro da disputa pelo comando da Comissão de Relações Exteriores; entenda o impasse

O impasse gira em torno da indicação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a presidência do colegiado, posição fortemente contestada pelo petista.

Paraibanos no centro da disputa pelo comando da Comissão de Relações Exteriores; entenda o impasse

Paraíba - A disputa pelo comando da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados tem sido a mais acirrada do início do atual período legislativo e coloca dois paraibanos no centro do embate político: o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). O impasse gira em torno da indicação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para a presidência do colegiado, posição fortemente contestada pelo petista.

Lindbergh Farias, um dos principais opositores ao bolsonarismo no Congresso, argumenta que a postura do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro em relação à política externa brasileira é prejudicial à soberania nacional. Ele critica as repetidas viagens de Eduardo aos Estados Unidos e a defesa de retaliações estrangeiras ao Brasil. “(Eduardo está) tentando influenciar o governo americano contra os interesses nacionais. A Câmara entrar nessa é comprar um conflito institucional”, afirmou Lindbergh.

Enquanto Lindbergh lidera a resistência contra a nomeação do bolsonarista, Hugo Motta desempenha o papel de árbitro na disputa. Como presidente da Câmara, ele tem a missão de definir os comandos das comissões, seguindo o critério da proporcionalidade partidária. O parlamentar paraibano já sinalizou que o PL, por deter a maior bancada da Casa, tem o direito de escolher duas comissões de sua preferência, o que favorece a indicação de Eduardo Bolsonaro.

Resistência e negociações

Nesta terça-feira (11), líderes partidários do centro e até aliados do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, tentaram convencer os bolsonaristas a cederem a presidência da comissão ou indicarem outro nome em substituição a Eduardo Bolsonaro. No entanto, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), já comunicou a Hugo Motta que a legenda não abrirá mão da nomeação.

A Comissão de Relações Exteriores tem papel crucial na interlocução diplomática e consular do Brasil com governos e entidades internacionais. No atual contexto, o colegiado se torna ainda mais estratégico para a direita, que busca estreitar laços com Donald Trump e seus aliados nos Estados Unidos. Eduardo Bolsonaro, inclusive, já se movimenta nessa direção. Nos últimos meses, ele esteve em Washington, onde liderou uma campanha contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O grupo bolsonarista também tem impulsionado nas redes sociais a narrativa de que a agência americana USAid teria interferido na eleição presidencial brasileira de 2022, durante o governo Joe Biden, ao financiar ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a desinformação. A presidência do colegiado daria a Eduardo Bolsonaro um espaço institucional para reforçar essa tese e pressionar o governo brasileiro.

PT reage e busca alternativas

Diante da ofensiva do PL para garantir o comando da Comissão de Relações Exteriores, o PT tenta articular uma alternativa, seja assumindo a presidência da comissão ou garantindo que um partido de centro ocupe o posto. Além disso, a legenda de Lula entrou com um pedido no STF para a apreensão do passaporte de Eduardo Bolsonaro.

De acordo com as regras da Casa, o PL tem direito às duas primeiras escolhas de comissões. As opções prioritárias são a Comissão de Relações Exteriores e a Comissão de Saúde, esta última considerada estratégica devido ao volume de verbas destinadas às emendas parlamentares para prefeituras. Caso o partido de Bolsonaro insista na Comissão de Relações Exteriores, o PT pretende priorizar a Comissão de Educação.

O desfecho da disputa está nas mãos de Hugo Motta, que, apesar das pressões, já sinalizou que seguirá o critério da proporcionalidade partidária. “Eu não acredito que haja razão para uma crise (com a nomeação de Eduardo Bolsonaro), até porque essa distribuição pelas bancadas é uma praxe regimental”, declarou o presidente da Câmara. Assim, o papel do paraibano será decisivo para o desfecho desse embate que envolve política externa e o futuro das relações internacionais do Brasil.

Com Suetoni Souto Maior