Um padre que atua na região do Seridó do Rio Grande do Norte teve uma de suas mensagens viralizada na internet, após afirmar que o Instituto Federal do Rio Grande do Norte só teria “feministas, abortistas, gente de esquerda, da ideologia de gênero”. A declaração gerou polêmica e uma resposta do IFRN, por meio de nota, garantindo que há liberdade religiosa na instituição de ensino.
“Uma coisa é você pendurar uma cruz no pescoço e estudar em Currais Novos, ou em Parelhas, no IFRN, onde só tem feministas, abortistas, gente da esquerda, gente do contra, onde só tem gente da ideologia de gênero. Eu quero ver você usando camiseta religiosa. Quero ver você usando crucifixo lá. Quero ver você andando com terço no bolso lá”, afirmou o padre Stanley Lopes Dantas, na ocasião.
Na homilia gravada durante uma missa, o padre de Jardim do Seridó desafiava os fieis da igreja Católica a demonstrarem sua fé através de camisetas, crucifixos e outros símbolos religiosos não apenas na igreja, mas em outros espaços da sociedade. De acordo com o religioso, a mensagem foi realizada em novembro de 2020, mas somente dois meses depois o trecho começou a ser compartilhado nas redes sociais.
“Foi um trecho de 29 segundos tirado de contexto. Minhas homilias são mais longas que as de outros padres”, disse o sacerdote.
Em nota, o padre afirmou que houve um mal entendido e pediu desculpas aos diretores, professores, servidores e alunos do IFRN que “no seu todo e em suas individualidades, abrangendo a todos quantos sentiram-se ultrajados”.
Em outra nota, o diretor do Campus Avançado de Parelhas, Ramon Viana de Sousa, afirmou que o IFRN faz parte da rede de educação pública e é uma instituição laica. “Desta forma, os mesmos (IFs) não são encarregados de promover educação religiosa de nenhum tipo. O que cabe à nossa escola, enquanto promotora de educação, é mostrar, através das disciplinas de História, Geografia, Literatura, Filosofia e Sociologia, o tema religioso, sem fazer referência para sustentação de valores, visões de mundo comportamentos ou atitudes. Mas garantindo a diversidade de pensamento e a discussão crítica dos temas”, diz.
O diretor ainda afirmou que, dentro do Instituto Federal, alunos e funcionários são livres para se expressar, podendo carregar cruzes no peito e outros símbolos da sua religião, porque é um direito constitucional. “Mas nossa instituição jamais poderá ensinar a respeito de religião e de crenças espirituais porque essa não é a função da escola. O ensino desses conhecimentos religiosos é função da Igreja Católica e das demais religiões, para cativar os jovens e ensiná-los sobre as doutrinas religiosas que eles ‘devem’ seguir”, disse ainda na nota.
O próprio diretor afirmou que é católico praticante e ministro da Eucaristia, que sustenta seus valores e visões de mundo segundo a minha religião, no entanto, considera que não cabe ensinar sua religião e suas crenças dentro da escola.
“Cada pessoa é livre para ter um ponto de vista e ter as suas defesas a respeito dos temas polêmicos que surgem na sociedade, e isso é um direito que jamais, dentro do nosso Campus, será negado ou violado. O papel da nossa instituição é não conceder valores obrigatórios aos respectivos temas. Entretanto, a nossa escola tem a função, muito significativa dentro da sociedade, que é o de formar cidadãos críticos e com pensamento autônomo”, disse o diretor.
“Lembro que meu interesse honesto e sincero, presente no todo daquela homilia de quase 2 meses passados, pretendeu tão somente exortar aos que desejassem viver sua fé cristã católica, testemunhando-a com alegria em todos os ambientes do tecido social. Longe de qualquer atitude de desrespeito ou um descabido convite à violência e confrontos, busquei e buscarei evidenciar o baluarte da Fé no certame que nos é proposto naquilo que é próprio de minha vocação e é concernente à relevância da missão que me foi confiada”, afirmou o padre.
Fonte: G1
Créditos: G1