O pai de Renan Ribeiro Cardoso, de 22 anos, primeira pessoa a morrer por falta de leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com Covid-19 na cidade de São Paulo, espera por uma internação desde a madrugada desta quarta-feira (24).
Segundo a família, Valmírio Lopes Cardoso, 49 anos, está com Covid-19 e internado no Hospital de Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, esperando por uma vaga de UTI.
Seu Miro, como é conhecido, foi levado para o hospital na noite desta terça-feira (23), quando começou a passar mal, e sentir falta de ar.
“Ele se sentiu mal e foi levado para o hospital. Até as 4h ele não tinha conseguido vaga na UTI. Ele está internado no Hospital Tiradentes”, disse Érica Cardoso, prima de Renan, que passou a morar com os pais dele para ajudar a família.
Segundo Maria de Jesus, o marido estava em isolamento dentro de casa. “Ele estava isolado no quarto, ele não fala para não ficar cansado, ele está isoladinho, mas eu tenho medo pelo meu marido”, disse ela ao G1, antes da internação do marido.
Em maio do ano passado, ela completou 25 anos de casada com seu Miro. “Renan queria fazer uma festa para nós em maio do ano passado, mas adiamos por causa da pandemia. A festa foi remarcada para 14 de março, mas foi novamente adiada quando Renan testou positivo para Covid-19”, disse Maria de Jesus.
Maria fez um relato emocionante ao podcast o Assunto sobre a morte do filho, que não chegou a receber atendimento médico a tempo (veja abaixo).
A enfermeira Andreza Sécolo, que recebeu o pedido de vaga para Renan ser transferido para uma vaga de UTI relatou como foi a procura por leito para o jovem: “Assim que liberou a vaga, nós ligamos na unidade de São Mateus em que ele estava. E aí nós fomos informados que ele tinha acabado de morrer”.
Após a publicação desta reportagem, segundo a família, o nome de Valmírio foi incluído na fila do sistema Cross.
Falta de leito de UTI
Renan foi o primeiro paciente de Covid-19 a morrer sem receber atendimento necessário em uma UTI. A informação foi confirmada na quinta-feira (18) pelo prefeito Bruno Covas (PSDB).
Ele chegou à unidade em estado grave e foi atendido. Segundo a prefeitura, foi feito um pedido de leito no Sistema Cross, que regula vagas do SUS no estado, mas não foi disponibilizado a tempo.
Em entrevista à TV Globo na segunda-feira (15), a mãe de Renan, Maria de Jesus Ribeiro Andrade, disse que chegou a falar com o filho por uma videochamada logo após a confirmação do diagnóstico.
“Não deu tempo por falta de socorro. Por falta de oxigênio, o meu filho não está aqui.”
Segundo o relatório médico, Renan deu entrada na UPA na noite de 11 de março, com dificuldade de respirar.
Foram feitos exames, e ele foi mantido em observação. No dia 12, a unidade solicitou vaga para o Cross, que foi liberado às 17h38 do dia 13. Renan morreu às 17h19 do mesmo dia.
De acordo com o documento, Renan teve uma piora no “quadro respiratório” e, por não haver ventiladores disponíveis, o pedido ao Cross foi atualizado como “urgência”. Ainda na tarde do dia 13, Renan foi intubado, mas teve parada cardiorrespiratória.
Um grupo de motociclistas fez uma corrente de oração em frente à casa de Renan. Érica Cardoso, prima de Renan, conta que ele ficou em uma cadeira de rodas, porque não tinha leito, nem maca para que ele se acomodasse.
Maria de Jesus fez um apelo a todos. “Gente, não deixem mais nenhuma mãe, nenhum pai sofrer o que eu estou sofrendo pela perda do meu filho.”
Fonte: G1
Créditos: Polêmica Paraíba