O longa-metragem “Marinheiro das Montanhas”, de Karim Aïnouz, teve hoje, dia 9 de junho, a sua primeira exibição mundial, no Festival de Cannes, como filme convidado da mostra Sessão Especial. Karim abriu a sessão com um discurso em que chamava a atenção para o grave estado em que o Brasil se encontra por conta das ações do governo federal.
“Não posso deixar de lembrar que, enquanto estou aqui celebrando com vocês, milhares de brasileiros estão morrendo por absoluto descaso deste governo fascista na condução da pandemia. A democracia brasileira respira por aparelhos. Parece que falar do Brasil hoje é falar de um ente querido que está entre a vida e a morte. O mundo precisa agir urgentemente para frear este governo cuja maior especialidade é destruir e matar deliberadamente. Além das mais de 500 mil mortes com a covid, muitas outras vidas foram perdidas por responsabilidade direta desta necropolítica. Como acontece em governos autoritários, os artistas, a ciência e as universidades públicas foram os primeiros a ser atingidos. A produção cultural em todo o país está quase totalmente paralisada, em um ato calculado de destruição imposto pelo governo federal. Hoje, o cinema brasileiro e toda a sua imensa cadeia produtiva enfrentam o desafio de sobreviver neste cenário”, disse o diretor após uma emocionada reação da plateia, que aplaudiu o filme por 15 minutos.
Em vídeo enviado em primeira mão para Marie Claire, o diretor comentou a emoção da exibição e do discurso: “Foi uma emoção gigante ter feito o filme, ter tido a recepção que teve. Teve manifestação contra o que está acontecendo no Brasil, teve bandeira da Argélia, gente dançando, gente aplaudindo. O que podia esperar mais de um filme do que esse tipo de recepção? Foi um calor maior que o de Fortaleza.”
A trajetória de Karim é marcada pelo Festival de Cannes, responsável por sua estreia com ‘Madame Satã’ (2002) e pelas aplaudidas sessões de ‘O Abismo Prateado’ (2011), na Quinzena dos Realizadores, e ‘A Vida Invisível’ (2019), vencedor de Melhor Filme na mostra Un Certain Regard. É simbólico que o novo projeto – assumidamente autobiográfico – tenha seu lançamento no festival.
Karim Aïnouz comenta fala de Spike Lee
No evento de abertura, que aconteceu na última terça (6), Karim esteve presente no discurso de Spike Lee, em que chamou Jair Bolsonaro, Vladimir Putin e Donald Trump de “gângsters”.
Após a grande repercussão do assunto nas redes, Karim comentou sobre a afirmação de Lee para Marie Claire. “A fala do Spike Lee foi absolutamente lúcida. O mundo vive hoje um momento muito complicado. Fomos sequestrados por gângsters. O Que vivemos no Brasil hoje faz parte dessa onda. E para o bem do mundo temos que acabar com isso. Precisamos voltar a sonhar com um mundo mais justo. Nos reapropriarmos do futuro. Viver em um mundo em que eles sejam só um eco distante sem impacto e colocarmos na centralidade do debate o que importa, a cultura, o cinema, a vida. Viva Davi kopenawa! Viva Ailton Krenak”, disse ele.
Fonte: Polêmica Paraíba com marieclaire
Créditos: Polêmica Paraíba