Muitos de nós sempre tivemos um sentimento dúbio com relação ao cantor e compositor Roberto Carlos. Por um lado, sempre foi o grande artista, cantor de primeira grandeza, afinado, com bela voz. Além disso, um compositor mágico, capaz de arrebatar multidões com seu romantismo imbatível, sua capacidade de falar tanto para os públicos mais exigentes quanto para o povo mais simples.
Roberto Carlos chega aos 80 anos nesta segunda-feira, 19 de abril, com marcas incontestáveis. Foi um dos maiores vendedores de disco do Brasil e do mundo, tem inúmeras canções entre os grandes sucessos da nossa música, fez espetáculos inesquecíveis, isso tudo sem contar o seu indefectível especial de fim de ano.
Assim como Pelé no futebol, foi o único artista popular brasileiro a ostentar o título natural de “rei”. E, assim como Pelé, sempre esteve às voltas com o malfadado regime militar que assombrou nosso país durante, coincidentemente, o auge da carreira dos dois.
Sua relação próxima com os militares nunca foi segredo pra ninguém e muito menos negada por ele. A lista de feitos do “rei” é enorme, muito maior e mais próxima, diga-se de passagem, do que os do rei do futebol:
Cantou nas Olimpíadas do Exército em 1971 e 1972 além de vários outros eventos que homenageavam o golpe.
Recebeu, em 1973, das mãos do general Humberto de Souza Mello, a Medalha do Pacificador, honraria concedida a quem contribui com o Exército.
Recebeu do general Ernesto Geisel a Ordem do Rio Branco, em 1976.
A partir do mesmo ano, passou a ter um cargo no Conselho Nacional do Direito Autoral. Ficou por lá durante 3 anos.
Durante o governo do general João Baptista Figueiredo, em 1979, conseguiu a concessão para criar a Rádio Terra, em Belo Horizonte, que manteve durante 15 anos.
Como cereja do bolo, em 1975, durante apresentação em Viña del Mar, no Chile, fez um agradecimento ao ditador chileno Augusto Pinochet, que estava na plateia. Veja abaixo:
Passou o período democrático sem se meter em política, apenas gravando seus discos, cada vez mais previsíveis e enfadonhos, mas mesmo assim, com grande vendagem ainda.
Em 2019, voltou à carga e resolveu homenagear, durante show em Curitiba, Sérgio Moro ex-juiz e ex-ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido), o único presidente desde então que faz questão de exaltar a ditadura.
Separar, portanto, o artista do homem, neste momento, é uma tarefa um tanto árdua e deveras altruísta.
Até porque, um se beneficiou por demais do outro e vice e versa.
Fonte: Fórum
Créditos: Polêmica Paraíba